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Alírio Moraes Filho: como gerir a paixão?
A mera objetividade, definitivamente, não cabe no universo do futebol. O que o futebol exige é paixão
Por Alírio Moraes Filho
Presidente do Santa Cruz Futebol Clube
O futebol contemporâneo exige uma gestão esportiva capaz de realizar investimentos com o monitoramento constante dos resultados. Assim, superando os personalismos que caracterizam o futebol brasileiro, será possível dialogar com o mercado esportivo global”.
Sim, poderia utilizar essa linguagem para abordar qual a minha percepção na data do 102º aniversário do clube. Não estaria mentindo. Todavia, não estaria expressando toda a verdade que sinto hoje, pouco mais de um ano depois de assumir a presidência do time que aprendi a amar desde a infância.
Por mais que treinadores ou comentaristas da mídia adotem o vocabulário técnico e pretensamente distanciado para analisar o resultado de uma partida ou mesmo, estou certo que a mera objetividade, definitivamente, não cabe no universo do futebol. O que o futebol exige é paixão.
Estou convicto: o peso da história, o amor que cada torcedor deposita e a intensidade das emoções envolvidas a cada partida, por mais insignificante que seja, tornam impossível mensurar a tarefa de quem assume a responsabilidade de estar à frente do Santa Cruz apenas pelo viés da gestão técnica. Isto não basta.
O compromisso que o Santa Cruz requer é mais do que profissional. A dedicação é definida pela paixão transmitida pelo pai não como um traço genético, mas como um componente de caráter, um valor humano e moral. Ser Santa Cruz é assumir uma posição no mundo, é reconhecer que somos todos iguais, mesmo com tantos construindo as desigualdades que nos ameaçam todos os dias.
Sem esta certeza - e, por que não, sem essa fé - seria mais difícil levantar todos os dias para concretizar uma obsessão que, há poucos anos, parecia uma utopia: construir o futuro do Santa Cruz.
Neste aniversário de 102 anos, a melhor forma de celebrar o passado é, com a mesma paixão daqueles que nos precederam, perseguir o futuro junto de tantos outros que sonham alto, que acordam todos os dias desejando que o Santa Cruz ocupe um lugar cada vez maior não apenas em suas vidas, não apenas no universo das coisas do futebol, mas em toda a sociedade.
E a construção desse futuro acontecerá. Ou melhor, já está acontecendo quando conciliamos aquilo que parece um paradoxo: a dedicação apaixonada dando os primeiros passos para uma gestão técnica e profissionalizada. O futuro se torna presente quando qualquer torcedor critica, elogia, diverge, contribui, protesta e comemora nas ferramentas de comunicação criadas pelo clube, sem intermediário, sem donos da verdade.
No Santa Cruz, o futuro deixa de ser algo distante ou inalcançável. E se tornará presente passarmos a conviver com a sustentabilidade financeira, quando todos os setores do clube tiverem como principal foco atender, acolher e respeitar o torcedor. Afinal, todos nós que ali estamos, somos iguais a qualquer outro torcedor. Apenas enfrentamos o desafio de gerir o objeto de nosso amor.