Politica

Editorial: Aids se alastra entre os jovens

De acordo com o programa das Nações Unidas para combater a doença (Unaids), o Brasil registra mais de 40% das novas infecções pelo HIV na América Latina

Apesar do caótico sistema público de saúde do Brasil, há providências que não dependem apenas dos médicos ou dos hospitais. Elas passam pelo comportamento dos indivíduos. Entre 2010 e 2015, o brasileiro negligenciou as medidas preventivas contra a Aids. No período, o número de infectados passou de 700 para 830 mil, com 15 mil mortes por ano. De acordo com o programa das Nações Unidas para combater a doença (Unaids), o Brasil registra mais de 40% das novas infecções pelo HIV na América Latina. O país caminha e na contramão da média mundial, que, embora modesta, apresentou queda de 2,2 milhões, em 2010, para 2,1 milhões no ano passado. Hoje, no planeta, são 36,7 milhões com a doença. O número anual de óbitos chega a 1,1 milhão.

Na população de 15 a 24 anos, a situação é mais dramática. Em 2004, a taxa detecção do vírus era de 9,5 casos em cada 100 mil habitantes, ou seja, cerca de 3,4 mil casos. Em 2014, o número passou para 4,6 mil, o que equivale a uma taxa de detecção de 13,4 casos em 100 mil habitantes, um aumento de 41% da taxa. Os jovens se recusam a usar preservativos e se expõem, desnecessariamente, às doenças sexualmente transmissíveis, entre elas, o HIV. Apesar da resistência e do diagnóstico tardio, 74% dos soropositivos buscaram algum serviço de saúde, mas só 57% estão em tratamento.

Segundo especialistas, os jovens não temem ser infectados, cientes de que hoje há drogas que podem conter a doença e lhes garantir vida normal. Além disso, sentem-se sempre saudáveis e, assim, não buscam com regularidade os serviços de saúde. Mas não é bem assim. Os riscos ainda são muitos e os danos causados pelo HIV não deixaram de existir mesmo com os avanços alcançados na formulação de novos medicamentos. Uma infecção oportunista pode levar qualquer um à morte, evitável por meio de medidas preventivas. Entre elas, o sexo seguro e o não compartilhamento de seringas e outros instrumentos usados por quem é dependente químico.

Às vésperas do Dia Mundial de Luta contra a Aids, lembrado ontem, o Ministério da Saúde e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançaram a campanha “Nós podemos construir um futuro sem Aids”, que objetiva estimular o diagnóstico precoce e o tratamento. A iniciativa terá o apoio de 11 mil paróquias brasileiras e envolverá milhares de voluntários que vão motivar a testagem e buscar o acolhimento dos soropositivos. Além da imprudência dos jovens, o Brasil ainda tem parcela da população que sabe ter contraído o vírus, mas se recusa a buscar o tratamento.

O governo brasileiro investiu apenas 6% do orçamento destinado às ações de prevenção. Hoje, dos 830 mil doentes, 425 mil (55%) receberiam terapia, segundo a Unaids. Os dados organizados pelo Ministério da Saúde, sugerem que é preciso retomar as campanhas educativas mais agressivas, para que, principalmente, a juventude volte a ter o comportamento de adolescentes e adultos do início dos anos 1980, quando a Aids eclodiu como epidemia mundial e levou homens e mulheres a mudarem de comportamento.

Não só a igreja, mas estabelecimentos de ensino e outras instituições têm que somar aos esforços e dar sua contribuição para que o país possa reduzir os casos de infecções. Na família, é preciso que pais e responsáveis orientem os filhos adolescentes sobre a necessidade de se precaverem. Sem essa combinação de forças e de educação, o Brasil tende a ser o laterninha na luta contra doenças que fragilizam os cidadãos e compromete o próprio desenvolvimento do país.

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