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Do primário à feira

Vladimir Souza Carvalho Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras

Por Diario de Pernambuco

Escolar

No curso primário, estivemos juntos, ano a ano, eu e Bosco. No Ginásio, a ruptura ocorreu, por força do nome. Bosco, aliás, João Bosco, ficou na primeira série A. Eu, em função do V, na terceira série C. Nos anos seguintes, somente duas séries, ele, na A, eu, na B. A partir daí, a separação continuou. No Aracaju, eu, pela manhã, no clássico; Bosco, pela tarde, no científico. Na Faculdade de Direito, quando eu estava no terceiro ano, Bosco iniciou o curso. Tivemos, então, três anos na mesma faculdade, ainda à Rua da Frente, mas em anos díspares.

No Ginásio, o ficar em turmas separadas foi positivo. Como éramos da mesma série, só tínhamos um livro para cada matéria, gerando movimento constante, de uma turma para a outra, levando o livro da matéria cuja aula tinha sido dada. O que a aula terminasse primeiro se encarregava da entrega. Era passando um e recebendo outro. Nesse vai e vem, cursamos o segundo, o terceiro e o quarto anos. Fiquei na segunda época, na segunda série, em matemática, junção da minha pouca intimidade na matéria e da falta do poder de transmissão do mestre.

Uma explicação para o fato de termos ingressado no Ginásio juntos: quando Bosco completou o quarto ano primário, não se inscreveu no admissão, se vendo obrigado a repetir o quarto ano. Ninguém lá em casa teve a iniciativa de promover sua inscrição, inclusive o próprio, omissão que simbolizava mais uma certa apatia, que pegou todos nós de surpresa, no que também se traduzia na pouca importância à época do estudo na nossa vida. Passamos batidos.

Tempo de atraso, apesar do Ginásio já apagar onze velinhas. Após, ficamos todos acesos para as matrículas dos anos seguintes, no Colégio Estadual de Sergipe e na Faculdade de Direito, respectivamente. As casas dos avós serviram de pensão. Eu, na de vovô Aristides; Bosco, na de vovô Zeca. Estudamos em turnos diferentes. Um fato estranhei: comprar os livros, canetas e cadernos. No Ginásio, o encarregado era Bosco. Caí em campo. Depois me acostumei. Era o preço da liberdade, eu governando minha vida e tomando as decisões que me interessavam. Depois, muito depois, foi a vez das feiras livres. Me adaptei tão bem que, há muito frequento três feiras por semana. Há sempre algo a mais para comprar. O bocapiu me faz companhia.