O menino que não sabia o que era pizza e hoje comanda uma rede com 13 lojas
Ivanildo Lira saiu de Paquevira analfabeto para tentar dar uma vida melhor à família e hoje comanda, ao lado dos filhos, a Pizzaria Atlântico
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Ivo Lira é o caçula de quatro irmãos que ajudam a tocar o negócio da família e a pensar em novos projetos para a marca. Foto: Nando Chiappetta/DP FOTO
A história do menino do interior que se muda para a capital para garantir uma vida melhor para a família. O enredo não é inédito, mas pode se tornar uma história interessante pelo desenrolar dos fatos durante o trajeto até o final feliz. Ivanildo Lira saiu de Paquevira, distrito de Canhotinho, no Agreste de Pernambuco, por volta de seus 15 anos, deixando a esperança para a mãe e o irmão, que ficariam no interior, de um futuro melhor. Mesmo analfabeto, não se deixou abalar pelas dificuldades impostas pela cidade grande. Pelo contrário. Agarrou-se a qualquer oportunidade que a vida lhe deu, mostrando desde cedo que o empreendedorismo sempre correu em suas veias. O caminho foi longo e não foi fácil, mas hoje, aos 65 anos, Ivanildo é o nome à frente das 13 lojas da Pizzaria Atlântico e dos 750 colaboradores da rede, cumprindo a promessa deixada no passado para a mãe e o irmão e construindo ainda um negócio que sustentasse o futuro de sua família, já que os quatro filhos hoje tocam o empreendimento ao lado do pai. Ao chegar do interior, Ivanildo se instalou em Olinda, mas não tinha endereço fixo. Passou a vender picolés na praia e dormia toda noite na sorveteria. Não demorou para ganhar a confiança do proprietário e passou a tomar conta da loja. Ali perto existia uma farmácia e o adolescente foi chamado para fazer as entregas de remédios com uma bicicleta. %u201CEle não sabia andar de bike, mas disse que aceitava e, sem que ninguém visse, ficou treinando até aprender%u201D, conta o filho caçula Ivo Lira. Com o tempo, passou também a atender no balcão, mesmo sem saber ler ou escrever, e ainda aprendeu a aplicar injeção para ganhar um dinheiro extra. Com o dinheiro que conseguiu juntar, teve a ideia de ter seu primeiro negócio, mesmo que pequenino. %u201CEle pediu autorização ao dono da farmácia para abrir um fiteiro na frente porque queria trazer o irmão que havia ficado no interior. Logo depois conseguiu abrir um segundo fiteiro na Avenida Fagundes Varela (em Jardim Atlântico), que estava sendo construída, e ele vendia sanduíche de mortadela e suco de cajú para os trabalhadores da obra. Ele chegou a ter o terceiro fiteiro e depois teve uma mercearia, mas acabou tendo que entregar a casa%u201D, detalha o caçula. Foi quando ele e a esposa Edna resolveram alugar uma casa onde venderiam comida, em 1987. O carro-chefe do cardápio da lanchonete, no entanto, chegou por um acaso. %u201CMeu pai não sabia nem o que era pizza. Uma vez foi nos levar no médico no Centro e viu um homem vendendo pizza. Ele foi lá falar com o vendedor, perguntou o que era, como fazia e se tinha margem de lucro. Foi assim que ele decidiu vender pizza%u201D, explica. A clientela foi crescendo junto com a loja em Olinda, até que a primeira filial foi aberta em 2001 na Avenida Recife, em uma casinha no Ipsep, apenas com delivery, inicialmente. Foi quando o negócio começou a ganhar força.
Um novo modelo de negócios para crescer O sonho então passou a ter características de um negócio de verdade. O primeiro plano estratégico da Pizzaria Atlântico foi elaborado em 2013, com uma consultoria e, por conta da vontade de fazer o negócio acontecer, ele foi seguido à risca. A terceira loja foi aberta em 2005 na Paissandu, também como delivery. Até que as filiais acabaram ganhando salão para receber os clientes no local. A virada do negócio aconteceu com a unidade da Avenida Rui Barbosa, nas Graças, inaugurada em 2007. %u201CUm corretor ficou insistindo que deveríamos alugar a casa, mas achávamos que não dava para pagar. Fomos conhecer a casa e a energia era muito boa. Mesmo sem ter capital próprio, o banco foi nosso parceiro e é até hoje%u201D, ressalta Ivo. Uma loja no Pina chegou a funcionar, mas foi fechada depois que a unidade do Ipsep foi reformada e passou a contar com 500 lugares, além do delivery. Um outro restaurante foi aberto em Piedade. %u201CEntre 2006 e 2013 crescemos muito em estruturação, mesmo devendo ao banco, e ao final do período, todas as lojas estavam estruturadas%u201D, afirma o caçula. Entre 2010 e 2014, a Pizzaria Atlântico pegou a onda positiva da economia brasileira e também de Pernambuco, porém as coisas começaram a mudar em 2015 e foi quando os planos foram sendo ajustados para uma nova realidade. %u201CÍamos abrir uma unidade na Caxangá e outra em Candeias, mas desistimos%u201D, acrescenta. Foi quando os olhos do negócio se voltaram para as unidades de shopping, sem esquecer de fazer acontecer as cinco lojas de rua. %u201CA população estava mudando a forma de consumo para os centros de compras, por conta da segurança, da facilidade, dos serviços. Como já tínhamos um piloto para os shoppings, resolvemos testar. Foi quando lançamos a Pizzaria Atlântico Express%u201D, diz. A primeira foi aberta na loja da Ferreira Costa, na Tamarineira, em 2016. Depois vieram as unidades dos shoppings Guararapes, Recife, Tacaruna, RioMar, Boa Vista, Plaza, Camará e, em dezembro, será inaugurada a do Shopping Igarassu. O investimento na Pizzaria Atlântico Express fica na faixa de R$ 400 mil e, por enquanto, não existe expectativa de abrir unidades em formato de franquia. Para 2019, o plano é de reestruturar o negócio internamente, focando na satisfação do cliente.
História que é inspiração de vida para toda a família Por tanto ouvir, ao longo da vida, a história de crescimento do pai Ivanildo, os quatro filhos - Ivan, Edvan, Gilvan e Ivo - acabaram por tomar como filosofia de vida a dedicação ao projeto de negócios da família. Ainda adolescentes, passaram a ajudar nos salões da loja, na cozinha, na administração de uma forma geral. Eles sabiam, no entanto, que um empreendimento pequeno não seria capaz de dar sustento a cinco famílias. Então todos decidiram cursar Administração e entrar com intensidade no negócio familiar. A história do patriarca sempre serviu de inspiração. %u201CMeu pai sempre passou essa necessidade de a gente ajudar. Hoje tenho 32 anos, mas desde os 12 eu já ajudava e meus irmãos, todos mais velhos, também. Cada um ficava em uma função e conseguimos absorver bem a responsabilidade. A gente sempre viu o esforço dele e sempre convivemos com essa visão empreendedora%u201D, ressalta o caçula. Os quatro filhos hoje tocam o negócio, porém ainda com a ajuda dos pais. %u201CSabíamos que esse poderia ser o negócio da família toda. Já existia uma sementinha plantada pelos meus pais e que podia crescer com o nosso trabalho também%u201D, acrescenta.