EVOCANDO O MAESTRO
Ícones do carnaval: Viver relembra a vida e a arte de Nelson Ferreira
"Compositor pernambucano mudou para sempre a história do frevo, consolidando o ritmo como um produto para as classes mais altas do Recife", afirma biógrafa Angela Fernanda Belfort
Por: André Guerra
Publicado em: 17/02/2025 06:00 | Atualizado em: 17/02/2025 07:52
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Nelson começou sua carreira tocando piano durante os filmes mudos do Cinema Pathé, no Recife (Arquivo/DP) |
Cinco anos antes do nascimento oficial do frevo, vinha ao mundo, em 1902, um dos maiores criadores da sua história. Aquele que não apenas estabeleceu alguns dos maiores cânones do ritmo tradicional pernambucano como se tornou um dos brasileiros com maior número de músicas gravadas no Brasil, incluindo ainda em sua obra tangos, valsas e foxtrote. De qualquer maneira, no carnaval deste ano, como manda a tradição, nenhum folião do Recife ou de Olinda vai passar batido sem ouvir repetidas vezes os hinos cravados no tempo por Nelson Ferreira.
Nascido em Bonito, no Agreste de Pernambuco, e despertado para a música desde muito cedo, já que quase todas as pessoas de sua família eram instrumentistas, o maestro aprendeu quando criança a tocar violão, violino e piano, mudando-se para o Recife ainda pequeno. A cidade, com suas cores e sons, viraria uma de suas grandes inspirações (nela, mais tarde, ele viria a morar com a esposa Aurora Ferreira e o único filho, Luiz Carlos Ferreira, na Avenida Mário Melo, em Santo Amaro).
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(Arquivo/DP) |
Na adolescência, ele chegou a acompanhar filmes ao piano no Cinema Pathé, na época do cinema mudos, e, dessa forma, acabou sendo convidado para tocar na orquestra do Cine Teatro Moderno. Daí em diante, sua carreira deslanchou.
O compositor que se tornou nacionalmente conhecido por frevos como Evocação Nº 1, canção que atravessou divisas e fronteiras e se tornou um sucesso em todos os grandes polos do Brasil, além de ter sido traduzida para diversas línguas, criou outras peças icônicas da música nacional, como A Virada, Gostosão, Sabe Lá o que é Isso, Veneza Americana, Minha Adoração e Vamos Aprender a Amar o Recife.
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(Arquivo/DP) |
Em entrevista ao Viver, a jornalista Angela Fernanda Belfort, que escreveu a biografia Nelson Ferreira: O Dono da Música, destaca o peso que a obra do maestro teve para consolidar o frevo. “Foi Nelson que fez com que o frevo se transformasse num produto consumido pela classe média do Recife, quando ele colocou o frevo na programação da Radio Clube de Pernambuco. As gravadoras, todas do Sudeste na época, começaram a produzir discos com os frevos mais tocados para vender à classe média do Recife”, explica a biógrafa.
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“Como diretor artístico da Rozenblit, ele resgatou muitos frevos antigos da cidade e deu espaço para os compositores locais ficarem registrados nos seus discos. E ele contribuiu muito também no resgate do frevo-canção, um dos estilos mais bonitos, quando gravou Evocação nº1, em 1957”.
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(Arquivo/DP) |
Getúlio Cavalcanti relembra o contato que teve com Nelson Ferreira nos anos 1960 e reafirma o impacto do compositor na música pernambucana. “Eu o conheci em 1962, quando ele era diretor musical da Rozenblit, e foi a época mais vibrante do carnaval de Pernambuco. Ele, com a devida autorização de José Rozenblit, gravava as músicas para o carnaval escolhendo as 12 melhores composições, exaltando nomes como Aldemar Paiva, Edgar Morais, Sebastião Lopes e tantos outros que eram, inclusive, grandes parceiros dele”, conta no bate-papo com o Viver.
“Como compositor, ele era incrivelmente versátil, compondo do maracatu à valsa, mas era no frevo que realmente mostrava sua genialidade. Era uma personalidade afável, sempre carinhoso com todo mundo, mas profundamente exigente também. Foi a grande figura que fez com que o frevo chegasse ao ápice de reconhecimento e difusão”, reforça Getúlio. Ai ai, saudade tão grande.
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(Arquivo/DP) |