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Morre a arqueóloga Niède Guidon, aos 92 anos

A arqueóloga Niède Guidon foi pioneira ao defender que o povoamento do continente americano teria ocorrido há mais de 50 mil anos

Por Aline Gouveia - Correio Braziliense

No ano passado, a arqueóloga recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Piauí

A arqueóloga Niède Guidon morreu na madrugada desta quarta-feira (4/6), aos 92 anos. Ela foi das mais importantes pesquisadoras do Brasil. Reconhecida internacionalmente, Niède dedicou a vida ao estudo da região do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, onde liderou escavações que mudaram o entendimento sobre a presença humana nas Américas.

A arqueóloga foi pioneira ao defender que o povoamento do continente americano teria ocorrido há mais de 50 mil anos — muito antes do que se acreditava até então. A causa da morte da pesquisadora não foi divulgada.

Niède fundou a Fundação Museu do Homem Americano e foi responsável por transformar a região da Serra da Capivara de São Raimundo Nonato em um dos mais relevantes sítios arqueológicos do mundo.

Em nota, o Parque Nacional Serra da Capivara lamentou a morte de Niède e ressaltou o legado deixado por ela. "Sua trajetória deixa um legado imensurável para a ciência, a cultura e a memória do nosso país. Seu nome está eternamente gravado na história", diz.

No ano passado, a arqueóloga recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Piauí. Ela foi reconhecida pelas pesquisas arqueológicas realizadas no estado. Na época, Niède agradeceu a honraria e destacou que ainda há muito a ser explorado.

“É uma gentileza imensa receber este reconhecimento pelo meu trabalho, mas quem realmente merece isso é o homem pré-histórico, que deixou esse patrimônio fantástico na região da Serra da Capivara. Ainda há muitas áreas a serem completamente pesquisadas e um número fantástico de sítios arqueológicos a serem explorados”, citou Niède.

Niède identificou mais de 700 sítios pré-históricos, sendo 426 paredes de pinturas antigas e evidências de habitações humanas no Parque Nacional Serra de Capivara, no Piauí. Com seus estudos, a arqueóloga gravou mais de 35 mil imagens, publicou mais de 100 artigos e formou um número relevante de alunos de pós-graduação.

A partir da exploração dos sítios arqueológicos no Piauí e das datações realizadas na Serra da Capivara, que indicaram a existência de ossadas humanas de 15 mil anos, pinturas rupestres de 35 mil anos e restos de fogueiras de 48 mil anos, Niède levantou a hipótese de que os humanos teriam chegado ao continente americano pela África. A conclusão aconteceu após a equipe liderada pela arqueóloga analisar mais de 1,3 mil registros de presença humana pré-histórica na região do Piauí.

Nascida em 12 de março de 1933, em Jaú (SP), filha de mãe brasileira e pai francês, Niède Guidon formou-se em história natural pela Universidade de São Paulo (USP), em 1959. Na Universidade Paris-Sorbonne, ela concluiu especialização e doutorado com uma tese sobre as pinturas rupestres do Piauí.