De acordo com o MPCE, mesmo afastado das funções de prefeito e médico, José Hilson de Paiva "é considerado influente no município e no meio político estadual, sendo capaz de, diretamente ou por interpostas pessoas, coagir, constranger, ameaçar, corromper, enfim, praticar atos tendentes a comprometer a investigação do Ministério Público e da Polícia Civil. O requerimento ratifica representação de prisão preventiva da Polícia Civil".
José Hilson trabalhou como médico da Prefeitura de Cruz de 1992 a 2012, e manteve um consultório particular na cidade até 2018. Ele é acusado de praticar, desde 1986, o crime de abuso sexual e estupro de suas pacientes, conforme denúncias de mulheres que passaram por consulta ginecológica. Além disso, Hilson gravou 63 vídeos, filmados por ele próprio, com 23 pacientes. O material está em poder do MP.
Em nota ao Correio, a defesa do prefeito atribuiu a denuncia a fatos políticos. “Os registros audiovisuais divulgados são primitivos, datando de muitos anos atrás. Portanto, do ponto de vista penal, não se descarta a verificação da extinção da punibilidade em tais fatos remotos, atingidos pelo instituto da decadência”, diz o texto.
O advogado Leandro Vasquez também questiona o argumento de que José Hilson de Paiva poderia atrapalhar o caso. “Como poderia influenciar na investigação de fatos ocorridos no passado distante? Que atos concretos de interferência foram praticados? Ora, desde que tomou conhecimento de que havia tal investigação, o Sr. José Hilson manifestou por escrito sua disposição em colaborar com todas as autoridade envolvidas na apuração. Nos parece que a prisão ora postulada visa a satisfazer a opinião pública, e não ao Direito”, afirma.
Denúncias
Na última semana, José Hilson de Paiva foi procurado pela equipe de reportagem para se pronunciar sobre os vídeos. Ao sair da prefeitura, o médico foi abordado e afirmou que tudo não passa de "jogada da oposição querendo me derrubar".
Mas a primeira investigação contra o médico ocorreu em março de 2018, depois da divulgação dos primeiros vídeos dos abusos e após ouvir quatro mulheres, que se identificaram como vítimas do então prefeito. Assim, o MPCE solicitou informações à Polícia Civil, que logo depois resolveu abrir o inquérito policial. O inquérito foi concluído em dezembro de 2018, e a Polícia sugeriu o arquivamento.
Já em junho deste ano, o órgão instaurou outro procedimento através do Núcleo de Investigação Criminal (Nuinc) e, até o momento, seis vítimas e uma testemunha já foram ouvidas.
Ainda de acordo com o MP, em 15 de julho deste ano, foi instaurado outro inquérito policial em Uruburetama, quando novas vítimas começaram a ser ouvidas. "Pelo menos 18 vítimas já identificadas nas imagens exibidas pela imprensa serão convidadas para prestarem suas declarações o mais rapidamente possível", diz o órgão em nota.