Deputado sobre pacto de R$ 1,1 bi da Cemig: 'Guarda-chuva de terceirização'

As circunstâncias de um contrato de R$ 1,1 bilhão que envolve a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e duas empresas de tecnologia continuam a intrigar deputados estaduais. Nesta segunda-feira (8/11), os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a gestão da estatal tomaram o depoimento de Antônio Guilherme Noronha Luz, um dos fundadores da AeC, que presta serviços de call center, e é uma das pontas do convênio. A companhia foi sublocada pela IBM, multinacional do setor, que "terceirizou" o atendimento telefônico.
A AeC, de longa trajetória na companhia de luz, perdeu, em 2020, uma licitação vencida pela Audac. O pregão contemplava o controle do setor responsável pelas ligações dos consumidores. Pouco tempo depois, porém, o resultado da concorrência foi deixado de lado, e a IBM acabou chamada para assumir um contrato de escopo maior - que contempla o call center. A tarefa, então, foi repassada à AeC.
A situação foi alvo de críticas do deputado estadual Sávio Souza Cruz (MDB), relator da CPI da Cemig.
"Já tinha visto que ganhou e não levou, mas perdeu e levou foi inaugurado pela AeC no contrato com a Cemig, agora com intermediação da IBM, que se prestou ao papel de ser guarda-chuva de terceirização onde pode se pendurar qualquer coisa", disse ele.
O imbróglio gerou a insatisfação da Audac, que acionou a Justiça em busca de ressarcimento financeiro. "Ela (a Audac) simplesmente recebeu a notícia: 'licitamos, assinamos o contrato, mas não queremos mais'", criticou Sávio.
Além de Noronha Luz, a AeC foi fundada por Cássio Azevedo, que compôs o secretariado do governador Romeu Zema (Novo). Ele morreu neste ano, em virtude de um câncer. O depoente desta segunda-feira defendeu a sua empresa e afirmou que o acordo para controlar o call center foi firmado junto à IBM, sem qualquer participação da estatal energética.
Segundo Noronha Luz, o convênio não é totalmente favorável à AeC. "O contrato da IBM mata o meu trabalho. O contrato da IBM é o atendimento humano, indo para a robotização. Meu negócio é atendimento humano. Tenho 35 mil funcionários", falou.
O sócio da AeC contou, ainda, não ter participado de Processo de Manifestação de Interesse (PMI) para ter o serviço telefônico. Para o sub-relator da CPI, Professor Cleiton (PSB), a declaração dá indícios de direcionamento.
"Ele esclareceu que não houve publicidade. Se não houve publicidade, consequentemente há um contrato totalmente direcionado à IBM".
Os parlamentares se programaram para interrogar, hoje, dois dos sete executivos da AeC chamados para testemunhar. A empresa, no entanto, entrou em contato pedindo para que a programação fosse mudada. A ideia de enviar Noronha Luz passava por disponibilizar, aos deputados, alguém com real capacidade de prestar informações sobre o convênio.
Em nota enviada ao Estado de Minas , a Cemig reforçou que não tem vínculo direto com a AeC. Segundo a companhia, a assinatura de contrato de amplo escopo de tecnologia com a IBM vai proporcionar economia de R$ 500 milhões em dez anos. A IBM também foi procurada, mas ainda não se manifestou. Se o fizer, este texto será atualizado.
Doações ao Novo são questionadas
Sávio Souza Cruz questionou Antônio Noronha Luz sobre doações eleitorais feitas por ele em 2018. Ele enviou R$ 50 mil à direção do Partido Novo e outros R$ 5 mil à campanha de Zema ao Palácio Tiradentes. Cássio Azevedo fez depósitos nas mesmas cifras.
O governista Zé Guilherme (PP) defendeu a AeC e minimizou as doações. "Ele doou para o PSDB, para o PT e para todos os partidos que ganharam o governo de Minas".
Nos dados disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as doações feitas por Noronha Luz e Cássio Azevedo no pleito de três anos atrás, há repasses direcionados a outros candidatos.
Citado recorrentemente por deputados nesta segunda, o Novo foi acionado por meio de seu diretório estadual. A representação da legenda optou por não comentar o tema neste momento.
O que diz a Cemig sobre as relações com AeC e IBM:
A Cemig esclarece que não possui contrato com a AeC. Isso ocorreu até fevereiro deste ano, quando 14 fornecedores distintos ainda prestavam serviços de atendimento ao cliente à Cemig e cuidavam de diferentes canais (call center, Whatsapp, site, agências físicas, totens e etc.).A AeC era responsável apenas pelo call center.
Atualmente, o atendimento na Cemig é feito por meio do Projeto Cliente , que tem como escopo a integração de todos os canais de atendimento em uma única plataforma (omnichannel), com o uso de inteligência artificial para um atendimento rápido e fácil.A IBM é a parceira estratégica da Cemig nesse projeto.
O Projeto Cliente remunera por resolução no atendimento, não por tempo de atendimento. Isso beneficia os clientes e reduz custos. Na parceria com a IBM, é prevista uma economia de cerca de R$ 500 milhões em 10 anos. O programa estará completamente implantado em breve.