“A agulha e o fio são minhas novas armas", afirma Honorato Bezerra, que está preso há quatro anos em uma penitenciária de São Paulo. Aprendeu a tricotar com um colega de cela e hoje cursa aulas semanais de crochê oferecidas pelo estilista Gustavo Silvestre. O fashion designer oferece duas aulas por semana, de forma voluntária, na penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos, como parte do projeto Ponto Firme, que estreou com uma coleção feita totalmente por presos na São Paulo Fashion Week (SPFW).
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Moda com inclusão e engajamento social
A maior tendência pontada durante a 45ª edição da São Paulo Feshion Week é de que devemos olhar para o outro e dar oportunidades
A coleção apresentou muitas cores em jaquetas, gorros, bolsas, vestidos, moda praia, casacos longos e sapatos, além de uma mistura de estilos e tendências. A peça escolhida para abrir o desfile foi um look de camiseta branca e calça bege em crochê (réplica do uniforme da prisão), trazendo para a passarela uma gama variada de opções femininas e masculinas. "Aqui a gente fica angustiado por não ter notícias da família e o crochê ajuda a gente a tirar a ansiedade, a ocupar nosso tempo", diz Honorato, que cumpre sua segunda pena. O projeto Ponto Firme e seu sucesso na SPFW tiraram Honorato e seus colegas da escuridão da prisão direto para os refletores.
O estilista fez seus primeiros pontos em 2008 e ficou tão encantado pelo crochê que hoje essa é a técnica central de seu trabalho. Nas visitas à penitenciária de segurança máxima Desembargador Adriano Marrey, leva revistas, fios de lã -doados por sócios do programa- e agulhas. Em uma das salas do pequeno centro cultural da prisão se senta e mostra no laptop um tutorial para tecer uma flor. Reproduz o modelo junto com os alunos, que logo aprendem. "Aqui não há nada errado, tudo pode ser aproveitado", diz.
A tragédia da Samarco que chocou o Brasil em 2015 também ganhou espaço na SPFW através do desfile de Primavera-Verão 2018/19 de Ronaldo Fraga, que é internacionalmente conhecido por contar histórias na passarela. O estilista mineiro promoveu uma experiência emocionante. Com participação performática de Marília Gabriela e trilha sonora ao vivo da cantora Livia Netrovski e do músico Fred Ferreira, Ronaldo mostrou uma poesia melancólica, porém cheia de esperança da tristeza tomada pelo barro do rompimento da barragem.
Ele trabalhou com mulheres da comunidade de Barra Longa, uma das atingidas pela lama, que já bordavam panos de prato – a parceria com a Fundação Renova as qualificou a também fazer roupas com seu artesanato e encontrar outro meio de subsistência. Na passarela, peças com fotos, pedaços, cartas, lembranças, o que foi levado, o que sobrou.
Bota, babado e laço
(Com informações de Paula Ramon, da AFP)