O governo de Donald Trump "não permitirá" que a China "coloque em perigo" a operação do canal do Panamá, advertiu nesta terça-feira (8), na capital panamenha, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, o que foi rechaçado por Pequim.
O chefe do Pentágono é o segundo alto funcionário americano a visitar o Panamá desde que Trump assumiu o poder em janeiro e prometeu "recuperar" a via interoceânica estratégica construída pelos Estados Unidos, sob o argumento de que está sob influência da China.
"Hoje o canal do Panamá enfrenta novas ameaças. Os Estados Unidos não permitirão que a China comunista nem qualquer outro país coloquem em perigo a operação nem a integridade do canal", disse Hegseth em um discurso em uma base naval, na entrada da via pelo Pacífico.
Trump inclusive não descartou o uso da força para retomar o controle da rota por onde passa cerca de 5% do comércio marítimo mundial, entregue ao Panamá pelos Estados Unidos em 1999, em virtude de tratados bilaterais.
Hegseth, que se reuniu nesta terça-feira com o presidente José Raúl Mulino, assegurou que ambos os países reforçarão a cooperação para manter "o canal seguro" e afastá-lo da "influência" chinesa.
"Quero ser muito claro. A China não construiu este canal, não opera este canal. E a China não armará este canal", afirmou.
Em reiteradas ocasiões, Mulino negou a interferência de Pequim na operação da rota, mas o secretário de Defesa norte-americano insistiu em que "empresas chinesas continuam tendo controle sobre a infraestrutura crítica na zona do canal".
"Isso dá à China a possibilidade de realizar atividades de vigilância" e "faz com que Panamá e Estados Unidos estejam menos seguros", acrescentou.
Por sua vez, a embaixada de Pequim no Panamá classificou as palavras de Hegseth de irresponsáveis e sem fundamentos, garantiu que a China "nunca interferiu" na gestão do canal, e pediu a Washington pare com a "chantagem" e a "espoliação" contra este país da América Central.
'Trump, tire suas mãos do Panamá'
O chefe do Pentágono visitou as eclusas do canal acompanhado pelo administrador do Canal, Ricaurte Vásquez, uma base naval em Colón (Caribe) e, na quarta-feira, participará de uma conferência de segurança com funcionários de governos centro-americanos.
Washington considera uma "ameaça" à segurança nacional e regional o fato de a empresa Hutchison Holdings, de Hong Kong, operar os portos de Balboa (Pacífico) e Cristóbal (Atlântico), em ambas as entradas do canal.
Na segunda-feira, pouco antes da chegada de Hegseth, a Controladoria do Panamá divulgou o resultado de uma auditoria segundo a qual a subsidiária da empresa chinesa descumpriu o contrato e, entre várias irregularidades, não entregou ao país cerca de 1,2 bilhão de dólares (R$ 7,12 bilhões) que lhe correspondem pela concessão portuária.
Em meio às tensões pelo canal, a Hutchison anunciou em 4 de março que venderia seus portos no Panamá para um consórcio americano. Mas o negócio não foi fechado em 2 de abril, como estava previsto, devido a uma investigação em andamento dos reguladores chineses.
Essa transação foi considerada por Trump como parte do processo para "recuperar" o canal.
A viagem de Hegseth ao Panamá segue a realizada em fevereiro pelo secretário de Estado, Marco Rubio, que pediu ao governo do Panamá medidas concretas para reduzir a presença da China no país.
Durante essa visita, Mulino anunciou que não renovaria o acordo comercial e econômico conhecido como a Faixa e a Rota da Seda, projeto emblemático do governo de Xi Jinping, assinado em 2017 pelo Panamá.
O chefe do Pentágono elogiou nesta terça-feira essa decisão de Mulino: "É um reflexo de quão bem o seu governo entende a ameaça que a China representa".
Enquanto o secretário de Defesa se reunia com Mulino, cerca de 200 pessoas, convocadas por sindicatos e organizações de esquerda, protestavam no centro da cidade contra sua visita.
Os manifestantes agitavam bandeiras panamenhas e queimaram a dos Estados Unidos. Um dos cartazes que carregavam dizia: "Trump, tire suas mãos do Panamá".
Leia a notícia no Diario de Pernambuco