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Dois oásis das letras na Zona Norte do Recife

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Livrarias de Jaqueira e Casa Forte apostam no tradicional comércio de rua e em eventos infantis. Foto: Divulgação
Praticidade e comodidade: conceitos cada vez mais presentes em um mundo onde o tempo é moeda de grande peso e valor. Não à toa os shoppings centers transformaram-se em peças-chaves na rotina de qualquer pessoa que viva em um meio urbano. Até mesmo para os que procuram um prazer que é antagonista à pressa, como o da leitura. A capital pernambucana não se furtou à tendência. Atualmente, todas as livrarias das grandes redes nacionais encontram-se nestes endereços. Em uma área da Zona Norte, entretanto, há duas consistentes exceções. A Livraria da Praça de Casa Forte e a Livraria Jaqueira concentram em ambientes espaçosos e múltiplos um mix de venda de livros, cafeteria e reduto de programação infantil.

Na primeira, por exemplo, as crianças representam um percentual significativo dos investimentos da empresa familiar, existente em um dos endereços mais emblemáticos da cidade, a Praça de Casa Forte, há quatro anos. Todos os sábados, o espaço oferece atividades como contação de histórias, oficinas de confecção de livros ou culinárias. Sempre a partir das 16h por uma taxa de R$ 20. Além disso, dos 14 mil títulos do estabelecimento, mais de 35% (5 mil) são destinados a este público.

Em seus 500 metros quadrados, o local, climatizado, abriga ainda cafeteria e oferece artigos de papelaria, material de escritório e decoração além de adega. Algo que provavelmente não fosse possível de ser oferecido caso a empresa estivesse localizada em um centro de compras ou galeria. “Sempre optamos pelo comércio de rua por vários motivos. O aluguel em um shopping é um deles. Para comercializar nestes locais, os custos chegam a quase 50% a mais, pela mesma metragem, sem contar com o condomínio. Além disso, há uma concorrência maior e uma falta de espaço físico para fazer tudo o que conseguimos aqui. Há, ainda, a questão do estacionamento gratuito, na rua, que oferece maior conforto aos clientes”, explica Fernando Chaves, sócio da Livraria. Nos finais de semana, o espaço costuma receber algo em torno de 120 a 150 pessoas. Oferecendo um serviço de internet eficiente e já atuando como espaço onde costumam acontecer reuniões e encontros de negócios, o próximo passo é a criação de um auditório com capacidade para 150 pessoas com inauguração prevista para o primeiro semestre de 2020. 

Pertinho do Parque da Jaqueira, a livraria que também carrega o nome do bairro é o capítulo mais recente de uma história cujo prólogo remete aos antepassados. O avô dos atuais administradores vendia livros de porta em porta até conquistar um espaço físico para o seu comércio, que veio a se chamar Livraria Aquarela, no bairro da Encruzilhada. Esta trama remete a cinco décadas. A Livraria Jaqueira, sob a égide dos herdeiros, tem 13 anos de existência. Em outubro deve aportar no Bairro do Recife, no local onde antes funcionava a Cultura. Antes disso, entretanto, a aposta sempre foi no comércio de bairro, embora já tenham recebido propostas para estar nos grandes centros de compras. “Apesar do movimento intenso nestes locais, sempre ponderamos que o comércio de rua tem muitas oportunidades a serem exploradas. Pode ser que sejam exauridas, um dia, mas por enquanto é um negócio muito interessante”, explica o diretor financeiro Fernando Mendes. 

Ele explica que o diferencial do espaço é ter a experiência do cliente como conceito. A empresa oferece 45% do seu catálogo na área da livraria mas possui serviços agregados como cafeteria, adega, venda de artigos de decoração, papelaria e materiais de escritórios, funcionando também como gráfica rápida e realizando eventos para o público infantil há mais de sete anos. Em setembro iniciarão, ainda, ciclos de palestras sobre networking com foco no universo corporativo. O espaço também é alugado para eventos de terceiros ou parceiros estratégicos. Para lançamentos de livros, por exemplo, não há cobrança. 

De acordo com Fernando, o objetivo é focar justamente no atendimento mais personalizado e que caracterize a empresa como uma espécie de ambiente de “descompressão” em relação à rotina atribulada. “O fato de não estarmos em um shopping não nos coloca na contramão das tendências. Em uma cidade com a mobilidade urbana complicada como a nossa, procuramos criar experiências positivas mais próximas, fisicamente, do nosso cliente. Já chegamos a abrir a loja para alguém que precisava comprar um presente quando já estávamos fechando. Porque acreditamos na força do livro mas também no nosso potencial de ajudar as pessoas a resolverem seus problemas do cotidiano, estando mais próximos dela com este diálogo saudável. É um espaço de convivência que a rua torna mais aberto de forma que as pessoas respiram mais o bairro. É algo não tanto mensurável, mas uma sensação que compartilho com minha equipe”, revela. 

Na primeira semana de outubro, a Livraria Jaqueira deve inaugurar sua mais nova unidade, no local onde funcionava a Cultura, no Shopping Paço Alfândega com funcionamento diário, das 9h às 21h. Lá, o objetivo é focar nos executivos e no relacionamento com as empresas do entorno. Haverá, ainda, dois setores inéditos, incluindo uma área dedicada à Disney, que proporcionou treinamento para os contadores de história. Compondo o cenário, haverá réplicas dos personagens com mais de dois metros de altura e venda de produtos licenciados. Tudo a partir de projeto aprovado pela companhia multinacional americana. Outra novidade é o setor de geeks, colecionáveis e HQs. “Não tínhamos muita experiência nesta área, mas aprendemos muito estudando o case da Cultura. Temos humildade de aprender, principalmente sendo este um mercado muito promissor”, afirma. A Livraria da Jaqueira tem uma média estimada de fluxo diário de 1 mil passantes por dia, contabilizada anualmente.