Apostando em descontos de até 20% nos valores dos frutos do mar nas redes de supermercado, a indústria da pesca pretende estimular o mercado pernambucano a consumir ainda mais o produto na Semana do Pescado. O calendário da campanha começou em 1º de setembro e se estende até o próximo dia 15. Segundo Thiago De Luca, vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), não se estipulou uma meta de vendas a mais para esse período, porque o propósito principal é colocar o peixe e demais frutos do mar com maior frequência na mesa dos brasileiros e, assim, diminuir a defasagem de consumo em relação à média mundial, hoje, de 23 quilos anuais por pessoa. De acordo com o também CEO da Frescatto, mesmo com a massificação da comida japonesa no país, baseada em frutos do mar, esse número no Brasil era de 11 quilos há dois anos e, segundo sua visão, deve ter caído - a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o consumo de 20 quilos por pessoa ao ano. "Parte da produção de peixe precisa ser importada, e o dólar teve um aumento de cerca de 20% de 2018 para cá. Outras proteínas, como o frango, sendo vendidas, em média, pela metade do valor às vezes do peixe. Soma-se a isso a crise econômica interna do país. Já observamos que, quando o PIB brasileiro cresce, há uma elevação do consumo de pescados pela população, que já entendeu que é uma proteína mais saudável e provoca menos danos ao meio ambiente", comenta De Luca, projetando a expansão da Frescatto, que faz processamento de pescados, em Pernambuco. "Sabemos do potencial do mercado local. O objetivo é encontrar uma nova área no Recife e investir cerca de R$ 7 milhões em uma fábrica e um CD mais moderno para produzirmos no Nordeste até 2021". Outros pontos da entrevista: Peixe fresco
Tradicionalmente, sobretudo ainda no Nordeste, o hábito de ir à peixaria para comprar o "peixe do dia" se mantém. Porém, a correria da vida moderna e as facilidades da indústria já proporcionam ao consumidor produtos, segundo De Luca, frescos e de qualidade. "Ainda vai existir a revolução nos pescados, como ocorreu já com outras proteínas como o frango. Mas já temos facilidades que levaram a não precisar mais descamar o peixe em casa e ficar aquele cheiro, algo comum na época dos nossos avós. Queremos mostrar que a forma tradicional de comprar o peixe fresco ainda existe, mas não é a única. Podemos ter um peixe fresco embalado e congelado que garante o aumento do tempo de consumo e com uma qualidade muito boa", argumenta. Concorrência de preço
Diante de outras proteínas, como o frango, o peixe termina perdendo a vaga no carrinho de compras do consumidor quando o bolso anda menos abastecido financeiramente. Essa conta, De Luca explica, que é devido ao custo mais elevado da cadeia produtiva da pesca no Brasil. "Temos muitas dificuldades para o pescador ir ao mar. É o diesel do barco, ração, segurança. A burocracia do setor atrapalha o desenvolvimento. Então, muitos não querem pescar ou cobram caro pelo seu serviço. Precisamos de normas mais simples. A logística e distribuição é esquecida no Brasil". Maquinário próprio
"Muitas das máquinas que utilizamos na indústria são adaptações das usadas para carne e frango e não funcionam para o peixe, que é um produto mais delicado. O custo para importar máquinas apropriadas é gigante, devido aos entraves que são impostos e se acumulam para o setor", conta o CEO da Frescatto. Tilápia
O aumento da produção de tilápia no país, em 11,9% em 2018, em comparação ao ano anterior, é uma das comprovações da multiplicação do produto no cardápio dos restaurantes, como também na mesa de casa dos brasileiros. O Brasil já desponta, segundo o Anuário Brasileiro da Piscicultura, como o quarto maior produtor dessa espécie no planeta, atrás da China, Egito e Indonésia. Porém, De Luca alerta para uma futura concorrência, em uma abertura do mercado. "É um produto de cultivo que vem conseguindo melhorias e entregando ao consumidor uma carne branca e sem espinha. Hoje, tem um papel muito importante no setor de pescados. Porém, é necessário continuar baixando os custos de produção e, consequentemente, o preço final. Hoje, a importação é proibida. Uma mudança nesse sentido pode provocar uma difícil concorrência com a produção de lá de fora", destaca. Porto Frescatto
A boutique de frutos do mar do grupo, com duas unidades no Rio de Janeiro (Leblon e Barra), pode chegar a Recife daqui a dois anos. Um espaço onde o consumidor pode encontrar um leque de variedades dos produtos da Frescatto para cozinhar em casa ou pedir um prato que o chef da casa irá preparar com a assinatura da marca. "É um projeto dos meus sonhos e esperamos ter unidades em outros estados e Pernambuco pode, sim, ser um deles. Já ganhamos um prêmio com o Porto Frescatto e é algo que acreditamos muito de mostrar que não há dificuldade em lidar com o peixe e o consumidor pode levar o produto e fazê-lo em sua casa com qualidade", conta De Luca.