° / °

Quatro em cada cinco famílias pernambucanas estão endividadas

Por

Foto: Pixabay
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor aponta que o índice é o mais alto desde julho de 2011

O número de famílias pernambucanas endividadas alcançou um dos índices mais altos da última década, 80,1% das famílias declararam possuir dívidas no mês de maio. Desde que a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC/CNC) iniciou o mapeamento, em janeiro de 2010, a série histórica da PEIC havia registrado cinco vezes um patamar acima de 80%: maio de 2010 (81,3%); agosto de 2010 (92,5%); março de 2011 (81,4%); maio de 2011 (80,7%); julho de 2011 (81,3%).

Segundo o economista Ademilson Saraiva, da Fecomércio-PE, o fim do auxílio emergencial de R$ 600 teve um impacto grande no endividamento familiar. “Agora em 2021 as famílias perderam o aporte que vinham recebendo através do auxílio emergencial. Pernambuco já estava com o endividamento em um patamar elevado, em torno de 70% e, ao longo do ano, isso foi se agravando por conta da pandemia. Nesse primeiro trimestre, o desemprego atingiu 21,3% da população pernambucana, resultando na queda da renda familiar. A tendência é de que o endividamento continue elevado”, explica.

O percentual de famílias com contas em atraso também continuou subindo em maio de 2021 e alcançou 31,9% – contra 28,0% em dezembro de 2020 –, assim como o percentual de famílias que se declaram sem condições de pagar dívidas em atraso, que chegou a 13,2% em maio – face aos 11,3% registrados no final de 2020. Diferentemente de 2020, o auxílio emergencial de 2021, com pagamentos que variam entre R$ 150 e R$ 375, não deve ajudar a reverter o cenário.

“Quatro em cada cinco famílias se dizem endividadas. O auxílio emergencial amorteceu a situação no ano passado, com o aquecimento das vendas e a quitação de dívidas. Neste ano, a nova rodada traz um pouco de esperança, mas o cenário não é bom. O preço dos produtos estão elevados, tivemos reajuste no preço dos medicamentos em abril e mais um aumento na conta de energia está vindo por aí. A inflação deve continuar apertando no bolso e está diretamente conectada com o quadro”, comenta Saraiva.

Apesar de discreta, a alta da taxa Selic, anunciada em maio para 3,5% ao ano, também dificulta a situação dos endividados. “A Selic aponta para o mercado a trajetória que os juros devem seguir no curto prazo. Os financiamentos, empréstimos e juros do cartão de crédito são alguns exemplos que estão diretamente atrelados à Selic. No orçamento da família, o impacto é mais direto no crédito rotativo, já que o cartão de crédito é o maior ‘vilão’ do endividamento, apontado por mais de 90% das famílias como fonte de dívidas”, complementa o economista.

Entre as famílias endividadas 5,6% têm dívidas que comprometem o orçamento por até três meses, 41,4% delas têm dívidas que perdurarão entre três e seis meses, 23,1% delas têm dívidas que deverão comprometer a renda por seis meses a um ano e quase um quarto (24,2%) delas têm dívidas que se prolongam por mais de um ano – outros 5,6% não souberam responder. O tempo médio de comprometimento da renda com as dívidas, ficou em 7,3 meses, ou seja, um prazo que se estende até o final de 2021.

Quanto ao grau de comprometimento da renda, 55,4% das famílias endividadas se encontram com percentuais entre 11% e 50% da sua renda comprometida com dívidas. O levantamento da  Confederação Nacional do Comércio (CNC) estima que a parcela média da renda familiar comprometida, em maio, foi de 28,6%. Ou seja, quase um terço da renda das famílias pernambucanas. Esse valor, entretanto, é menor que o registrado pelo Brasil, segundo a mesma pesquisa, o qual alcançou 30,1% em maio.