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Maior planta carnívora das Américas é descoberta após postagem no Facebook

Graças a foto postada nas redes sociais, pesquisadores brasileiros identificam uma das maiores plantas carnívoras já descobertas

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A descoberta, publicada na revista especializada Phytotaxa, reforça a luta de moradores da região, que querem a preservação da área. (Foto: Carlos Rohrbacher/Divulgação)

Belo Horizonte — A maior planta carnívora das Américas, e terceira maior do mundo, foi descoberta graças ao compartilhamento de uma foto no Facebook. Atingindo um comprimento de mais de 1,5m, a espécie, nativa de Governador Valadares (MG), foi identificada por um time internacional de botânicos do Brasil, dos Estados Unidos e da Alemanha. Publicada no perfil da rede social do orquidófilo Reginaldo Vasconcelos, a foto chamou imediatamente a atenção dos especialistas em plantas carnívoras Paulo Gonella e Fernando Rivadavia. “Nessa foto, estava uma planta do grupo que estudo, o gênero Drosera, de plantas carnívoras. A espécie era bem diferente de todas as que já tinha visto. Era bem maior, com folhas e flores diferentes”, lembra Gonella, doutorando do Laboratório de Sistemática Vegetal da Universidade de São Paulo (USP). A nova espécie foi nomeada Drosera magnifica por sua exuberância.

Ao identificar a planta como uma nova espécie, os botânicos decidiram fazer uma expedição a Minas para estudá-la na natureza. Gonella, atualmente, realiza parte do doutorado na modalidade sanduíche em Munique, na Alemanha. Fez a expedição em parceria com Fernando Rivadavia, botânico também brasileiro, mas que vive nos Estados Unidos.

Com as coordenadas passadas por Reginaldo, o grupo conseguiu, depois de algum esforço, achar as plantas da espécie. “Vasculhamos o local e a encontramos apenas numa pequena área de 50m por 50m, onde ela cresce em abundância.” Por ocorrer numa área tão restrita e ameaçada pelo avanço de espécies invasoras (plantas exóticas que competem com as nativas por espaço e nutrientes), os botânicos a classificaram como criticamente ameaçada.

Para preservá-la, os botânicos defendem a criação de um parque estadual para proteger a montanha onde ela ocorre, bem como outras montanhas próximas. Os pesquisadores entendem que a preservação da região é essencial para que outras espécies possam ser pesquisadas. “Observamos, nos nossos estudos e expedições de campo, que essa região foi muito pouco estudada por botânicos anteriormente e que ela abriga diversas outras espécies novas para a ciência”, diz Gonella.

Armadilha
A descoberta, publicada na revista especializada Phytotaxa, reforça a luta de moradores da região, que querem a preservação da área. No artigo, os botânicos fazem uma detalhada descrição científica da planta e contam brevemente a forma inusitada da descoberta. O artigo ainda chama a atenção para a falta de pesquisas sobre a flora da região. Ela faz parte do gênero Drosera, o maior grupo de plantas carnívoras, compreendendo cerca de 250 espécies distribuídas pelo mundo, mas principalmente em áreas tropicais da Austrália, da África do Sul e do Brasil.

Essas plantas produzem folhas cobertas por glândulas ou tentáculos que secretam gotículas de substância viscosa e pegajosa. Vermelhos e reluzentes, os tentáculos são atrativos e constituem uma armadilha mortal para pequenos artrópodes, especialmente insetos voadores. Depois de aprisionar a presa, as plantas ainda usam a substância adesiva para mantê-las. Os insetos morrem sufocados e são lentamente digeridos por enzimas secretadas pelo vegetal. Essa dieta carnívora garante uma fonte extra de nutrientes, como nitrogênio e fósforo, uma vez que essas plantas costumam habitar solos pobres.

“Mesmo sob condições de alta umidade, neblina e chuva observadas no topo da montanha onde essa espécie cresce, as longas e finas folhas da Drosera magnifica estavam, surpreendentemente, cobertas com inúmeros insetos”, aponta Fernando Rivadavia. Montanhas próximas foram exploradas pelos cientistas, mas, até agora, nenhuma outra população dessa rara planta foi encontrada. “Um dos pontos mais interessantes é que uma espécie desse tamanho passou despercebida por tanto tempo e só foi descoberta graças ao poder das redes sociais de aproximar pessoas de vários lugares. Imagine quantas outras espécies menores e menos chamativas estão por ser descobertas”, avalia Gonella.