Beto Lago: 'Sport inicia nova gestão cercada de urgências, dívidas, desorganização e descrédito esportivo'
Matheus Souto Maior assumiu a presidência do Sport nesta sexta-feira (19)
Um grande desafio
Hoje amanhece um novo dia no Sport. Na sala do Conselho, Matheus Souto Maior assume a presidência diante de um dos maiores desafios de seus 120 anos de história. Não é força de expressão. O Leão chega a essa virada depois de uma crise institucional profunda e de um desempenho esportivo vergonhoso em 2025, que escancarou erros de gestão e comando. O processo eleitoral, com três nomes fortes – Matheus, Severino Otávio (Branquinho) e Paulo Bivar – deixou uma mensagem: o que foi feito não funcionou. Os números financeiros indicam um cenário preocupante, que o novo presidente e sua equipe começarão a enfrentar já nos primeiros dias de mandato. Não há período de adaptação. Não há margem para improviso. Como se não bastasse o rombo administrativo, Matheus assume com a obrigação imediata de reorganizar o futebol: buscar um novo treinador, repensar elenco, rever processos e reconstruir um departamento que perdeu identidade. Tudo isso com o Sport já de volta aos gramados no dia 10 de janeiro, diante do Jaguar, pelo Pernambucano. O relógio não perdoa. O episódio envolvendo Léo Condé foi uma experiência amarga e didática. Erros acontecem, mas a partir de hoje, não podem mais ser tolerados. A gestão que começa precisa aprender rápido e agir ainda mais rápido. Nesse sentido, a vinda de um novo Portal da Transparência é mais que simbólica: é obrigação moral. O modelo anterior fracassou, sobretudo por não cumprir sua função básica: informar. Transparência não pode ser discurso. Precisa ser prática diária. Mas talvez o maior desafio seja outro: resgatar a identidade do clube e reconectar o Sport com sua torcida. Sem isso, nenhum projeto se sustenta. Sucesso aos novos dirigentes. A missão é pesada. E histórica.
Recusando a aclamação
É impossível não destacar a coragem de Severino Otávio, o Branquinho, em todo o processo eleitoral. Recusou a “aclamação de gabinete”. Em um ambiente onde atalhos são regra e a conveniência fala mais alto, escolheu o caminho mais difícil: o das urnas. Um gesto raro. E necessário. Qualquer político, seja da esfera pública ou da cartolagem, sabe que o poder, quando oferecido sem resistência, costuma cobrar um preço alto. Branquinho entendeu isso.
O legal e o moral
Ele poderia ter sido eleito pelo Conselho. Estaria amparado juridicamente. Mas faltaria legitimidade. Faltaria alma. Branquinho compreendeu que o Sport não cabe em uma sala fechada. O Sport é gigante demais para isso. Ao optar pelo voto, se expôs. Entrou na “cova dos leões” de uma campanha marcada por redes sociais tóxicas, rótulos fáceis e acusações de continuísmo. Ainda assim, seguiu. Defendeu, na prática, a democracia rubro-negra.
Gesto de grandeza
Branquinho perdeu nas urnas. E perdeu com dignidade. Preferiu ouvir a voz do sócio a vencer no gabinete. Esse gesto deveria ser reconhecido por todo torcedor do Sport. Quem não entende a grandeza dessa atitude talvez ainda não compreenda o tamanho do clube que torce. E poucos conhecem o Sport, por dentro e por essência, como Severino Otávio.