MÚSICA
Festival Lula Côrtes festeja 50 anos do disco 'Paêbiru'
Tributo à obra do artista recifense e Zé Ramalho reúne as bandas pernambucanas Ave Sangria e Anjo Gabriel no mesmo palco, além da cineasta Kátia Mesel com registros históricos em super-8
Por: Allan Lopes
Publicado em: 06/05/2025 06:00 | Atualizado em: 06/05/2025 11:54
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Foto: Reprodução |
Lançado pela extinta gravadora Rozemblit, o disco Paêbiru: Caminho da Montanha do Sol é um verdadeiro clássico da música brasileira. Após a enchente que inundou Recife e destruiu milhares de cópias, em 1975, o álbum virou uma raridade entre colecionadores. Mas a aura mítica em torno dessa obra, gravada pelo então desconhecido paraibano Zé Ramalho em parceria com o cantor, compositor e poeta recifense Lula Côrtes, nunca se dissipou.
Nesta quarta-feira (7), no Teatro do Parque, o Festival Lula Côrtes celebra os 50 anos do disco e sua herança atemporal na cultura udigrudi e psicodélica de Pernambuco – termos que remetem à efervescente cena artística dos anos 1970 no Brasil e permanece viva até hoje.
Essa influência se materializa na seleção musical do festival, que reúne duas gerações distintas: Ave Sangria, grupo contemporâneo de Zé e Lula e um dos principais expoentes da música psicodélica brasileira, divide a grade com a Anjo Gabriel, formação mais nova que bebe tanto do krautrock alemão quanto das raízes udigrudi locais.
Anjo Gabriel apresentará o álbum completo em um espetáculo que será gravado em fita analógica para lançamento posterior em vinil. O vocalista e baixista Marco Da Lata avisa que será uma reprodução na íntegra, mas não literal. “Quem quiser ouvir o original, escuta o LP. Chamamos amigos e amigas para somar na sonoridade, incluímos violino, bandolim, guitarras em novos arranjos e até bateria onde não havia. É a nossa leitura do Paêbiru, mantendo as melodias”, explica.
Nemo Côrtes, filho de Lula e idealizador do festival, herdou a vocação para unir gerações. “Meu pai era, como brincamos, um grande articulador. Sua casa funcionava como encruzilhada de pessoas de diversas classes sociais e profissões”, resume. Realizado há dez anos, o evento consolidou-se como espaço de encontro geracional, cuja filosofia está cristalizada na banda-tributo coletiva que reúne no mesmo palco veteranos e novatos em trocas criativas.
Outro destaque da programação, a cineasta e artista gráfica Kátia Mesel apresenta registros inéditos em super-8 que mostram momentos fundamentais da produção de Paêbiru, desde as gravações na Ilha de Itamaracá e na Pedra do Ingá, até o estúdio Abracadabra em Beberibe, onde parte essencial do álbum foi concebida. “Buscamos honrar o caráter multiartístico do meu pai, que transitou entre literatura, audiovisual, música e artes gráficas”, pontua Nemo. Roger de Renor comanda o evento, que conta com intervenções do DJ Pré e sua curadoria musical especial para os intervalos.