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José Carlos L. Poroca: Come prima
Com ou sem continências, precisamos dar um return e começar tudo de novo, para voltar ao tempo em que se dizia que o Brasil era o país do futuro
Por José Carlos L. Poroca
Executivo do segmento Shopping Centers
Com dificuldade e paciência, consegui adquirir Vida e Destino, de Vassili Grossman. À minha disposição, de todas as cores, centenas de exemplares de Jojo Moyes, Augusto Cury, Pe. Fábio de Melo, Kiera Cass (?) e outros chamados de “campeões de vendas”. Nada contra. Insistente, fui à cata do livraço do russo, de quase 1.000 páginas. O “livraço” não é pela quantidade de páginas; é, principalmente, pela sua qualidade. Ficou cerca de vinte anos proibido na antiga União Soviética. Foi publicado inicialmente na Europa, cujos originais foram trazidos clandestinamente para a Áustria. Quando saiu a edição russa, Grossman já havia falecido.
Como o italiano Primo Levi, Grossman era judeu e químico. O primeiro, viveu o horror em campo nazista; o segundo, nascido na atual Ucrânia, sofreu vinte anos os horrores da política autoritária do ditador Stalin. Aliás, não se sabe quem mandou matar mais gente: o russo Stalin ou o chinês Mao. Estamos falando de dezenas de milhões. Sem afirmar, o chinês deve levar o “ouro’. Estamos falando de personagens do Século 20, que, além de sequelas, deixaram ensinamentos para outros déspotas que ainda estão aí, neste século, em alguns cantos do mundo.
O título original deste texto não possui nenhum vínculo direto com a obra de Vassili Grossman. Possui relação com a música de Domenico Modugno, regravada ‘n’ vezes, inclusive por Caetano Veloso, em interpretação repaginada, especial, sem perda de brilho. Mal conheço a língua pátria e muito menos a italiana. Mas sei que “come prima” significa ‘como antes’. A letra tem viés romântico, como declaração de amor entre dois seres. Mas pode ser adaptada como uma declaração de um brasileiro para sua pátria.
E é sobre pátria que desejo comentar. Com ou sem continências, precisamos dar um return e começar tudo de novo, para voltar ao tempo em que se dizia que o Brasil era o país do futuro. O replay que a nação deseja, contempla poucas cenas. Chegamos num ponto em que brasileiros que têm acesso a informações, estão dizendo para si e para outros: estar ao rubro. Trata-se de expressão portuguesa que significa estar no limite, está a ponto de estourar. Quando vejo o que o país inteiro está vendo, outra expressão que me vem à cabeça é estar a brocha, ou seja, estou aflito. O comboio (trem) não anda e os passageiros estão todos a ver montras (vitrines). Só ver.