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Setor aéreo atinge recorde histórico, com 10 milhões de passageiros

No mercado doméstico, foram registrados 7,9 milhões de passageiros, enquanto no internacional, esse número chegou a 2,1 milhões

Por Cecilia Belo

Ministro Silvio Costa Filho e Presidente Lula

O setor aéreo brasileiro registrou, em abril de 2025, a marca histórica de 10 milhões de passageiros transportados, somando cerca de 7,9 milhões no mercado doméstico e 2,1 milhões no internacional.

Segundo o relatório de demanda e oferta da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), esta foi a primeira vez que o setor internacional ultrapassou a marca de 2 milhões de passageiros em um mês de abril, desde o início da série histórica, em janeiro de 2000.

Comparado ao mesmo mês do ano passado, o número de passageiros em voos internacionais cresceu 17,2%, enquanto no mercado doméstico houve aumento de 9,6%. No total, a movimentação aérea teve alta de 11,1%.

De acordo com o economista especialista em mercado financeiro, David Batista, o crescimento expressivo do setor internacional pode ser atribuído a uma combinação de fatores. “Há uma valorização recente do real frente ao dólar, o que torna as passagens internacionais mais acessíveis. Também tivemos a retomada do turismo global, especialmente para destinos como Europa e América do Norte", explicou em entrevista ao Diario.

Outros aspectos foram a ampliação de rotas e operações pelas companhias, e o aumento da renda disponível entre as classes médias e altas, impulsionando o turismo de lazer. 

 

Ele pondera, no entanto, que esse ritmo de crescimento deve desacelerar no médio prazo. “É um efeito de base fraca, resultado da retomada após o período pandêmico. A sustentabilidade desse crescimento vai depender de fatores como estabilidade macroeconômica, controle da inflação e continuidade da valorização cambial.”

No mercado doméstico, a demanda aumentou 13,4% em relação a abril de 2024. Já a oferta de assentos por quilômetro cresceu 7,6%. Em voos internacionais, a demanda subiu 14,4%, enquanto a oferta aumentou 12,2%.

Para o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, os dados demonstram o vigor do setor. “Os números recordes da movimentação de passageiros aéreos em abril confirmam que o setor aéreo segue em rota de crescimento, com mais brasileiros voando dentro e fora do país.”

Ele também destacou que este deve ser o “melhor ano da história” da aviação no país, com investimentos em infraestrutura, ampliação da malha aérea e o “compromisso do governo do presidente Lula em promover a conectividade e a eficiência do transporte aéreo nacional”.

Apesar da recuperação no transporte de passageiros, os dados de carga aérea mostram outra realidade. Em abril, o volume de carga internacional cresceu 4,4%, com 74,8 mil toneladas transportadas. No entanto, a carga doméstica caiu 12,5%, totalizando 35,9 mil toneladas.

Segundo o economista, essa divergência reflete o desaquecimento do consumo e da produção industrial no Brasil. “A gente tem uma desaceleração do consumo de bens duráveis, alta dos juros reais e menor expansão do crédito ao consumo. Isso impacta diretamente a demanda por transporte aéreo de carga, usado principalmente para produtos de maior valor agregado e urgência”, analisa.

Além disso, para ele, o transporte rodoviário tem ganhado competitividade Devido ao preço elevado do querosene de aviação, muitas empresas estão migrando para o transporte terrestre em rotas mais curtas. Também é preciso considerar que a logística pós-pandemia se normalizou e as entregas por terra têm se tornado mais eficientes, reduzindo o uso do modal aéreo, especialmente para pequenas encomendas.

Outro fator de destaque é o desafio enfrentado por grandes companhias aéreas brasileiras, mesmo em um cenário de recuperação da demanda. Existe aumento na demanda, principalmente em voos internacionais, mas empresas como Gol e Azul ainda operam sob forte pressão financeira. "Elas enfrentam um passivo acumulado da pandemia, alto custo operacional e dificuldade de acesso a crédito, o que limita a capacidade de expansão”, explica.

Ainda segundo ele, o crescimento da demanda precisa ser acompanhado de investimentos em terminais, pistas e modernização de equipamentos, já que os gargalos como infraestrutura deficiente em aeroportos regionais, custo elevado do combustível e instabilidade cambial também ameaçam o otimismo para 2025. “Tudo isso depende de crédito. Com juros altos e balanços negativos, muitas companhias não conseguem sequer acessar recursos de bancos públicos, como BNDES ou Banco do Nordeste”. 

Apesar dos desafios, o especialista acredita que o setor seguirá crescendo, especialmente no segmento internacional. “Mesmo com todas as dificuldades, o brasileiro continua buscando experiências fora do país. As empresas, por sua vez, seguem apostando em rotas mais rentáveis em moedas fortes como o dólar e o euro”.