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'Queremos fortalecer a metropolitana e expandir o interior', diz André Campos, presidente da Copergás, em entrevista ao Diario

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Criada em setembro de 1992, a Copergás se aproxima dos seus 30 anos com diversos motivos para celebrar. Nos últimos três anos, período em que está sob a gestão do diretor-presidente André Campos, a empresa, que é uma parceria público privada, aumentou em 20% sua rede de gasodutos e atingiu a marca histórica de 1 mil km. No último ano, a Copergás também conquistou marcas importantes em números de conversões veiculares e de clientes residenciais. Em entrevista concedida ao Diario de Pernambuco, Campos fala sobre os planos para o futuro da empresa, que incluem o avanço da interiorização e um olhar atento à questão ambiental.

COMPETITIVIDADE
O reajuste do nosso contrato com a Petrobras é trimestral, mas em 1º de janeiro entrou outro supridor, que é a Shell. Já tínhamos a Petrobras e a New Fortress que é quem está atendendo o interior com o Gás Natural Liquefeito (GNL). Com a entrada da Shell, praticamente metade do nosso volume hoje é dela. No nosso contrato, quando fizemos a chamada pública, conseguimos um valor muito interessante, com redução de 17% do que era no contrato em vigor com a Petrobras. Agora a Petrobras determinou um aumento para 1º de fevereiro de 15.9%. Como tínhamos um contrato com a Shell com 17% a menos, isso praticamente equilibrou o preço. Não vamos repassar nenhum aumento para o consumidor.

Isso acontece porque a Copergás não vende gás, nós recebemos R$ 0,24 pela distribuição do gás e repassamos o valor que compramos. Como nós conseguimos 17% a menos, esse repasse será integralmente feito para o consumidor. Se você pegar a questão das indústrias de Pernambuco, isso aumenta a competitividade em relação às concorrentes de fora do estado. O GNV por exemplo, que já é muito vantajoso, agora é mais ainda.

Foi muita sorte mas também muita competência da nossa equipe técnica que é liderada por Fabrício Bomtempo, nosso diretor técnico comercial. Nosso contrato com a Shell foi uma vitória porque foi o primeiro do Brasil de novo supridor. Todas as distribuidoras dependiam da Petrobras. Foi muita negociação mas resultou em algo muito importante para nós e para o mercado. Vamos lançar agora no mês de fevereiro uma nova chamada pública para mais cem mil metros de gás. Estamos muito animados porque deve entrar uma nova supridora, que pode ser de biometano, aterro sanitário ou biomassa, tudo isso pode acontecer.

PROJETOS
Gás é um produto considerado de primeira necessidade, não paramos durante a pandemia. Nosso corpo técnico continuou na rua, o que significou uma expansão da rede com uma maior venda e lucratividade na questão financeira, batendo todos os recordes de fornecimento. Até 2025 vamos ampliar os investimentos em Petrolina. Lá, já estamos atendendo indústria e com posto de combustível. Vale dizer que, com exceção de Fernando de Noronha, Petrolina tem a gasolina mais cara de Pernambuco. E o gás natural lá tem o mesmo preço de Recife porque trabalhamos com uma tabela equalizada. Nosso grande projeto, que atrasou por conta de dificuldades com a construtora e porque tivemos que fazer uma nova licitação, é o que vai sair de Camaragibe, passar por São Lourenço, Paudalho, Carpina, uma ponta de Tracunhaém e vai até Nazaré da Mata, onde deve atender a Mauricéa. Estamos trabalhando para ver se conseguimos finalizar esse ano porque muitos trechos já estão prontos.

Também estamos para finalizar o projeto de Gravatá com dois postos de combustíveis e atendendo a rede hoteleira. Temos outros na Região Metropolitana do Recife com previsão de investimento de R$ 66 milhões para esse ano. Na última semana, começamos a fornecer para a Nestlé, que tem uma indústria em Garanhuns. Tanto o projeto de Garanhuns quanto o de Petrolina são de rede local. É uma parceria com a New Fortress em que eles levam de caminhão o gás comprimido 600 vezes e nós construímos uma rede local. Lá, esse gás é injetado e regaseificado e atende normalmente como todo gasoduto normal. Em Garanhuns, no primeiro semestre, também deve estar sendo atendida a questão do gás veicular.

Queremos fortalecer a metropolitana e expandir o interior. Nosso grande objetivo agora é ver se conseguimos chegar até o sertão do Araripe, que é o maior produtor de gesso do Brasil e queima muita lenha. Iniciamos estudos no ano passado para ver se conseguimos chegar no mesmo formato de Garanhuns e Petrolina. Além do combustível mais barato do que a lenha certificada, tem a questão ambiental. Vamos evitar a derrubada de centenas de milhares de árvores.

MERCADO DE GÁS
O governador Paulo Câmara assinou esse ano a nova lei da abertura do mercado de gás em Pernambuco. O grande avanço é a questão do consumidor livre. Da mesma forma que estamos vibrando porque a Copergás vai ter novos supridores, hoje qualquer comércio ou indústria vai poder também adquirir de outro supridor. Na minha opinião, existem algumas dificuldades porque uma coisa é o volume que a Copergás negocia com os supridores, outra é a indústria que tem um volume menor e quanto mais você compra, melhor é o preço.

A lei já existe em outros estados, mas ninguém conseguiu passar para ser consumidor livre ainda por conta dessa questão de preço. Mas o mercado exigia essa questão do mercado livre, porque está na lei. Mas isso não traz nenhum prejuízo para a Copergás porque ainda leva um tempo para que esse mercado livre aconteça de fato.

CONQUISTAS
A Copergás está fazendo 30 anos esse ano, nós também estamos comemorando 1 mil km de rede, marca que atingimos no início de janeiro. Desse total, 20% foram construídos nos últimos três anos. É um novo marco na atual gestão do governador. Quando ele me pediu para vir para cá, sempre me falou para ver a questão da chegada do gás no interior. Quando falo de Petrolina com muito entusiasmo é porque a cidade nunca teria gás natural a curto ou médio prazo. Atualmente, 1 km de rede de gás natural custa o equivalente a 1 km de rodovia. Nosso último ponto é Belo Jardim, então precisaríamos de R$ 500 milhões de investimento para chegarmos em Petrolina. Só conseguimos por conta da nova tecnologia do gás líquido, que hoje vem de Paulínia, São Paulo, e chega lá. É um pouco mais caro por conta do transporte. A ideia inicial era fornecer a partir de Sergipe, o que terminou não dando certo. Mas a New Fortress está tentando fazer isso por meio de um terminal que estão instalando na Bahia, o que derrubaria o custo já que o fornecimento é diário. Virou case que está sendo estudado por outras distribuidoras do Brasil inteiro. Está funcionando perfeitamente sem nenhum tipo de problema.

Nosso maior cliente é a petroquímica de Suape, o segundo é o grupo Brennand. A Jeep e a Fiat, todas as cervejarias, também são consumidoras. Em 2021 chegamos a 60 mil clientes residenciais no total. No ano passado, a expansão foi de 8.814 novos clientes nesse setor. No comercial tínhamos 159 clientes e passamos a ter 879 no total. De postos de combustíveis, nós tínhamos 59 em 2018 e passamos para 91. Neste ano, nosso objetivo é 120. Também temos 126 clientes industriais. No ano passado houve um momento muito importante com a chegada à Porto de Galinhas, onde estamos atendendo restaurantes, hotéis, pousadas e com posto de combustível para atender os taxistas e motoristas de aplicativo. Esses, se não tiverem gás natural, não sobrevivem.

Em janeiro do ano passado, a frota no estado era de cerca de 70 mil carros convertidos, fechamos com mais de 81 mil. As conversões no primeiro semestre eram de cerca de 745 carros  por mês. No segundo semestre, quando entramos com uma campanha publicitária apontando as vantagens do gás natural, elas dispararam. Em dezembro tivemos um recorde histórico com mais de 1.700 conversões.

OLHAR PARA O FUTURO
Muitas pessoas me perguntam se vamos privatizar, mas a posição do governador é de não privatizar. Temos mais 20 anos de concessão e o nosso objetivo é realizar essa expansão o máximo que puder, depois que o gás estiver em todo lugar e a empresa tiver cumprido seu papel, pode ser que ela seja vendida lá na frente. Mas, enquanto não atingir o estado inteiro, não tem sentido.

Outra grande preocupação é com o meio ambiente. Calculamos o quanto que emitimos de carbono e chegamos numa conta de que, para repor o que passamos para a natureza, precisaríamos plantar 1.500 árvores por ano. Já no início desse projeto, plantamos com a Serta, uma entidade que trabalha em Glória do Goitá, Chã de Alegria, 2 mil árvores na beira do Rio Goitá. Esse ano nós vamos dar continuidade a esse projeto e pretendemos expandir esse trabalho. Uma das árvores plantadas é a que é utilizada para fazer o mamulengo. Então, além da questão ambiental, é algo que irá garantir a geração de emprego e renda para a região.

Além do desenvolvimento econômico, procuramos atuar patrocinando a área cultural como o Janeiro de Grandes Espetáculos, o Cine PE e o Baile do Menino Deus, por exemplo. Também patrocinamos livros, documentários. No Brasil, essa questão da falta de apoio à cultura é tão absurda que no ano passado tivemos sobra dos recursos da Lei Rouanet. Tínhamos um determinado valor mas não tínhamos projetos para apoiar. Patrocinamos a nova exposição do instituto Brennand, da Casa de Alceu.

Na área de esportes, atuamos muito forte na lei de incentivo ao esporte estadual, destinando parte do ICMS a ser pago para incentivo a projetos de esportes aprovados pela Secretaria de Educação e Esportes. Já patrocinamos Adrianinha e Dornelas no basquete, outros projetos aquáticos, de futebol. Investimos em torno de R$ 1,5 milhão por meio do incentivo aos esportes. Além de pequenos patrocínios, procuramos ajudar eventos de artistas pernambucanos. São áreas que nos dão retorno em marketing, além de cumprir uma função social.

PARCERIA PÚBLICO PRIVADA
Algumas pessoas pensam que a Copergás é privada, outros pensam que o estado é dono, mas não é. É uma mistura, uma verdadeira parceria público privada. O estado tem 51% das ações, a Mitsui, que é uma empresa japonesa que atua em diversas áreas, tem 24,5% e a Petrobras, através da Gaspetro, tem os outros 24,5%. A presidência é indicada pelo governo do estado, a diretoria administrativa financeira pela Mitsui e o diretor técnico comercial pela Petrobras. Tudo é definido de forma colegiada. Temos uma reunião com a diretoria toda semana. Isso é importante porque o estado tem a visão do desenvolvimento, a Gaspetro tem o conhecimento técnico e a Mitsui cuida da administração financeira, da questão de pessoal.

É uma coisa que funciona. A empresa é pública porque a maioria das ações são do estado, mas ela tem sócio privado. Mas o administrativo todo é como nas empresas públicas, temos licitações, somos regidos pelo tribunal de contas. Os controles são de empresa pública, mas a gestão tem muito da visão privada.

Aqui não existe cabide de emprego. Vamos ter concurso esse ano, mas não definimos ainda o número de vagas. Ele deverá ser realizado no final do ano para todas as áreas, vamos tentar fazer uma coisa bem diluída. Já foram feitos dois concursos. Hoje, 80% do quadro é concursado e 20% comissionado. Também temos um pequeno número de terceirizados.