EUA apresentarão explicações sobre eficácia dos ataques contra o Irã
Trump afirma que as instalações iranianas ficaram "totalmente destruídas", mas Israel e a Agência Internacional de Energia Atômica consideram que ainda é cedo para avaliar os danos
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, apresentará explicações nesta quinta-feira (26) sobre os bombardeios americanos contra instalações nucleares no Irã, cuja eficácia foi questionada por parte da imprensa.
O governo dos Estados Unidos se envolveu diretamente na ofensiva iniciada em 13 de junho por Israel contra o Irã, com um ataque no domingo passado contra três centros cruciais do programa atômico de Teerã: Fordo, Natanz e Isfahan.
Com o frágil cessar-fogo entre Irã e Israel em seu terceiro dia e com a expectativa da retomada das negociações entre Teerã e Washington sobre o programa nuclear, a atenção está voltada para a eficácia da ação.
O presidente americano, Donald Trump, afirma que as instalações iranianas ficaram "totalmente destruídas", mas Israel e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) consideram que ainda é cedo para avaliar os danos.
Além disso, um documento confidencial do governo americano, revelado pela CNN, conclui que o ataque não destruiu componentes fundamentais do programa nuclear iraniano, cujo desenvolvimento teria sido atrasado por alguns meses, e não décadas, como Trump insiste.
Outra incógnita apontada por especialistas é se o Irã conseguiu retirar parte dos 400 quilos de reservas de urânio altamente enriquecido antes do ataque e esconder o material em algum lugar de seu vasto território.
Furioso com a controvérsia, Trump anunciou que o secretário de Defesa vai falar com a imprensa às 8h00 de Washington (9h00 de Brasília) para "lutar pela dignidade dos grandes pilotos americanos".
A Casa Branca reconheceu que o documento era autêntico, mas "totalmente equivocado". As instalações iranianas ficaram "enterradas sob quilômetros e quilômetros de destroços", disse a porta-voz Karoline Leavitt.
John Ratcliffe, diretor da CIA, afirmou em um comunicado que, com base em "informações confiáveis", o programa nuclear foi "gravemente danificado pelos ataques recentes".
"Golpe duro"
Israel justificou o ataque alegando que o Irã estava prestes a desenvolver a arma atômica. Teerã nega a ambição, mas defende seu direito de desenvolver um programa nuclear para fins civis.
Em uma entrevista à rede Al Jazeera, o porta-voz da diplomacia iraniana, Esmail Baqai, reconheceu que "as instalações nucleares foram consideravelmente danificadas".
Antes da intervenção dos Estados Unidos, Israel havia lançado centenas de ataques contra as instalações, ataques que mataram alguns dos principais cientistas responsáveis por este programa polêmico.
O Exército israelense considerou que a guerra representou um "golpe duro" para o desenvolvimento atômico do Irã, mas que "ainda é cedo para avaliar os resultados da operação", segundo seu porta-voz, o general de brigada Effie Defrin.
Na mesma linha, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) considerou impossível calcular os danos e pediu acesso às instalações nucleares iranianas.
A agência da ONU "perdeu a visibilidade" sobre as reservas de urânio enriquecido "desde que começaram as hostilidades", afirmou seu diretor-geral, o argentino Rafael Grossi.
Apesar das pressões ocidentais e das ameaças diretas dos Estados Unidos e de Israel, antes do conflito o Irã enriquecia urânio a 60%, próximo do nível de 90% necessário para produzir uma arma atômica.
Khamenei celebra "vitória"
A questão delicada foi objeto de várias rodadas de negociações entre Estados Unidos e Irã, que começaram em abril sob a mediação de Omã, mas foram interrompidas pela ofensiva israelense.
Na quarta-feira, após uma reunião de cúpula da Otan em Haia, Trump afirmou: "Vamos conversar na próxima semana com o Irã, poderemos assinar um acordo, ainda não sei".
Seu enviado para o Oriente Médio e líder da delegação que negociou com o Irã, Steve Witkoff, expressou na rede CNBC a "esperança de alcançar um acordo de paz global".
"Temos conversas com os iranianos, múltiplos interlocutores nos procuraram e acredito que estão preparados", disse.
O presidente americano considerou que o cessar-fogo está "funcionando muito bem" e disse que Israel e Irã estão "cansados, exaustos" pelo conflito.
Em seu primeiro discurso desde a trégua, o guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, celebrou a "vitória" de seu país sobre Israel e afirmou que os Estados Unidos "não ganharam nada" com os bombardeios.
"Quero felicitar a grande nação iraniana: antes de tudo por sua vitória sobre o regime sionista", afirmou Khamenei em tom triunfal. O Irã deu um "golpe contundente" nos Estados Unidos, acrescentou.
O aiatolá afirmou ainda que Israel "quase colapsou" com os ataques de Teerã.
O balanço oficial mais recente do Irã, que considera apenas as vítimas civis, informa que a campanha militar israelense deixou 627 mortos e mais de 4.870 feridos. Os mísseis e drones lançados por Teerã como resposta mataram 28 pessoas em Israel, segundo as autoridades.