Atores com armas falsas são baleados por policiais militares em Salvador
Polícia diz que réplicas não possuíam identificação laranja como indica legislação. Diretor do projeto 'Fatos de favela', que gravava conteúdo no momento do episódio, admite que foi "desacerto" e que agentes não têm culpa

Dois atores da websérie Fatos de favela foram baleados por policiais militares, no último domingo (9/3), durante uma gravação no bairro Cosme de Farias, em Salvador. De acordo com nota da Polícia Militar da Bahia (PMBA) enviada ao Correio, a reação dos integrantes da corporação se deu devido ao fato de os indivíduos portarem réplicas de armas de fogo sem identificação. Em manifestação nas redes sociais, o diretor do projeto admite “desacerto” e “desentendimento”.
Segundo a PM, policiais foram acionados para dar apoio a agentes do Samu na Rua São Domingo. “Ao chegarem, os militares se depararam com cerca de 10 indivíduos portando armas e efetuaram disparos diante da aproximação do grupo, que fugiu.”
Os policiais alcançaram um dos homens, com quem encontraram duas réplicas de pistola. O homem informou que participava de uma filmagem, a qual, segundo a instituição, “não era de conhecimento da polícia”. Ele foi encaminhado, junto ao material apreendido, para registro de ocorrência junto à Polícia Civil.
Com o grupo, foram encontradas 25 armas falsas, como pistolas, submetralhadoras, fuzis e carregadores, “que não possuíam pontas em coloração laranja”, como indica a legislação para indicação de réplicas.
A nota ainda informa que dois outros homens “que haviam sido feridos foram identificados e socorridos na ação”. Eles foram encaminhados a hospital onde receberam atendimento médico.
Em vídeo publicado no Instagram da Fatos de favela, o diretor Rodrigo Batista deixou claro que o objetivo da produção é mostrar a realidade para que jovens não adentrem o mundo do crime ou das drogas.
Rodrigo explicou que, durante as gravações, são colocados banners e placas de aviso que indicam o projeto, que já havia sido gravado sem intercorrências pela manhã do mesmo dia. Pela tarde, porém, ao fim das filmagens, ao guardarem as réplicas de armas foram surpreendidos pela ação militar.
“Foi um desacerto da gente, infelizmente, a gente foi guardar as armas airsoft num lugar em que infelizmente era via (de) passagem, dava para ver”, explica. “Infelizmente nesse guardar, que a gente estava guardando as armas, as polícia estava entrando na favela, infelizmente na rua em que a gente estava parado para guardar as coisas e viu a multidão, viu uns com arma na mão.”
O diretor afirma, fazendo sinal de arma com as mãos, que os agentes atiraram contra eles, o que causou a dispersão e a fuga. “Nesse ‘dar contra a gente’, a maioria tudo correu. Aí um ficou, conseguiu se esconder e falar que ‘é gravação’, abaixou a tiro, largou as armas, mostrou ‘estamos gravando’, tal, foi que os policial entendeu.”
“Não estou aqui para julgar os atores, não estou aqui para julgar os polícias”, esclarece. “Os polícias não têm culpa de nada (...). Mas graças a Deus, Deus chegou primeiro e ninguém morreu.”
Rodrigo afirma que um dos atores “foi baleado no rosto, um foi baleado na bunda”, um machucou o pé e outro arranhou o braço durante a fuga. Nos stories do perfil do projeto na rede social, uma nota informa que os “equipamentos de arma de airsoft” em posse do grupo têm “documentação e tudo”, e que atores e produção se apresentaram na delegacia para esclarecimentos.
Procurada pelo Correio, a Polícia Civil do Estado da Bahia não forneceu mais informações sobre a ocorrência.