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Idosos com voto facultativo garantem presença nas eleições do Recife e almejam mudanças sociais

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Nestas eleições municipais, idosos com 70 anos ou mais representam 7,7% do eleitorado recifense, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). São pouco mais de 89 mil pessoas cuja faixa etária torna o voto facultativo, como garante o artigo 14, parágrafo 1º da Constituição Federal. Além disso, o contexto de pandemia também pode servir como um dos grandes impulsionadores para que haja uma redução participativa desse público na escolha dos/as candidatos/as, no próximo domingo. Mas, mesmo em meio a esse cenário, há os que fazem questão de participar das eleições, a exemplo de dona Marina, 72, Riselda, 70, e seu Narcizo, 82, que enxergam no voto a possibilidade de contribuir com melhorias sociais. 
 
Moradora do bairro de Passarinho, Zona Norte do Recife, dona Marina José dos Santos, 72 anos, tem na conta uma década como integrante do Grupo Espaço Mulher, articulação que luta por melhorias no bairro em que reside. Portanto, o contato com a luta em busca de políticas públicas, direitos básicos para a periferia é uma constante em sua rotina, fator que lhe impulsiona a perceber a importância das eleições. Mãe de oito filhos, ela também enxerga na política o caminho esperançoso para mudar a realidade de sua família. 
 
"Vou Votar pra ver se melhoram as coisas, tá tudo tão difícil. Eu tenho oito filhos e vou votar na esperança de também mudar o futuro deles, né? Alguns estão desempregados e vendem pipoca, picolé na rua", contou. Ao falar da renda que "quebra o galho" dentro de casa ela continua: "O único dinheiro que eu ganho é meu salariozinho". Eleitora assídua, Marina diz que mesmo em meio a pandemia não deixará de exercer seu papel de cidadã, mas que tomará todos os cuidados necessários. "Eu vou cedo e vou com minha máscara para não ter problemas", afirmou. 
 
Também comprometida com os cuidados para evitar o contágio da Covid-19 no dia das eleições, Riselda Maria de Moura, 70 anos, moradora do bairro de Areias, Zona Oeste da capital pernambucana, afirma que enquanto puder, a votação continuará sendo um hábito. "Vou votar até os 100!", exclamou. "Eu gosto de votar e nunca deixei de ir para nenhuma eleição. Passei 33 anos morando no Rio de Janeiro e votava lá, quando retornei pra Recife transferi meu voto e permaneci votando aqui", disse. Com tudo programado, Riselda explica como será a dinâmica para o próximo dia 15. “Vou sair de casa às 7h. Coloco a máscara, levo álcool em gel e vou-me embora". 
 
Para Narcizo Cechinel, 82 anos, morador do bairro de Casa Amarela, também Zona Norte do Recife, votar é uma questão de responsabilidade coletiva. "Eu tenho que tomar uma posição diante do que acontece e do que pode vir a acontecer na nossa sociedade a partir da atuação de um/a político/a, então tenho que fazer parte disso. Se não for por mim é por quem está comigo ou vem depois de mim", destacou. "Afinal a gente forma um conjunto de pessoas que lutam por direitos". Com o local de votação próximo à sua casa, ele expõe sua confiança: "Estou totalmente tranquilo, o local da votação é aqui perto e seguirei todos os cuidados sanitários". 
 
Médico Infectologista do Serviço de Doenças Infecto-parasitárias (DIP) do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), Tiago Ferraz reconhece a importância das eleições e afirma que para os idosos acima de 70 anos que optam por participar é preciso cuidado redobrado, tendo em vista que fazem parte do grupo de risco do coronavírus. "É importante que votem no horário preferencial, não deixem de usar a máscara, higienizar bem as mãos, manter o distanciamento e caso percebam que a seção eleitoral está lotada é indicado que retornem em outro momento", informou.
 
Dando o tom
 
O percentual de eleitores idosos vem aumentando a cada ano, é o que apontam os dados do TSE.  Em 2016, pessoas com 70 anos ou mais correspondiam a 5% do eleitorado, em 2018 eram 6,3% e em 2020 são 7,7%, um aumento tímido, mas que desempenha importante papel no cenário político e cientes dessa importância muito deles se mantêm presentes. De acordo com a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscilla Lapa, essa é uma geração que já atravessou diversos momentos históricos da democracia, vivenciando vários ciclos eleitorais, experiência que também os motivam a querer continuar votando.
 
"Eu acho que o que leva esse segmento do eleitorado a comparecer é justamente o fato de já terem acompanhado toda essa movimentação política do país e o ciclo das eleições de 2018 que trouxe um novo cenário político ideológico para o Brasil, trazendo, também, o cidadão para o debate", explicou. "Então o histórico que o eleitorado de mais idade tem faz com que ele tenha o desejo de dizer ‘olha eu já vi esse filme’. Portanto, esses fatores fazem com que eles participem do processo para darem seu tom", finalizou.