Beto Lago: 'Sem favorito para o clássico nordestino neste sábado, no Castelão'
A realidade é dura: Fortaleza e Sport chegam com os mesmos problemas – deficiências técnicas, fragilidade psicológica e pressão insuportável
Tem favorito?
Fortaleza e Sport se enfrentam sábado, no Castelão, e a pergunta que não cala é: há favorito? O torcedor rubro-negro se divide desde o início da semana. De um lado, os que enxergam vantagem para o time cearense; do outro, os que acreditam que o Leão da Ilha pode surpreender fora de casa. Na frieza dos números, não há como colocar o Sport como favorito: duas vitórias em 22 jogos e 90,5% de chances de rebaixamento, segundo o departamento de matemática da UFMG. É estatisticamente uma missão quase impossível. Mas o futebol vive de exceções, e a vitória sobre o Corinthians reacendeu algo que parecia perdido: confiança. Foi na base da garra, da entrega e do suor. Taticamente ainda um time cheio de falhas, mas que mostrou outra postura. O Fortaleza, por sua vez, vive uma campanha decepcionante. Tem apenas quatro pontos a mais que o rival e também faz contas de rebaixamento. A imprensa local apelidou de “sequência da esperança” os próximos quatro jogos (Sport, São Paulo, Juventude e Vasco). Se tropeçar, a esperança vira pesadelo. A realidade é dura: Fortaleza e Sport chegam com os mesmos problemas – deficiências técnicas, fragilidade psicológica e pressão insuportável. Nenhum deles merece o rótulo de favorito. O que existe, sim, é a obrigação de vencer para não afundar de vez.
Ingressos a mais
O borderô de Sport x Corinthians revelou o equívoco administrativo do clube. Ao invés dos 10% de ingressos destinados à torcida visitante, foram liberados bem mais: 4.198 ingressos contra os pouco mais de 2.600 previstos. Resultado: superlotação no setor adversário, espaços abertos, rubro-negros revoltados e áreas vazias por exigência da PM. O clube abriu mão de receber mais do seu torcedor em nome da bilheteria. Em jogo de vida ou morte, dar esse espaço ao adversário é fragilizar a própria equipe.
Tiro no pé
A cena de torcedores de uma uniformizada protestando contra o Náutico no aeroporto, pouco antes da viagem para Campinas, foi mais uma demonstração de como se perdeu a noção no futebol pernambucano. Pressão desnecessária, risco de confusão e efeito prático nenhum. O pior é a narrativa que se cria: se o Náutico vencer, dirão que foi por causa da “cobrança”. É falso e perigoso, pois fortalece a cultura de violência e intimidação.
Pais de castigo
A Federação Paulista lançou um novo vídeo da campanha “Pais de castigo”, após os inúmeros casos de violência nas arquibancadas das categorias de base. As rodadas 16 e 17 do Sub-11 e Sub-12 foram disputadas de portões fechados, sem a presença dos pais. A campanha dá voz às próprias crianças, que relatam sofrerem insultos, racismo, homofobia e assistir às brigas nas arquibancadas. É um choque de realidade. Enquanto os garotos querem jogar bola, os adultos transformam o palco em ringues de ódio. É triste, mas necessário: punir os pais para proteger os filhos. E quem sabe, com vergonha exposta, mudar comportamentos.