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Projeto Farol investirá R$ 60 mil em trabalhadores informais

De acordo com o IBGE, cerca de 48% da população pernambucana faz parte do chamado mercado informal. Com o objetivo de oferecer um incentivo e uma mão estendida a muitas destas pessoas que tiveram suas possibilidades de trabalho afetadas pela pandemia da Covid-19, surgiu o programa Adote um Informal, do Projeto Farol. Trata-se de um edital por meio do qual serão injetados R$ 60 mil em 10 negócios informais afetados pela crise. Em um primeiro momento, cada trabalhador receberá R$ 6 mil, pagos em seis parcelas mensais de R$ 1 mil. O objetivo, entretanto, é angariar a participação de empresas que possam ampliar os beneficiados. Para concorrer a uma das bolsas, o trabalhador deve se inscrever no site do projeto (www.pfarol.com.br).
O Farol é coordenado pelo advogado Edson Holanda, que possui atuação em direito constitucional, administrativo e finanças públicas. Ele conta que o objetivo do projeto é propor estruturas capazes de defender as liberdades individuais em cinco eixos: liberdade de ir e vir; de expressão e manifestação do pensamento; coletivas; econômicas e sociais. O Adote um Informal é o ato inaugural, juntamente com o Injustiçados que busca, de forma voluntária, restabelecer a liberdade a pessoas condenadas erroneamente.
Para concorrer a bolsa de R$ 6 mil, os interessados devem entrar no site e contar sua história de trabalho, enviando e-mail e telefone de contato. Se preferir, também pode enviar um vídeo. Estão aptos a concorrer empreendedores de qualquer município do estado. “Por enquanto, só temos recursos para 10 informais, mas não temos limite para a quantidade de inscrições. Isto porque se recebermos 500 histórias, é mais um motivo para gerar engajamento e conscientização do empresariado de forma que o projeto possa se ampliar. E se cada empresário adotar um informal, teremos uma rede de ajuda gigantesca”, acredita.
Ainda não há limite, também, para o prazo de inscrições porque, de acordo com o advogado, é preciso aguardar definições mais precisas a respeito do auxílio emergencial do governo. “Existe a probabilidade de que esse auxilio seja prorrogado por mais duas parcelas. Vamos esperar mais uma semana ou 10 dias para definir essa data limite. Precisamos ter esse horizonte para que uma pessoa não seja, por exemplo, duplamente beneficiada”, afirma.
A seleção dos eleitos será feita por Edson juntamente com uma comissão não fixa de pessoas das áreas jurídica, de gestão e políticas públicas. O critério objetivo é que o beneficiado seja um trabalhador informal, não empresário mediano em dificuldades. “Manicures, prestadores, fotógrafos, vendedores de praia. Além deste critério de informalidade, a escolha não tem como não ser subjetiva. Iremos verificar se a pessoa tem uma história legal, fases por que passou para chegar até ali, etc.”, explica.
Durante os seis meses em que o apoio financeiro será depositado, o Projeto Farol também oferecerá consultoria de gestão para os escolhidos. Virtual, ainda neste momento de isolamento social. “Às vezes, entretanto, a pessoa não tem acesso à tecnologia, então, iremos pessoalmente encontrá-la”, afirma.
De acordo com Edson, o objetivo é, antes de mais nada, focar para que os trabalhadores tenham renda mínima ou até incentivo financeiro para manter seu negócio. “Agora não é questão de lucro, mas de sobrevivência. O atual momento em que viver parece um desafio acionou um antigo desejo de fazer algo que fosse além da minha prosperidade profissional. De poder verter toda estrutura profissional alcançada em algo para a sociedade”, pontua Holanda.
O vendedor de caldinho Marconi Antônio da Silva, 55 anos, é um dos concorrentes ao benefício. Atuando há 12 anos na cidade Paulista, é formado em Administração de Empresas e Comércio Exterior pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas do Cabo de Santo Agostinho (Fachuca), mas nunca exerceu a profissão. Atuou como mestre de obras em locais como Suape e com pavimentação, drenagem e construção de casas. Daí veio o nome Caldinho do Mestre, cuja renda obtida nos finais de semana pagou as prestações da faculdade. E foi assim também que o conhecimento das salas de aula ganhou as ruas. “Utilizo nas vendas o que aprendi sobre fidelização do cliente. Na minha carroça, ele pode degustar os vários sabores e tem sempre direito a um café ou chá. Nos fins de semana, ele também pode levar o litro do caldinho, em garrafas, e me devolver no início da próxima semana. Ele também pode levar o kit, por R$ 30, em que seguem caldinho, ovos de codorna, charque, camarão, milho e ervilha”, explica.
Com os bares e restaurantes fechados durante a pandemia, Marconi conta que acabou sendo muito procurado, sempre com cuidados como uso de máscaras, álcool em gel para ele e para os clientes. Por isso relata não ter tido tanto desgaste financeiro na sua rotina de arrecadação de R$ 400 a R$ 450 semanais, descontados os gastos com matéria-prima. Para isso, entretanto, precisou ampliar a jornada de trabalho. “Antes, eu começava a trabalhar 14h às 20h. Hoje, para manter este mesmo quantitativo, começo às 10h. Ele torce para ser contemplado com o programa para expandir seu negócio. “Estou torcendo porque quero mandar fazer uma carrocinha maior. A que tenho está ficando pequena porque os clientes, além de usar, recomendam. Aviso, entretanto, a todos: apesar de aumentar a quantidade, a qualidade do meu produto é padronizada e vai permanecer a mesma”, finaliza.