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Tio Bruninho: o encantador de crianças

Das salas de aula, o educador musical conquistou os palcos das festas infantis e agora amplia os negócios com escolas de música e espaço de arte

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O casal Bruno César e Carol Barros toca junto os projetos que levam o apelido dele, com aulas, shows e lojas. Foto: Peu Ricardo/DP
 
Tio Bruninho é um tipo de encantador de crianças. Seja nas aulas de música ou nas festinhas infantis, tudo parece parar na sua volta para girar apenas em torno do homem de figurino simples. É que ele não é palhaço, é educador musical. E, mais do que a formação profissional, é o encanto que sente de volta pelos pequeninos que faz a magia ficar completa. Quando tira o traje que leva uma roupa colorida e uma boina, ele se torna o empreendedor Bruno César, que investe em novos negócios em Pernambuco, mas sem deixar de lado a sua paixão pela educação musical infantil. Em Piedade, tem uma loja de instrumentos musicais e uma escola de música. Em Casa Forte, é sócio de um espaço de artes. Negócios que são tocados nos dias de semana e que só expandem. Nos finais de semana, os shows tomam conta de sua agenda atribulada. Como tudo leva o seu nome, ele faz questão de estar sempre presente em todos os empreendimentos, tornando quase impossível separar o personagem da vida real.

Tudo aconteceu meio que por acaso. Precoce, aos 15 anos, Bruno fez vestibular para ciência da computação e começou no curso aos 16. Neste mesmo período, a sua mãe deu um violão de presente, mesmo que a contragosto do pai. Frustrado nas aulas de exatas, ele entendeu que era mesmo de humanas. “Ainda fiquei me enganando um tempo, mas não era o que eu queria, eu gosto de ter contato. Então no segundo semestre de 2001 entrei em música e a minha vida mudou”, conta. Foi durante o curso que descobriu não apenas a sua paixão pela música, mas também por dar aulas, através do professor Flávio Medeiros, de quem foi estagiário. Também começou a ganhar os palcos, mas ainda com foco nos adultos, com a banda de forró Seu Januário, na qual ele era cantor e tocava violão.

Quando terminou a faculdade, Bruno passou pelo mesmo dilema que muitos passam. “Pensei: ‘e agora?’”. Até que surgiu uma seleção para o Conviver, em 2007. “Era uma escola de referência por dar toda a estrutura e, na seleção, eu era um dos poucos que falava inglês. Consegui a vaga e aí perguntei de que idade as crianças seriam, se dez ou doze, e me responderam que eram na faixa dos dois anos. Eu não sabia nem o que fazer, fiquei apavorado”, diverte-se. No primeiro dia de aula, pegou o seu fiel companheiro violão e cantou o repertório de músicas que costumava ouvir, mas não teve muita interação. “As letras não casavam com a idade das crianças”, conta. Foi para ajustar as suas aulas para seus alunos tão pequeninos que ele começou a compor as suas próprias canções. Neste mesmo período, recebeu o apelido que o acompanharia para o resto da vida. “Já me chamavam de Tio Bruno, mas a professora do maternal Lucinha Cascão, que hoje é uma doceira conhecida, começou a me chamar de Tio Bruninho por eu trabalhar com os pequenininhos e tudo acabava no diminutivo”, diz.

Com as músicas próprias prontas e fazendo sucesso nas salas de aula, o agora Tio Bruninho resolveu gravar o seu primeiro CD, Canções do Dia e Canções da Noite, em 2010, mesmo sem ter a verba suficiente ou a confiança dos que o cercavam. “Ninguém acreditava no projeto, mas um amigo abriu seu estúdio para eu gravar e pagar quando pudesse”, detalha. “As vendas começaram na escola e a primeira leva de mil exemplares acabou rapidamente e eu devo muito às mães, que me ajudaram no início”, diz. Depois foram mais três mil até que a mãe de uma aluna o convidou para a festa da filha. “Eu não tinha nem banda, mas aceitei. Chamei os meus amigos da Seu Januário, falei que seria cachê baixo, carreguei o som nas costas, mas fiz o show”. O primeiro figurino eram camisas pretas com uma logomarca porque Bruno tinha a preocupação de se mostrar como educador musical e não um palhaço. “Mas depois eu entendi que precisava ser algo mais lúdico”.

Em 2011, o grupo virou a banda oficial do Tio Bruninho e os músicos o acompanham até hoje - Betinho (guitarra e diretor musical), Luizico (sanfona e teclado), Eugênio (baixo) e Guga (bateria). “Começamos a fazer muitos shows em festas de aniversários, até o dia que conhecemos a Vila 7, uma livraria na época em Boa Viagem, e a gente ia lá se apresentar”. O espaço, que acomodava cerca de 30 crianças, ficou pequeno. Quando a unidade em um casarão nas Graças já estava funcionando, Tio Bruninho gravou mais um CD, o Arraial de Tio Bruninho, e fez uma festa temática no espaço. “A gente esperava as mesmas 30 crianças, mas foram 500. A gente não tinha dimensão do que já tínhamos nos tornado, nem água tinha para servir”, conta, aos risos.


Um apelido que virou uma empresa de sucesso

As festas particulares nunca deixaram de fazer parte da agenda de Tio Bruninho, mas a dimensão que seu trabalho ganhou o levou a um patamar mais elevado, afinal de contas, nos eventos corporativos o público se multiplicava a cada show. A partir de 2013, começou realmente a vida de empreendedor. “Fomos contratados para um show, mas precisava de nota fiscal. Aí fiz um MEI e emiti a primeira nota em nome da Nestlè”, relembra. Neste período, a banda já alcançava 80 shows por ano e, capitalizado pelos eventos, gravou o primeiro DVD, Tio Bruninho O Show, em 2014, com um investimento de R$ 100 mil. 
No ano seguinte, Tio Bruninho passou a fazer parte da agenda de apresentações dos shoppings, multiplicando o público de 500 pessoas para cerca de seis mil, chegando a 15 mil, considerado o maior show da carreira. Veio mais um DVD,  Escola, com investimento de R$ 50 mil, o auge no número de shows - uma média de 120 por ano - e a empresa cresceu e passou de Microempreendedor Individual (MEI) para Microempresa (ME). “Rodamos muito, ficamos conhecidos e, como meu trabalho sempre foi autoral, esse era um grande diferencial”, garante.

Em 2017, da gravação do show Luau nasceu mais um DVD, lançado neste ano. O ano passado também marcou o nascimento da loja de instrumentos musicais que leva o nome de Tio Bruninho, no The Garden Open Mall, em Piedade. “A gente levava alguns CDs e DVDs, além de poucos instrumentos, para vender nos shows. E as pessoas sempre perguntavam se a gente tinha uma loja física. Foi quando surgiu a ideia, mas com um conceito diferente, com instrumentos de verdade para as crianças”, explica. O espaço ao lado da loja vagou e foi quando Bruno César, o empreendedor, abriu a sua escola de música. Hoje, já alugou mais um espaço do centro de compras e atende crianças e adultos. O investimento em Piedade já chega a R$ 250 mil.

Inquieto, no início deste ano, Bruno se juntou à irmã Daniele e ao cunhado Felipe para inaugurar, em Casa Forte, um espaço de artes, com aporte de R$ 1 milhão em uma área de 800 metros quadrados. São 12 professores em um quadro de funcionários que chega a 20 pessoas. “Lá eu sou o diretor acadêmico e abrangemos teatro, música, artes visuais e dança. Tem cantina, mais uma loja e um estacionamento com 21 vagas”, detalha. Mesmo com um volume intenso de trabalho, Tio Bruninho não pensa em parar a expansão dos negócios. “Um nova loja não está descartada. Pode ser em outro ponto da cidade ou em algum estado vizinho”, revela. Além disso, já tem três livros escritos, voltados para o público infantil, e espera viabilizar a publicação. E pretende gravar uma série para o seu canal do YouTube apresentando os instrumentos da orquestra. 


A princesa permite os voos mais altos


Bruno César, de 38 anos, parece incansável. Sempre com um sorriso no rosto e os braços abertos para qualquer criança que passe ao seu lado - muitas o abordam para pedir abraços -, ele detalha uma agenda intensa. Os compromissos durante a semana se dividem entre a direção acadêmica e aulas no centro de arte em Casa Forte, a atenção com a loja e as aulas do seu negócio em Piedade, as aulas que mantém até hoje no Conviver e as aulas no Conservatório Pernambucano de Música, em Santo Amaro. Chega a rodar 110 quilômetros em um único dia. Ao final da maratona, repousa ao lado da sua esposa em Candeias, onde moram. Carol Barros, de 36 anos, é quem dá o suporte em todos os negócios do marido. Inclusive, chega a participar dos shows com fantasia e, por conta disso, é chamada de princesa por ele.

A ascensão da carreira dele coincide com o início do namoro com Carol, em 2011. O casamento foi em 2012 e, desde então, eles sonham e empreendem juntos. Ela é formada em enfermagem e há 15 anos trabalha como auditora de contas, das 7h às 16h. O restante do tempo passa cuidando das lojas, da escola de música e da agenda de shows. “Dizem que todo gênio criativo é desorganizado e eu sou. Carol é a gerenciadora da minha vida, ela chegou para organizar tudo, diz para onde vou, com que roupa, de que horas. E sei que isso exige paciência, apesar dela às vezes perder porque sou muito alesado”, revela, sorrindo. Ao final, ele diz que a princesa Carol é o seu chão, talvez porque ele ainda não tenha percebido que é justamente ela, organizando os bastidores da vida do Tio Bruninho, que permite ele alçar os voos mais altos, deixando fluir a criatividade em inúmeras ideias.