° / °
Cadernos Blogs Colunas Rádios Serviços Portais

Principal armazém da OMS em Gaza foi atacado pelo exército de Israel

O ataque das forças ocorreu após o exército israelense ter emitido uma ordem de evacuação forçada das áreas de Deir el-Balah, o principal centro de ajuda humanitária na região

Por Isabel Alvarez

Faixa de Gaza

O principal armazém da Organização Mundial da Saúde (OMS) e a residência dos funcionários da agência, em Deir al-Balah, no centro da Faixa de Gaza, foram atacados pelo exército israelense.

De acordo com a OMS, que o armazém foi danificado após um ataque que causou explosões e um incêndio no seu interior, comprometendo as suas operações e agravando ainda mais o colapso do sistema de saúde na região.

"A residência da equipe da OMS em Deir el-Balah, na Faixa de Gaza, foi atacada três vezes, assim como o seu principal armazém. Militares israelenses entraram no local, forçando mulheres e crianças a se retirarem em direção a al-Mawasi. Funcionários do sexo masculino e familiares foram algemados, despidos, interrogados no local e revistados sob a mira de armas. Dois funcionários da OMS e dois familiares também foram detidos. Três deles foram posteriormente libertados, mas um funcionário ainda continua detido. Com o armazém principal inoperacional e a maioria dos mantimentos médicos em Gaza esgotados, a OMS está severamente limitada no apoio adequado aos hospitais, às equipes médicas de emergência e aos parceiros de saúde, que já sofrem com a escassez crítica de medicamentos, combustível e equipamento. A OMS apela urgentemente aos Estados-membros para que ajudem a garantir um fluxo sustentado e regular de material médico para Gaza”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, chefe da agência de saúde da ONU.

O porta-voz das Nações Unidas, Stéphane Dujarric, denunciou que as ofensivas aconteceram apesar de as partes terem sido informadas da localização das instalações da agência, que são intocáveis. “Esses locais, assim como todos os locais civis, devem ser protegidos, independentemente das ordens de evacuação", afirmou.

As instalações de agências humanitárias são protegidas pelo Direito Internacional Humanitário (DIH), estabelecendo que instalações médicas, pessoal humanitário e ajuda humanitária devem ser respeitados e protegidos durante conflitos armados, sendo proibido o ataque a esses locais e pessoas.


O ataque das forças ocorreu após o exército israelense ter emitido uma ordem de evacuação forçada das áreas de Deir el-Balah, o principal centro de ajuda humanitária na região, e ter lançado logo a seguir uma operação terrestre. Foi à primeira vez que Israel realizou uma investida de envergadura nesta cidade, um local onde as autoridades acreditam que possam estar os últimos reféns ainda detidos pelo Hamas. O abandono forçado desta zona, onde as organizações internacionais que tentam ainda distribuir ajuda estão localizadas, cortou agoa por completo o acesso entre Deir al-Balah e as cidades do sul de Rafah e Khan Younis.

No contexto atual, em que quase todo o território de Gaza está sob ordens de evacuação e constante deslocamento forçado, se estima que entre 50 mil e 80 mil palestinos estavam refugiados em Deir el-Balah. Esta população foi informada a seguir em direção a al-Mawasi, no sul do enclave.


O exército israelense ainda não se pronunciou sobre os ataques às instalações da OMS ou sobre a ofensiva em Deir el-Balah. No entanto, os jornais israelenses citam fontes militares, que o objetivo foi criar um novo corredor e separar Deir el-Balah de al-Mawasi, de modo a impedir a livre movimentação entre os campos de refugiados no centro de Gaza, onde o exército israelense não tem presença terrestre. Além disso, é estimado que somente no primeiro dia desta nova ofensiva em Deir al-Balah, 60 palestinos tenham morrido. Hoje mais 35 pessoas foram mortas pelas tropas israelenses, incluindo oito que procuravam ajuda.


A ONU classificou esta situação como atroz e desumana e 28 países assinaram uma declaração conjunta pedindo o fim imediato da guerra. "O sofrimento dos civis em Gaza atingiu novos patamares", afirmaram num comunicado conjunto, denunciando a recusa do Governo israelense em prestar assistência humanitária essencial à população.

A guerra em curso já provocou mais de 59 mil mortos, centenas de feridos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza, a deslocação forçada de milhares de pessoas além da morte de crianças por fome.