Georgette Vidor guia equipe do Flamengo no Recife e analisa momento da ginástica brasileira
Em entrevista ao Diario, a coordenadora do Rubro-Negro revela sonhos no esporte, elogia medalhistas olímpicas e exalta a preparação para a disputa no Geraldão
Referência da ginástica artística brasileira, Georgette Vidor desembarca no Recife para mais uma disputa do Campeonato Brasileiro da modalidade. Coordenadora técnica do Flamengo, clube vitorioso desse esporte, ela carrega mais de 35 anos de história no rubro-negro e o peso de contribuir na evolução da ginástica no país.
Aos 67 anos, em entrevista ao Diario de Pernambuco, conta que segue guiando o futuro do esporte, depois de ter participado na formação de nomes como Luísa Parente, Soraya Carvalho, Daniele Hypólito, Jade Barbosa, Flávia Saraiva e Rebeca Andrade.
Além da ginástica, Georgette também possui laços nordestinos, mesmo natural do Rio de Janeiro. Em 1997, a treinadora sofreu um grave acidente com a delegação do Flamengo na rodovia Presidente Dutra, tragédia que vitimou seis pessoas e a deixou paraplégica. Daniele Hypólito, então com apenas 12 anos, também estava no ônibus. Mesmo após o episódio, a treinadora seguiu no esporte e pôde conhecer o estado onde está sendo disputado o Campeonato Brasileiro deste ano.
"Um ano depois do acidente, vim a Pernambuco, em 1998, para Porto de Galinhas e fiquei uma semana. Meu marido nasceu no Recife, mas foi embora muito cedo. Minha família é nordestina, de Natal, e também tenho parentes aqui", relembra.
Dedicação ao Flamengo
Desde 2020, quando retornou ao Flamengo após comandar a seleção brasileira por sete anos, Georgette coleciona títulos. No ano passado, mesmo após enfrentar um mal-estar e ser internada por anemia durante a etapa de João Pessoa, colaborou para que o clube conquistasse ouros femininos nas finais por aparelhos: Rebeca Andrade nas barras assimétricas, Larissa Machado no salto e Hellen Silva no solo e na trave.
"Acho que o fenômeno das meninas, encabeçado pela Rebeca, começou essa revolução no Brasil. Nunca tivemos tantas meninas. Este torneio nacional, que é de base, reúne 1.200 crianças. O Flamengo vem para ganhar, mas eu gosto de saber que podemos não vencer. Isso motiva a gente e também os outros clubes. Sei que as equipes estão cada vez mais preparadas”, afirma.
O que espera do Campeonato Brasileiro no Recife
A atenção à base é um dos pontos centrais do trabalho da coordenadora. Para ela, é da categoria infantil que surgirão as próximas medalhistas olímpicas do país. Com nove atletas da categoria no Recife, no torneio que acontece no ginásio Geraldão, quatro delas ainda no pré-infantil, Georgette exalta a força da preparação rubro-negra.
"É a futura geração. É agora que conhecemos esses atletas para, lá na frente, pensar: ‘aquela criança que eu assisti hoje pode ser uma medalhista olímpica amanhã’. No infantil, no ano passado, ganhamos por 12 pontos. Neste ano talvez não seja assim. Se vencermos, ótimo. Mas o mais importante é que, se houver estrutura e motivação, o Brasil vai ter uma geração espetacular", iniciou
"Acho que é uma equipe muito forte, não temos nenhuma 'fraquinha'. O sistema do Flamengo é diferenciado. Chegamos a um nível de excelência em que, se a ginasta não acompanhar o ritmo, é convidada a sair. Os pais sabem disso. As meninas são avaliadas de tempo em tempo e, se não entenderem a proposta, não ficam. O Flamengo é seletivo em todas as categorias, mas também é formador. É um dos maiores do Brasil, assim como o Cegin, o Pinheiros e o Sesi, que também levam ginastas para a seleção. O Flamengo vem puxando esse carro há muitos anos e esse é o nosso papel", completou.
No Recife, a coordenadora convoca o público para acompanhar de perto as disputas: "As pessoas têm que prestigiar esse Brasileiro de Ginástica Artística aqui, mesmo sem as presenças da Rebeca Andrade e da Jade Barbosa. Estarão em ação ginastas como a Flavinha, a Lorranne, além da Julinha, do Pinheiros, todas medalhistas olímpicas. O show das adultas vai ser excepcional."
Elogios e sentimento ao formar Flávia Saraiva e Dani Hypólito, e reflexão sobre Luísa Parente
Ao longo da carreira, Georgette acompanhou de perto nomes que marcaram gerações. Foi dela o olhar que descobriu Flávia Saraiva em um projeto social no Rio de Janeiro.
"Descobri a Flavinha através do meu projeto social. Tracei a vida dela como atleta e depois a levei para o Flamengo. Ela treinava muito e ficava depois dos treinos, quando todo mundo já tinha saído. Só não chegou ainda mais longe por causa das lesões. É uma honra tê-la vestindo a camisa do Flamengo. Temos duas medalhistas olímpicas na equipe. A Jade está grávida e a Rebeca decidiu tirar um período sabático, merecido, pois o físico precisava desse descanso", contou.
Daniele Hypólito também foi uma das pupilas mais marcantes: "Treinei a Dani por nove anos, fiz a medalha mundial e ela foi finalista olímpica. Infelizmente é pouco lembrada pelo fenômeno que foi. O Brasil não dá a ela o que merecia. A Daiane foi campeã mundial, sim, mas a primeira que abriu a porta foi a Dani. Para mim, foi uma das melhores ginastas que treinei, com as melhores qualidades e maior potencial.”
Já Luisa Parente, outro talento histórico, recebe da treinadora uma reflexão: “Se vivesse nessa época teria sido ainda maior. Pena que não nasceu nesta geração.”
Sonhos ao longo da carreira na ginástica
Se o sonho da medalha olímpica como técnica ficou para trás, Georgette reconhece sua contribuição no caminho até os pódios. Hoje, seu desejo é ainda mais coletivo: ver a ginástica espalhada pelo Brasil.
"O meu sonho era a medalha olímpica. Fiz a primeira medalha mundial com o Brasil como técnica, mas não consegui a olímpica, nem como treinadora, nem como coordenadora. Esse sonho acredito que já perdi, mas contribuí. Essas medalhas que estão vindo têm uma parte minha."
"Você vê o Nordeste repleto de ginástica, o Norte também recebe o esporte. Temos uma atleta do Amazonas que se mudou para entrar na equipe, a Isabela, uma grande ginasta. Meu sonho agora é ver a ginástica acontecer no país. É um esporte que desenvolve características físicas muito importantes na infância e que deveria estar nas escolas. Aos pais, deixo esse recado: se sua filha gostar, incentive", expressou Georgette.