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Torcidas organizadas mantêm clima de violência no Recife e agem sem medo de consequências

A escalada do vandalismo teve mais um capítulo na quarta-feira (16), quando membros de torcida organizada invadiram o CT do Sport, promovendo ameaças e até agressão

Por Redação

Organizada do Sport invadiu o CT do clube

Apesar de medidas judiciais e promessas de mudança, a violência envolvendo Torcidas Organizadas persiste em Pernambuco. A escalada do vandalismo envolvendo uniformizadas atingiu mais um capítulo preocupante na quarta-feira (16), quando integrantes de uma torcida organizada do Sport invadiram o Centro de Treinamento do Leão, em Paratibe, e ameaçaram jogadores em protesto contra o mau momento do time na temporada. 

Vários vídeos da ação circularam nas redes sociais. Um deles mostra o atacante Pablo levando um tapa e um puxão forte na camisa, enquanto é cobrado com ameaças por uma reação da equipe no Campeonato Brasileiro. Em tom intimidador, um membro da uniformizada, que tomou a frente na manifestação, afirmou que "todos têm antecedentes criminais", sugerindo que o grupo age com histórico de violência. No dia seguinte (18), a sede da referida uniformizada seguiu funcionando normalmente no Centro do Recife.

Entre os crimes que podem ser investigados estão a "Invasão de Propriedade" (Art. 150 do Código Penal, que pode render detenção de 1 a 3 meses ou multa) e "Ameaça" (Art. 147 do Código Penal, detenção de 1 a 6 meses ou multa).

A reportagem do Diario de Pernambuco questionou a Polícia Civil se alguma investigação estaria em curso e se, com a grande quantidade de imagens disponíveis, seria possível identificar os envolvidos, mas obteve como resposta que "não há registros no sistema". Na quarta (17), a Polícia Militar, em nota, afirmou que "equipes da Corporação chegaram ao local de forma preventiva, antes da chegada dos integrantes de uma torcida organizada, com o objetivo de garantir a ordem pública e a segurança de todos os envolvidos. O ato transcorreu de forma pacífica, sem a necessidade de intervenção policial. Os integrantes da torcida organizada foram recebidos por representantes do clube, e não houve registro de ocorrências relevantes durante a manifestação".

O Sport, através do presidente do Conselho Deliberativo, Ademar Rigueira, fez duras críticas à invasão e criticou o posicionamento oficial da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE). Por sua vez, a Polícia Militar rebateu, afirmando que, durante o período em que esteve no local, não houve qualquer solicitação por parte do Sport Club do Recife para atuação ou intervenção policial, sendo a segurança do Centro de Treinamento de responsabilidade exclusiva do clube. Ressaltou ainda que, até o momento, não foi registrado Boletim de Ocorrência relacionado aos fatos, o que compromete a apuração adequada de possíveis delitos.

A reportagem do Diario de Pernambuco também entrou em contato com Ministério Público de Pernambuco (MPPE), mas não obteve resposta até a publicação da matéria.


HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA

A invasão ao CT do Sport está longe de ser um caso isolado. No primeiro Clássico das Multidões deste ano, em fevereiro, diversos pontos da Região Metropolitana do Recife registraram confrontos entre torcidas uniformizadas de Sport e Santa Cruz. Vídeos mostram brigas generalizadas, cenas de violência sexual contra um dos líderes de uma das facções, pânico entre torcedores comuns, e interrompendo o trânsito em algumas áreas da capital.

Em resposta aos episódios, a Federação Pernambucana de Futebol (FPF), os clubes Santa Cruz, Sport e Náutico, e o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) firmaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o objetivo de romper os laços com as três torcidas organizadas mais violentas do estado. O acordo prevê a exclusão total de qualquer vínculo institucional com esses grupos.

Na prática, a medida parece não ter tido tanto efeito. Na última segunda-feira (17), a sede da empresa de Victor Pessoa de Melo, presidente do Conselho Deliberativo do Santa Cruz, amanheceu pichada com a frase “Sem SAF, sem paz”, em referência à resistência à proposta de transformar o clube em Sociedade Anônima do Futebol. O presidente do Conselho Fiscal, Bartolomeu Bueno, renunciou ao cargo após receber ameaças em suas redes sociais.

O histórico recente também inclui um atentado em fevereiro de 2024 contra o ônibus da delegação do Fortaleza, após partida contra o Sport na Arena de Pernambuco. O veículo foi atacado a poucos quilômetros do estádio, e seis atletas do time cearense ficaram feridos.

EXTINÇÃO

Lembrando que tudo isso segue ocorrendo mesmo após o Tribunal de Justiça de Pernambuco determinar a extinção compulsória das três torcidas organizadas com histórico de violência de Sport, Santa Cruz e Náutico. A decisão, de 18 de fevereiro de 2020, determinou o encerramento das atividades da Jovem, Inferno Coral e Fanáutico, "por episódios constantes de violência, vandalismo e brigas"

Porém, mesmo com proibições judiciais e tentativas de desarticular as torcidas organizadas, essas continuam encontrando formas de driblar a fiscalização: mudam de nome, atuam sem os mesmos uniformes oficiais, mas mantêm os mesmos comportamentos violentos.