As principais frases que marcaram o 2025 trágico do Sport
Declarações de dirigentes, jogadores e técnicos expuseram o caos vivido na Ilha do Retiro durante uma das piores temporadas da história rubro-negra
A temporada de 2025 do Sport será lembrada não apenas pelos resultados catastróficos em campo, mas pelas frases que, mês a mês, ajudaram a traduzir o caos vivido pelo clube. Entre contratações milionárias, expectativas infladas, colapsos administrativos, crises internas e o rebaixamento antecipado, o Leão viu, em entrevistas, coletivas e desabafos, um retrato fiel da turbulência que se instalou na Ilha do Retiro.
Da euforia das contratações de janeiro ao constrangimento do torcedor, cada declaração viralizada contou um capítulo do fracasso rubro-negro em 2025.
A ILUSÃO COM SÉRGIO OLIVEIRA
Com um investimento próximo de R$ 60 milhões, o Sport começou o ano prometendo um retorno triunfal à Série A. O ponto máximo dessa expectativa foi a chegada do português Sérgio Oliveira, nome de carreira consolidada no futebol europeu: Porto, Roma e seleção portuguesa.
Em suas primeiras palavras como jogador do clube, no início de fevereiro, o meia deu a primeira grande frase da temporada, carregada de emoção, esperança e, como o ano mostraria, simbolismo:
"Ao longo da minha carreira fui percebendo que ser celebrado não é o mesmo que ser suportado. Aqui senti que irei ser celebrado desde o primeiro dia", expressava Sérgio à TV Sport.
A celebração, porém, não veio. Entre uma expulsão polêmica na final do Pernambucano, repetidas lesões e atuações muito abaixo da expectativa, Sérgio Oliveira pouco conseguiu contribuir para justificar o investimento. O discurso inicial virou ironia entre torcedores diante da sucessão de frustrações.
FILA DO PERDÃO
Enquanto o rendimento em campo despencava, as contratações mais caras começavam a virar alvo de contestação. Em abril, o então vice-presidente de futebol Guilherme Falcão, em entrevista à Rádio Jornal, deu uma das frases mais marcantes, e mais criticadas do ano.
Defendendo duas das aquisições mais caras do clube, Matheus Alexandre e Carlos Alberto, o dirigente afirmou:
"São atletas que trabalham arduamente, que se dedicam profundamente, então não tenho dúvida que daqui a pouco muita gente vai entrar na filinha do perdão para esses dois jogadores, reconhecendo tanto o talento, mas principalmente a entrega que eles vão ter ao longo da temporada."
A previsão nunca se concretizou. Carlos Alberto acabou emprestado ao Cuiabá na Série B, e Matheus Alexandre perdeu espaço, chegou a ser afastado e retornou depois. O discurso de Falcão virou um marco do descolamento da diretoria em relação ao desempenho real do time. Um mês depois, o dirigente deixaria o cargo, esse extinto na gestão.
ANTÓNIO OLIVEIRA: "O MAL JÁ ESTAVA FEITO"
O técnico Pepa, primeiro comandante do ano, caiu em 3 de maio após resultados que já davam sinais de que o abismo se aproximava. Seu substituto, o português António Oliveira, durou apenas quatro partidas. Mas deixou uma frase que virou símbolo do entendimento tardio sobre o tamanho da crise:
"O mal não está feito agora, já está feito há muitos meses."
António acumulou três derrotas e um empate, saiu rapidamente, e sua fala seria confirmada ao longo do campeonato.
PREVISÃO FURADA DE ENRICO AMBROGINI
No dia 20 de maio, numa tentativa de reestruturação, o Sport anunciou Thiago Gasparino e Enrico Ambrogini para comandar o futebol. Era mais uma aposta na "profissionalização” da gestão, mas que também se perderia nos problemas acumulados.
Em agosto, em entrevista ao GE, Ambrogini afirmou, dias depois do empate com o Santos em 2 a 2 na Ilha do Retiro, jogo em que o Leão chegou a abrir dois gols no marcador, mas viu o Peixe deixar tudo igual, que casos assim não aconteceriam mais no clube.
"A gente nunca tinha ficado (neste ano) com 2 a 0 na frente no placar e tomamos o empate do Santos. Mas garanto que não acontece mais. No próximo jogo em que ficarmos com dois gols na frente, não vamos perder. Garanto", afirmava Ambrogini no dia 6 de agosto.
Ainda assim, o Sport voltaria a deixar escapar vitórias em três oportunidades, mesmo após sair na frente do placar com dois gols de diferença: empate em 2 a 2 com o São Paulo, na Ilha do Retiro; derrota por 4 a 2 para o Atlético, em casa; e derrota no Rio de Janeiro para o Botafogo por 3 a 2.
DESABAFO DE PABLO
Os resultados ruins acumularam tensão. Após a derrota por 3 a 2 para o Vasco, na Ilha, em setembro, o atacante Pablo, em saída do gramado, soltou um dos desabafos mais sinceros do ano. Era a revelação do cansaço emocional de um elenco que já não encontrava respostas.
"Desculpa a palavra, mas é f*da. O time está sim tendo vergonha na cara, estamos trabalhando todo dia, brigando, mas tem coisas que não conseguimos controlar no jogo", lamentou.
DANIEL PAULISTA EXPÕE FERIDAS
O técnico Daniel Paulista, de grande identificação com o Sport, chegou após a saída de António Oliveira. Em mais uma tentativa da diretoria para estabilizar a área técnica rubro-negra, o comandante também não conseguiu dar jeito no Leão. Único a conquistar as duas vitórias do clube no Brasileirão, parece ter atingido um limite até sua saída, em 28 de outubro.
O técnico foi bastante realista. Na entrevista coletiva após a derrota para o Internacional por 2 a 0, no dia 19, dias antes de sua saída, o treinador disse com clareza que o clube já precisava pensar em 2026. Com o rebaixamento iminente à época, Daniel enfatizou que era hora de tomar decisões.
"O Sport precisa de uma reflexão, para que os erros cometidos este ano não se repitam. Falo como uma pessoa que conhece o clube. Não pode deixar para dezembro esse planejamento para 2026. O Sport precisa deste movimento, independente de ser com o Daniel Paulista ou não."
Daniel deixaria o cargo em 28 de outubro.
"TIME SEM MOTIVAÇÃO E SEM ALMA"
O colapso emocional da equipe ficou evidente no início de novembro. Próximo de confirmar o rebaixamento, após a derrota por 2 a 0 para o Juventude, penúltimo colocado, o meia Lucas Lima confirmou, em entrevista ao Premiere, o que as arquibancadas já vinham notando em relação ao elenco.
"A gente não entrou nem um pouco motivado… A gente vai passar vergonha diante do nosso torcedor. Quero pedir desculpas."
E o goleiro Gabriel, após a mesma partida, foi ainda mais duro:
"Vários jogos que a gente veio, perdeu aqui, disse que a gente batalhou, mas hoje faltou alma contra uma equipe que bateu, que fez falta, e foi o que a gente não fez. Várias partidas a gente veio aqui se justificar ao nosso torcedor, que a gente lutou, se empenhou, mas hoje não. É preciso ser sincero."
VICE- PRESIDENTE NEGA VENDA DA OPERAÇÃO DO JOGO CONTRA O FLAMENGO
O extracampo também roubou a cena no rebaixamento do Sport em 2025, principalmente pela polêmica envolvendo a venda da operação do jogo contra o Flamengo para uma empresa privada por R$ 3 milhões, com o local do confronto sendo transferido da Ilha do Retiro para a Arena de Pernambuco, no dia 15 de novembro.
No dia 3 de outubro, o vice-presidente do Sport, Raphael Campos, afirmava em entrevista ao repórter Jorge Soares, da Rádio Clube, que “não havia nada certo” sobre a partida contra o clube carioca.
"O jogo não tem nem data marcada, então não tem nem como ter um local oficial. Vejo que isso está sendo politizado demais (…) Quando tivermos uma definição, com transparência, vamos apresentar ao torcedor. Não faríamos isso se não fosse o melhor para o clube em questão de receita", afirmava Raphael Campos.
Porém, de acordo com um documento vazado inicialmente pelo jornalista Venê Casagrande, o contrato do acordo já estaria assinado desde o dia 30 de julho. Toda essa questão reforçava o debate sobre a transparência prometida pela gestão rubro-negra, mas frequentemente questionada pela torcida, que não recebeu as informações ao longo do ano.
Ainda sobre o assunto do jogo com o Flamengo, o presidente do clube, Yuri Romão, em entrevista à Rádio Jornal, justificou o acordo e deu uma declaração, divulgada no dia 17 de outubro, que gerou ainda mais repercussão ao citar a Ilha do Retiro, casa rubro-negra, como parte do problema.
YURI ROMÃO DIZ QUE ILHA NÃO COMPORTA GRANDES JOGOS
"A Ilha do Retiro não comporta mais jogos do tamanho do Corinthians, Santos e Flamengo. Não comporta. Qualquer dirigente que sentar nessa cadeira, colocar o CPF, poderá no dia seguinte ao jogo sair daqui algemado, porque pode haver uma desgraça aqui dentro. Ele é o responsável, por uma questão estrutural da Ilha, que tem 88 anos. Não conseguimos colocar a capacidade toda, isso está claro."
As declarações do presidente repercutiram negativamente entre os torcedores e ganharam ampla repercussão nacional nas redes sociais.
A fala, que tinha o objetivo de explicar os motivos da troca do mando de campo, acabou provocando um efeito contrário. Nas redes sociais, rubro-negros criticaram o presidente por, segundo eles, descredibilizar o principal patrimônio do clube. Para parte da torcida, Yuri abriu brecha para que rivais ironizassem a estrutura da Ilha e questionassem sua viabilidade para seguir recebendo grandes partidas.
Um mês depois, na coletiva em que anunciou que deixaria o cargo de presidente em 31 de dezembro, o mandatário voltou a falar sobre a decisão da venda da operação da partida contra o Flamengo e declarou, no dia 14 de novembro, que não esteve envolvido nas negociações.
ARREPENDIMENTO
"Se tem uma coisa que me arrependo foi ter assinado esse contrato, mas às vezes as circunstâncias nos levam. Os valores que foram ofertados (R$ 3 milhões), o fato de o jogo ser na Arena de Pernambuco, dentro da nossa cidade, e a queda de receita que a gente estava tendo… Isso nos obrigou a fazê-lo. (…) As negociações eu não participei em nada, até porque era contra, mas fui obrigado a fazer. Eu não sabia nem os nomes das pessoas que estavam na negociação. Não estou me eximindo da culpa, só estou dizendo que não participei", destacou.
As falas geraram forte debate entre os torcedores pela forma como o acordo foi conduzido, considerada uma das maiores polêmicas da história recente do Sport. A torcida tomou conhecimento apenas após o contrato já estar assinado, somando-se às declarações de Yuri Romão, que afirmou não estar ciente dos envolvidos no negócio, apesar de ocupar a principal cadeira do clube.