Beto Lago: 'Parecer da SAF do Santa Cruz tem ressalvas, erratas, observações e recomendações'
O Santa Cruz está caminhando para implementação da SAF em sua gestão
Parecer da SAF
O Santa Cruz está caminhando a passos firmes para transformar sua gestão em uma SAF. No papel, há compromissos robustos: R$ 1 bilhão em investimentos ao longo de 15 anos e R$ 100 milhões para recuperar o estádio do Arruda, em um prazo de até três anos. Na prática, porém, promessas precisam de mecanismos que as tornem executáveis. E é aí que mora a controvérsia. Li com atenção o parecer da Comissão Fiscal sobre o 5º aditamento do processo de constituição da SAF do Santa Cruz. O parecer aponta recomendações decisivas para que a transformação não seja apenas retórica. Ao analisar o aditamento, a Comissão fez o essencial: aprovou, mas com reservas. Entre elas, a mais sensata é a exigência de que o Santa Cruz mantenha pelo menos 10% do capital votante e econômico, uma garantia mínima para que a alma do clube não seja vendida por incrementos contábeis. Também foi exigida proteção explícita do Estádio José do Rego Maciel. Aqui, não basta promessa. É preciso travar juridicamente qualquer tentativa de aliená-lo, e condicionar transferências à conclusão dos investimentos acordados. O problema é de execução: o documento não esgota como e quem checará se os R$ 100 milhões foram, de fato, aplicados. Não descreve sanções claras em caso de descumprimento e deixa uma lacuna perigosa ao aceitar sem explicação uma taxa de manutenção de 25% sobre receitas de camarotes e cadeiras. São detalhes técnicos, pode-se dizer — mas, no futebol, detalhes decidem destinos. Sem instrumentos como contas vinculadas, garantias bancárias, auditoria independente e cláusula resolutiva automática, o que resta são boas intenções.
Comprovação da capacidade financeira
No quesito “Transparência, fiscalização e governança”, o parecer mostra a necessidade de relatórios semestrais e submissão prévia de alterações contratuais foram recomendadas. A Comissão ressalta a obrigação de incluir cláusula estatutária ou errata vinculante que preveja emissão automática de ações gratuitas se houver diluição. E o mais importante: pede para que se apresente comprovação documental da capacidade financeira dos investidores.
Quem assina o parecer?
O parecer é assinado por sete pessoas, entre elas Manoel de Barros, presidente da Comissão Fiscal, e Bartolomeu Bueno, que é presidente de honra desta comissão. Completam a lista Alexandre Ferreira Araújo, Cláudio Campelo Loureiro, Saulo Henrique da Cunha, Wilson Pedrosa e Bleno Porfírio da Cruz Júnior.
Fiscalizar e legitimar a mudança
Aprovar a SAF pode ser passo necessário para a recuperação financeira. Mas transformá-la em um instrumento útil e honrado exige algo que nenhum contrato substitui: coragem do Conselho e transparência com os sócios. Exigir erratas, garantir mecanismos de fiscalização e condicionar benefícios ao cumprimento de marcos são medidas que preservam o clube e legitimam a mudança. Mais do que um negócio, o Santa Cruz é patrimônio de uma torcida. E é isso que o parecer obriga a proteger.