Beto Lago: 'Com a SAF chegando no Santa Cruz, é hora de pragmatismo e não de romantismo'
Executivo e investidores encontrem o equilíbrio e cabe ao Conselho exercer seu papel histórico: analisar sem paixões
Batendo na porta
Ressurreição. Essa foi a palavra mais usada pelos analistas esportivos para definir o atual momento do Santa Cruz. Sim, o acesso trouxe de volta a esperança a um torcedor que carregou anos de humilhações, fruto de gestões amadoras, elencos frágeis e dirigentes que tratavam a camisa coral como se fosse descartável. Mas o desafio que se apresenta agora é ainda maior: não basta renascer, é preciso não morrer de novo. A gestão de Bruno Rodrigues está diante de um divisor de águas. A SAF não é mais um tema para o futuro: é presente, batendo à porta com força. E qualquer vacilo pode custar caro. Um direcionamento equivocado nesse momento pode ser tão devastador quanto as administrações que empurraram o clube ao fundo do poço. O último aditamento, enfim assinado, abre caminho para análise no Conselho. Há sinais de diálogo com os investidores, que aceitaram alguns ajustes propostos pelo Executivo, o que se torna um lampejo de lucidez. Mas a indefinição sobre o Arruda é o ponto mais sensível. Muitos defendem que o estádio não deve ser entregue à SAF. Discordo. Um clube que mal consegue pagar contas básicas não tem como sustentar sozinho um patrimônio desse tamanho. É hora de pragmatismo, não de romantismo. Que Executivo e investidores encontrem o equilíbrio e cabe ao Conselho exercer seu papel histórico: analisar sem paixões, sem vaidades, mas com a responsabilidade de decidir pelo que é melhor para o Santa Cruz – não para grupos políticos.
Em busca da evolução
Acho interessante quando a gente ouve entrevistas de dirigentes brasileiros dizendo que “os processos estão sendo feitos para buscar uma melhor gestão”, ou “que o clube está evoluindo”. Geralmente, isso significa trocar técnico, anunciar pacotes de reforços, falar que está pagando em dia (como se não fosse obrigação) e posar para fotos ao lado de patrocinadores ou atletas. O problema é que, sem rumo, essa “evolução” não passa de agitação vazia. E, no futebol, agitar sem pensar é receita certa para o fracasso.
Planejamento de curtíssimo prazo
Evoluir é essencial. Mas no futebol, evoluir sem direção é como correr em esteira: você sua, cansa, gasta energia e continua no mesmo lugar. Ou pior, cai. O futebol brasileiro sofre de uma doença crônica chamada “planejamento de curtíssimo prazo”, que ataca até nós da imprensa. Vive-se para o próximo jogo, o próximo clássico, a próxima eleição. E, nesse desespero, se toma a pior das decisões: mudar tudo, o tempo todo, sem saber o que se quer construir. E se não quebrar essa lógica, o acesso recente pode virar só mais uma ilusão passageira.
Desempenho coral nos últimos 20 anos
Basta olhar o desempenho do Santa Cruz nos últimos 20 anos em termos de competição nacional para ver o estrago que foi feito. Foram apenas duas Séries A neste período (2006 e 2016) e três Séries B (2007, 2014 e 2017). Nos demais anos foram sete Séries C e seis Séries D, sem falar que em 2024 ficou sem divisão nacional. Essa é a herança da falta de projeto, da insistência em improvisos e da falta de coragem para não encarar mudanças estruturais.