Vão acabar com a "segurança jurídica" do Brasil?
A União parece investir contra um dos pilares mais fundamentais do sistema jurídico: não se escolhe que sentenças se quer ou não cumprir.
Está em pauta no Superior Tribunal de Justiça (STJ) uma discussão sobre os prejuízos causados pelas União ao setor sucroalcooleiro. Trata-se do julgamento uma indenização aos produtores de açúcar e álcool reconhecida pela Justiça há 26 anos.
Sob relatoria do ministro Afrânio Vilela, o Recurso Especial 2.202.015/DF foi protelado pelo governo federal. Está sendo examinado um paradigma já estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que teve efeitos de repercussão geral. O julgamento foi iniciado na semana passada, mas acabou sendo suspenso com pedido de vista regimental feita pelo ministro relator.
O processo tem origem em uma ação de conhecimento ajuizada em 1990 contra a União. No mérito, busca-se indenização pelos prejuízos causados pela política de preços do setor sucroalcooleiro, por meio do extinto Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA).
Tal decisão transitou em julgado em 1999. Porém, a União ajuizou uma ação rescisória com o objetivo de desconstituir a sentença, que também fracassou, sendo transitada em julgamento no STF em 2017.
Após 20 anos do trânsito em julgado da ação de conhecimento, quando o processo chegou à fase de cumprimento de sentença, a União interpôs agravo de instrumento contra a decisão que rejeitou sua impugnação. A Justiça homologou os cálculos apresentados, fixou novos honorários e determinou a expedição de precatório. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região não conheceu do recurso, mas reconheceu que o meio adequado seria uma apelação, não o agravo de instrumento.
Em relação aos valores devidos, estes já foram objeto de precatório e encontram-se depositados em conta vinculada ao juízo de origem, o que reforça a ideia terminativa da decisão. Isso vai de encontro ao argumento da União quanto ao alegado risco ao erário, ausência de dotação orçamentária ou qualquer outra justificativa econômica ou fiscal.
Assim, o governo está sendo acusado de relativizar a coisa julgada. Ao tentar reabrir discussões sobre critérios de liquidez, metodologia de apuração e até o período de indenização, a União parece investir contra um dos pilares mais fundamentais do sistema jurídico: não se escolhe que sentenças se quer ou não cumprir.