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ONGs têm papel relevante diante do cenário econômico com a pandemia

A pandemia impactou no bem-estar socioeconômico das famílias brasileiras e agravou o processo de empobrecimento delas, afetou o consumo e o acesso a alimentos, entre outros itens básicos. Mesmo com a ajuda financeira do auxílio emergencial do governo federal, o alento do repasse tem se mostrado insuficiente no cenário econômico e a perspectiva ainda se mostra de perda acentuada da renda, desemprego e inflação.
Segundo levantamento do economista e professor Demorval dos Santos Filho, que compara índices relativos a 2019 e 2020, as famílias têm passado por dificuldades. "Com o cruzamento de sete variáveis, chegamos à análise geral de que houve uma redução da capacidade das famílias em prover o seu sustento", pontua o professor. Com os dados, o intuito é realizar a análise conjunta de variáveis econômicas e relacioná-las a modelos qualitativos de distribuição de renda em Pernambuco
Ele ainda aponta que o índice relacionado ao consumo das famílias revela uma queda no poder aquisitivo desses grupos. "O percentual mostra o quanto as famílias perderam com a chegada da pandemia (queda de 5,5% na comparação de 2020 com 2019) e que o auxílio emergencial não foi capaz de suprir a perda total ou parcial da renda atrelada à inflação do período", continua Santos.
A inflação também tem sido um problema, já que ficou em 4,52% em 2020 na comparação com o ano anterior e continua alta neste ano. "A alta dos preços ainda vem paralela à taxa de desocupação que continua a subir, passando de 16,1% para 16,8% no país. Aqui em Pernambuco, houve uma redução 0,07% na taxa de informais, mas este não é um dado a ser comemorado uma vez que a taxa de trabalhadores formais teve uma redução de 1,8%, indicando que a redução entre informais não vem da recolocação desses trabalhadores em postos formais, mas que as pessoas estão desacreditadas e desistiram de gerar renda através do trabalho", analisa o economista.
Diante desse contexto, as instituições filantrópicas que atuam diretamente em comunidades mais atingidas têm visto de perto os reflexos na insegurança alimentar desses grupos. A Organização Não Governamental (ONG) Giral, que atua em Glória do Goitá, precisou ampliar seu foco de atuação quando a pandemia começou. Voltada para educação no contraturno escolar e para o acesso à cultura, a Giral fez um planejamento inicial para levar às casas das crianças e dos adolescentes atendidos os lanches que eram oferecidos nas atividades presenciais, mas foi preciso ir além.
"Percebemos que muitas famílias haviam perdido suas rendas total ou parcialmente. Mobilizamos a doação de cestas básicas junto aos nossos parceiros e já entregamos mais de 3 mil para famílias das áreas urbana e rural de Glória", explica o presidente da Giral, Leonildo Moura.
A Giral também está fazendo acompanhamento para identificar o perfil dos grupos familiares e, segundo a nutricionista da ONG, Maria Lúcia Moura, o acompanhamento começou por telefone, com agendamento de consultas. Até o momento, 60 educandos já foram rastreados e a ONG identificou acesso escasso ou inexistente a frutas e verduras, além da redução de carnes, frango e peixes no cardápio. "Com os preços altos, as famílias nos relatam a substituição dessas proteínas por embutidos", comenta.
O consumo de embutidos em classes de menor poder aquisitivo já vinha em alta antes da pandemia, mas Lúcia ressalta que a exclusão de alguns alimentos das cestas básicas preocupa. "Embutidos têm produtos químicos e alto teor de sódio. Quando explico, muitos pais dizem que só podem oferecer isso, mas eu tento orientar alternância com ovos e frango, que são fontes de proteínas mais em conta. Sei da situação, e tento respeitar a realidade deles", pondera.