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Presidente cazaque descarta negociação e autoriza polícia a atirar em manifestantes

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O presidente do Cazaquistão, Kassym Jomart Tokayev, rejeitou nesta sexta-feira (7) qualquer negociação e autorizou as forças de segurança a abrirem fogo "sem aviso prévio" para pôr fim aos protestos que abalam o país. 

"Dei a ordem de atirar para matar sem aviso prévio", declarou Tokayev em discurso transmitido pela televisão, acrescentando que "os terroristas continuam danificando propriedades e usando armas contra os cidadãos".

Tokayev rejeitou qualquer negociação e prometeu "eliminar" os "bandidos" que provocaram os distúrbios. Segundo ele, são cerca de "20.000" pessoas, com um "plano claro".

"Que tipo de negociação se pode ter com criminosos, com assassinos? Enfrentamos bandidos armados e treinados (...) Temos que destruí-los, e é o que faremos em pouco tempo", acrescentou.

Ele também agradeceu ao presidente russo, Vladimir Putin, que "respondeu muito rapidamente" ao seu pedido de ajuda e enviou tropas para o país. 

 'Ordem restabelecida'
Pouco antes, Tokayev havia declarado que a ordem constitucional foi amplamente restabelecida no país, após dias de protestos sem precedentes.

"As forças da ordem estão trabalhando duro. A ordem constitucional foi amplamente restabelecida em todas as regiões", disse Tokayev, em um comunicado, acrescentando que as operações de segurança vão continuar "até a destruição total dos militantes".

"Os órgãos locais têm o controle da situação, mas os terroristas sempre usam armas e causam danos aos bens dos cidadãos", continuou o presidente.
 

"No início, foi tudo pacífico, mas depois vozes pacíficas foram suplantadas por apelos à violência feitos pelos provocadores", disse o chefe da administração presidencial, Dauren Abayev, em declarações à agência russa de notícias Ria Novosti nesta sexta-feira. 

Segundo ele, a multidão "era liderada por bandidos e terroristas armados", com os primeiro cometendo saques, e estes últimos,  "ataques", para tomar armas de fogo.

O Ministério do Interior informou que 26 "criminosos armados" morreram, e 18 ficaram feridos. Confirmou também que todos os prédios administrativos foram "liberados e postos sob maior proteção", com 70 postos de controle instalados no país, segundo um comunicado. 

Em Almaty, a capital econômica e onde os confrontos foram mais violentos, "as forças de segurança e as forças militares (...) garantem a ordem pública, a proteção das infraestruturas estratégicas e a limpeza das ruas", acrescentou. 

Tropas russas e de outros países aliados chegaram na quinta-feira (6) a esta ex-república soviética para apoiar o governo. Para controlar a situação, também se impôs um toque de recolher, e um estado de emergência foi declarado. 

Há vários dias, um movimento de protestos varre o país desde o último domingo (2) contra o aumento do preço do gás.

Esta é a maior mobilização em décadas neste país que governado de forma autocrática de 1989 até 2019 por Nursultan Nazarbayev, considerado o mentor do atual presidente.

Os distúrbios, que causaram dezenas de mortos e deixaram mais de mil feridos, de acordo com as autoridades, continuaram em Almaty na quinta-feira, onde foram ouvidos disparos.

Até o momento, 18 membros das forças de segurança morreram, e 748 ficaram feridos. Cerca de 2.300 pessoas foram presas.

 
 Reação internacional 
Nesta sexta, o presidente da França, Emmanuel Macron, e a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediram moderação e o fim da violência no Cazaquistão.

"Os direitos e a segurança dos cidadãos são fundamentais e devem ser garantidos. Faço um apelo pelo fim da violência e pela moderação", declarou Von der Leyen, em uma entrevista coletiva com Macron, que apoiou esta declaração. 

"Estamos ao mesmo tempo preocupados e extremamente vigilantes, e por isso pedimos uma desescalada", insistiu o presidente francês. 

Enquanto isso, a porta-voz do governo alemão, Christiane Hoffmann, expressou sua convicção de que a violência no Cazaquistão "nunca é a resposta adequada". 

"Fazemos um apelo a todas as partes interessadas para que reduzam a escalada e cheguem a uma solução pacífica", acrescentou. 

Hoffman também mencionou sua "grande preocupação" com a eclosão da violência depois que o presidente Tokayev autorizou a polícia a atirar "sem aviso prévio" nos manifestantes.

O presidente chinês, Xi Jinping, elogiou, por sua vez, a repressão mortal adotada pelo governo cazaque, classificando o presidente Tokayev como um líder "muito responsável", informou a imprensa local.

"Você tomou medidas contundentes em um momento crítico e rapidamente acalmou a situação, mostrando sua posição de responsabilidade e de um senso de dever como político, e se mostrando muito responsável para com seu país e seu povo", disse Xi em uma mensagem a Tokayev, conforme noticiado pela agência oficial Xinhua. 

Na véspera, o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian, pediu "moderação" a "todas as partes" envolvidas, incluindo as forças mobilizadas pelos aliados da Organização do Tratado de Segurança Coletiva. Essa aliança político-militar é formada por Cazaquistão, Rússia, Armênia, Belarus, Quirguistão e Tadjiquistão.

Na quinta-feira, a ONU convocou todas as partes no Cazaquistão que "se abstenham de qualquer violência", e os Estados Unidos pediram uma "solução pacífica". 

Washington também advertiu as tropas russas posicionadas no Cazaquistão que não tentem assumir o controle das instituições desta ex-república soviética, garantindo que o mundo estará atento para possíveis violações dos direitos humanos.