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Vestir a camisa custa caro

Pesquisa mostra que o brasileiro tem uma despesa média mensal de R$ 256 com o futebol. Muito? O que vale é a paixão

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Raquel não abre mão de ir a campo nos finais de semana, na companhia do namorado, o contador Onaldo Júnior. Foto: Cida Mapasy/Divulgação
Falar de futebol é falar de uma paixão do brasileiro. Alguns são mais apaixonados, outros são menos. Mas a dedicação ao time aparece em qualquer faixa etária, classe social ou gênero. Gente que veste a camisa e vai torcer. Além do investimento de tempo, essa torcida apaixonada envolve o investimento financeiro. Seja nas idas aos jogos, na compra de camisas e objetos relacionados ao time do coração ou nas mensalidades de sócio e gastos com idas a bares, com direito a petiscos e bebidas para prestigiar os jogos da equipe.

Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) aponta que o gasto mensal do torcedor brasileiro com “coisas” relacionadas a futebol chega, em média, a R$ 256. Para a pesquisa foram entrevistadas 620 pessoas detodos os estados, incluindo, claro, pernambucanos fanáticos por futebol. De acordo com a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, cada pessoa possui uma área mais sensível para gastar e consumir. Alguns desembolsam com moda, outros com serviços de beleza, viagens ou futebol.

“O esporte tem um ‘agravante’ porque está diretamente relacionado à emoção, e as pessoas acabam sendo levadas a gastar sem atenção”, diz Marcela. Mas os mais “empolgados” podem até prejudicar o orçamento. Para a economista-chefe do SPC Brasil, não é necessário que o torcedor corte radicalmente os gastos com o futebol, mas que saiba estabelecer as prioridades, colocando em primeiro lugar as contas básicas, depois a reserva de dinheiro e só então as atividades extras, como a torcida, por exemplo.

Entre os que “investem” em futebol, os principais gastos são com as idas às partidas, mensalidades e compra de camisas. Nos três maiores times do estado – Náutico, Santa Cruz e Sport – as mensalidades variam de R$ 10 a R$ 360, dependendo do pacote de “benefícios”. As camisas oficiais custam na faixa dos R$ 200 e são lançadas em coleções, normalmente uma vez por ano. Willam Duarte, sócio-proprietário da PE Retrô, acredita que os torcedores estão dispostos a ajudar o time de diversas formas, torcendo e vestindo a camisa do clube.

Na PE Retrô – que não vende apenas produtos das equipes do estado – os preços variam de R$ 40 a R$ 142. “Torço para que os três times estejam bem e em tranquilidade entre eles. Assim as vendas melhoram. Ultimamente, a violência entre as torcidas tem causado uma desaceleração nas vendas. As pessoas ficam com medo de usar as camisas dos times e sofrer alguma agressão”, lamenta. O que não dá para lamentar – pelo contrário, só comemorar – é o aumento do interesse da mulherada pelo jogo.

De acordo com o SPC Brasil, das mulheres que foram entrevistadas, 49,7% se interessam muito por futebol. O crescimento de 28% nas vendas das camisas femininas de time também é um indício de que cada vez mais o esporte passa a ser querido pelas mulheres. Renata Guerra, jornalista e torcedora do Náutico, compra bastante camisas e costuma frequentar o máximo de jogos que pode dentro do estado. Quando o jogo não acontece em Pernambuco, ainda assim a torcedora vai para a sede do time ou para um bar ou restaurante acompanhar a partida.

“Tenho 13 camisas oficiais e gasto cerca de R$ 200 por mês com coisas relacionadas a futebol. Esse valor aumenta para R$ 400 se eu decido comprar mais alguma camisa”, diz Renata. Assim como ela, a estudante Allana Barbosa também não deixa de participar. Torcedora do Santa Cruz, vai sempre a campo e, quando não dá para estar no estádio, frequenta pizzarias, restaurantes ou bares com amigos para assistir aos jogos. “Só de camisa com modelo feminino tenho 12. Infelizmente alguns lançamentos são apenas em modelos masculinos.”

"Cazá, cazá, cazá"

Desde que veio do Mato Grosso do Sul para morar no Recife, a estudante de direito Raquel Melo coleciona camisas do Sport. Já são 27 do time do coração. Impossibilitada de ir aos jogos que acontecem durante a semana por causa das aulas na faculdade, Raquel não abre mão de ir a campo nos finais de semana, na companhia do namorado, o contador Onaldo Júnior. “Tudo que eu via do Sport eu comprava. Comecei assim. Foi natural. Quando abro o guarda-roupa, percebo que tenho mais camisa do Sport do que roupa para sair.” 

O casal não economiza. Só com os ingressos, chega a gastar R$ 120 por mês. Além desse custo ainda surgem outros, como o estacionamento – R$ 10, em média – e o lanche,  em torno de R$ 20 por jogo. As despesas não param por aí. Ainda entram no orçamento R$ 40 da mensalidade de sócio e a compra das camisas oficiais lançadas pelo clube: R$ 230, em média, a feminina e R$ 250 a masculina.