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Amamentação em público: por que é tão difícil superar esse tema?
Deputada Manuela D´Ávila (PCdoB-RS) publicou uma foto no Instagram amamentando sua filha, Laura, e imagem gerou comentários negativos

Já foi aprovada em primeiro turno, mas ainda tramita na Câmara do Vereadores de Belo Horizonte, o projeto de lei 1510/2015, de autoria do vereador Gilson Reis (PCdoB), que garante o direito da amamentação em público. Na cidade de São Paulo, lei semelhante já está valendo e prevê multa de R$ 510 – e duplica em caso de reincidência - para quem impedir ou constranger uma mãe que esteja amamentando seu filho. A lei vale, inclusive, para os estabelecimentos que têm áreas exclusivas para a amamentação, como é o caso de shoppings.
No Rio Grande do Sul, a Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa aprovou por unanimidade o projeto de lei 123/2015 que dispõe sobre o direito ao aleitamento materno, de autoria do deputado Luiz Fernando Mainardi (PT) e da deputada Manuela D’Ávila (PCdoB). E foi baseada nessa decisão que a parlamentar se manifestou publicamente depois que comentários negativos surgiram em seu perfil no Instagram diante da imagem em que ela aparece amamentando a filha Laura: “Quando aprovamos a Lei que permite amamentar em qualquer lugar alguns disseram ser bobagem. Taí a expressão da necessidade de mudarmos radicalmente os conceitos de muitos!”, escreveu a deputada em sua página no Facebook.
A polêmica surgiu depois que a foto foi usada por um blog especializado em maternidade. O tema da reportagem era sobre as reações de bebês às vacinas e pegou como exemplo um post de Manuela D’Ávila no Instagram em que ela contou que, para driblar a dor que a filha sentiu na perna depois de ser imunizada, usou a seguinte tática: "Para dormir um pouco só agarrada em mim (na teta, na verdade)", ela escreveu na legenda da imagem.
Em entrevista já concedida ao Saúde Plena, o vereador Gilson Reis disse acreditar que a aprovação de leis que garantam a amamentação em público é levar para para o debate público a questão da equidade de gêneros. “Não é possível que a sociedade trate a amamentação como algo indesejado. Amamentar não é um ato sensual, é uma necessidade de alimentação de um bebê. Precisamos respeitar essa dimensão da nossa existência. A sociedade precisa se conscientizar e assumir o aleitamento materno como algo fundamental, que é direito da criança. É um ato tão simples, mas de uma dimensão tão complexa na promoção da saúde”, declarou.
Mas se amamentar é um ato natural e uma necessidade do bebê, por que tanta polêmica? O fato de vivermos em uma sociedade machista que objetifica e hiperssexualiza o corpo da mulher pode nos ajudar a entender a razão da inversão de valores sustentada na cultura. Se de um lado a sociedade aceita que o corpo da mulher seja usado para vender cerveja, carro ou qualquer outro produto culturalmente associado ao consumo masculino, de outro, ela se ‘choca’ com parte do seio à mostra quando uma mulher amamenta seu filho ou sua filha em espaço público. Fato é que a maioria das brasileiras (55%) acha perfeitamente natural amamentar em público.
Dessa forma, a luta de mães pelo direito de amamentar seus bebês em qualquer lugar passa pela questão da desigualdade de gênero. Em um país em que a média de aleitamento materno exclusivo é de 54 dias – diante da recomendação de seis meses da Organização Mundial de Saúde (OMS) – não apenas precisamos de lei para garantir às crianças o direito ao leite materno como para apoiar a construção de uma sociedade que entenda o conceito de autonomia do próprio corpo.
Entre os comentários negativos, Manuela D´Ávila respondeu especificamente a um usuário que identificado como "@joaopanela" e que escreveu "desnecessária a exposição da mama de uma deputada". A deputada disse: “Sr. João, esse peito não é de deputada, é da mãe da Laura. Amamento onde quiser, o peito é meu (e dela, por esse período). Amamento até na capela sistina, com a bênção do meu papa Francisco”.
Na mesma semana em que Manuela D’Ávila foi criticada por seus seguidores, uma parlamentar espanhola foi criticada por levar seu filho de cinco a uma sessão no Congresso e amamentá-lo durante o trabalho. Após a repercussão, Carolina Bescansa disse em entrevistas que a sessão seria muito longa e que o pequeno Diego precisaria estar com ela. "Defendo que as mães criem seus filhos como querem", afirmou ela ao El Diario.