Cientistas concluem que cérebro humano cresceu de forma lenta e consistente
Após analisar 94 crânios, cientistas do EUA concluem que, ao longo de 3 milhões de anos, o órgão cresceu de forma lenta e consistente. A pesquisa se contrapõe a teorias que atribuem o fenômeno a episódios específicos, como a descoberta do fogo

Agora, pesquisadores da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, desenvolveram um modelo mostrando que o aumento do cérebro foi gradativo, o que descarta teorias segundo as quais algum acontecimento em particular — como a descoberta do fogo — contribuiu para inflar o volume do órgão e, assim, dar origem ao homem. Existem hipóteses que creditam a determinados fatos o aumento cerebral. O antropólogo Richard Wrangham, da Universidade de Harvard, por exemplo, é um dos mais fortes defensores de que cozinhar os alimentos elevou o consumo energético, dando um empurrão para o crescimento do volume cerebral. “A maximização do consumo de energia através do alimento permitiu que perdêssemos um terço do intestino e sofrêssemos uma enorme expansão do cérebro”, escreveu, no best-seller Pegando fogo — por que cozinhar nos tornou humanos, de 2010.
Contudo, a análise de 94 crânios de 13 espécies, cobrindo um período de quase 3 milhões de anos, mostra que a história pode ter sido diferente. O aumento de volume foi gradual e consistente, começando antes que os primatas ancestrais descobrissem que cozinhar os alimentos facilitaria a ingestão. No estudo, publicado na revista The Proceedings of the Royal Society B, os pesquisadores mostram que, em vez de um fato isolado, a tendência de aumento do volume cerebral foi causada principalmente pela evolução aleatória do órgão de alguns indivíduos dentro de uma espécie. Ao mesmo tempo, novas espécies com cérebro maior começaram a surgir, levando à extinção daquelas com volume inferior.
“O tamanho do cérebro é um dos mais óbvios traços que nos fazem humanos. Isso está relacionado à complexidade cultural, à linguagem, à fabricação de ferramentas e a todas essas outras coisas que nos fazem únicos”, observa Du, agora no pós-doutorado. “Os primeiros hominídeos tinham o cérebro do tamanho de um chimpanzé, e eles aumentaram dramaticamente desde então. Por isso, é importante entender como chegamos lá.”
Pesquisa extensa
Para tentar uma resposta, ele e os colegas compararam dados publicados sobre volume da caveira de 94 fósseis, desde o mais antigo ancestral humano já conhecido, o Australopitecos, de 3,2 milhões de anos, a espécies pré-modernas, como o Homo erectus, de 500 mil anos, quando o cérebro já começava a se assemelhar ao do Homo sapiens. Os cientistas perceberam que, quando as espécies foram agrupadas de acordo com uma descendência comum, o tamanho médio do cérebro aumentou gradualmente ao longo de 3 bilhões de anos.
Esse crescimento, segundo os pesquisadores, foi direcionado principalmente por três fatores. Em primeiro lugar, a evolução de cérebros maiores em indivíduos de uma mesma espécie. Depois, a evolução dos cérebros de algumas espécies e, por fim, a extinção daquelas com volume reduzido. A taxa de crescimento cerebral ao longo da história evolutiva foi mais lenta do que se imaginava. “Em outras palavras, à medida que espécies de hominídeos emergiram e outras decaíram, as populações com cérebros menores foram, lentamente, sendo substituídas por aquelas de cérebros maiores”, diz Du. Ao mesmo tempo, dentro de uma mesma espécie, o volume desse órgão foi se expandindo de forma contínua, a cada geração.
[SAIBAMAIS]