Economia

Os caminhos para o sucesso familiar nos negócios

Planejamento, profissionalismo e projeção de futuro são as palavras de ordem em empresas pernambucanas que têm atingido bons resultados

Na Rota do Mar, filhas de Arnaldo começaram como estagiárias. Hoje, tocam empresa

De acordo com a advogada, Lorena Melo, especialista em Direito da Família e Sucessões, do escritório Da Fonte, a ausência de profissionalismo, conflitos pessoais nas relações entre parentes e a mistura de gastos pessoais são alguns dos problemas mais recorrentes. "Na prática, não existe uma receita ou modelo prontos e cada empresa terá um comportamento próprio. Lidar com pessoas nem sempre é uma tarefa fácil, mas o que deve valer para todos é estabelecer a barreira entre sentimentos pessoais e o âmbito profissional. Independente de cônjuges, filhos, netos, o pensamento deve ser corporativo", explica.

Advogada Lorena Melo explica a importância da separação entre os gastos pessoais e da empresa

Ela lembra que a ausência, seja brusca ou planejada, de um sócio-fundador é um elemento que, via de regra, muda os rumos da companhia e, em boa parte dos casos, leva à sua decadência. Um apanhando que corresponde a média de 60% dos casos. "A sucessão é um assunto polêmico, às vezes até um tabu. Mas que precisa ser organizada previamente. O alinhamento transparente de expectativas de quem vai sair, assim como de quem está entrando, é o que vai garantir o sucesso nesta passagem de bastão", orienta a advogada.

O empresário, Avelar Loureiro Filho, de 57 anos, deixou o mercado financeiro nos anos 1990, unindo-se, inicialmente, a uma cunhada para embarcar no campo da construção civil. O negócio prosperou e o time foi reforçado pelos três filhos e um genro. "Hoje posso afirmar que o ponto-chave do nosso sucesso foi entender que era preciso se capacitar. Todos foram em busca de uma formação acadêmica sólida, assim como trazer experiências profissionais e vivências de mercado", explica. Hoje, o grupo ACLF emprega cerca de 1,2 mil funcionários e estendeu seu leque para a administração de shopping center e até uma unidade de produção de camarão. "Mantemos um conselho, onde as opiniões são geridas para se tornarem decisões. Enxergo o grupo de hoje como bem mais preparado, o que traz a certeza de que saberão assumir o controle no momento certo", destaca.

Hugo Gonçalves diz que o sabor familiar é instrumento fundamental

A história exitosa se repete no cotidiano de Hugo Gonçalves, 58, presidente da Tambaú Alimentos. "A família é a base de tudo. Acredito que devemos sempre estar alinhados à necessidade, ao sonho de vencer e de construir. Apesar das demandas financeiras, a de se autoafirmar, de construir e de fazer acontecer, é a família que consegue promover todo o apoio necessário. O fundador sempre saberá dos limites e até onde a empresa aguenta “esticar a corda", assegura o gestor da empresa, fundada em Custódia, no Sertão, que se modernizou para ganhar o paladar do país.

Na mesma esteira, a marca timbaubense Óticas Visão já alcançou os 50 anos de mercado. A empresa familiar está na segunda geração e faturou, em 2023, cerca de R$ 16 milhões. Para 2024, a perspectiva é de um crescimento em torno de 25% nas vendas. "O cenário mais positivo na construção de uma empresa ao lado de familiares é a confiança, a lealdade de trabalhar com pessoas que têm a mesma compreensão dos valores e metas que a gente busca. Agora temos que ter muito cuidado em separar as questões familiares dos negócios", pondera o atual administrador financeiro, André Lima, 38, que divide as tarefas com a esposa, Inês Tavares.

No Laboratório Nabuco, legado seguiu da mãe para os filhos

Para Sofia Acioli, fundadora do Laboratório Nabuco, que mantém 13 unidades em Pernambuco e presença em mais dois estados, o desafio não foi diferente. "Eu já tinha 10 anos de experiência na área, quando resolvi fundar algo novo, trazendo uma percepção de que qualidade seria o primordial. Apesar de ser médica, acabei me apaixonando por gestão também. Fomos verdadeiros desbravadores. Nessa época, os filhos já estavam formados, mas trabalhando em outros lugares. Nós estávamos aqui, eu e meu marido que também é médico, tocando a empresa sozinhos. Hoje, a maior satisfação é olhar no retrovisor e ver que conseguimos passar todo esse legado para eles", conta.

No mesmo passo, mas desta vez no segmento de confecções, a Rota do Mar foi fundada em dezembro de 1996. Para somar com o pai, duas das três filhas assumiram cargos estratégicos na empresa, onde começaram ainda como estagiárias. "Quando a família está inserida dentro no dia a dia e atuando no mesmo local de trabalho, a possibilidade de longevidade é maior, porque outras gerações irão assumir e continuar desenvolvendo o negócio. O desafio de quem mora junto, vive junto, convive junto é sempre tentar separar a parte profissional da parte familiar para que a empresa se mantenha competitiva", revela o diretor-presidente, Arnaldo Xavier.

A presidente do Conselho de Família do Grupo Moura, Mariana Moura, também amplia esta atmosfera e diz que a conjuntura positiva se configura quando a coesão entre as pessoas é preservada, propiciando um ambiente aberto ao diálogo e à definição de valores fundamentais para o crescimento sustentável do negócio. "O alinhamento em prol do fortalecimento da empresa, com foco no desenvolvimento contínuo e no impacto positivo na comunidade, é um indicador de sucesso. São valores sólidos, que desempenham um papel crucial nesse contexto", afirma a gestora da companhia de baterias, que nasceu em 1957, na cidade de Belo Jardim. "Uma empresa familiar bem-sucedida é aquela que construiu um legado", completa.

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