Pai viaja país em carro com caixão para reabrir inquérito da morte do filho
Lucas Roberto de Souza Botelho, de 22 anos, foi encontrado morto após uma briga com a esposa, em Montes Claros; veja vídeo
Um carro com um caixão no teto, ao som de uma melodia fúnebre, chama a atenção de quem passa pela Praça da assembleia, no Bairro Santo Agostinho, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. "Eu rodo o Brasil com esse carro, pedindo atenção da justiça a uma família enlutada", conta Carlos Roberto Botelho, de 44 anos. Seu filho, Lucas Roberto de Souza Botelho, de 22 anos, morreu em agosto de 2020, no município de Montes Claros, Região Norte do estado. O veículo, que desperta comoção por onde passa, é a maneira que Carlos Botelho encontrou para cobrar a reabertura do inquérito que investigava a morte de Lucas.
Carlos, que atualmente é estudante de direito, por conta da morte do filho, já esteve com o veículo no Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro.
Entenda o caso
O estudante de medicina Lucas Roberto de Souza Botelho, de 22 anos, morreu durante a madrugada do dia 19 de agosto de 2022, no apartamento em que morava com a esposa, na época estudante de enfermagem, no Bairro Ibituruna, em Montes Claros, Norte de Minas.
Segundo o Boletim de Ocorrência, tudo começou com uma discussão entre o casal. A esposa de Lucas contou aos militares que a briga iniciou devido ao "comportamento agressivo" do marido, por conta do uso excessivo de um medicamento que ele estava tomando. No documento, ela afirma que Lucas chegou a ameaçar ela com uma faca. A jovem então pediu ajuda a um vizinho, que acionou a policia. Segundo ela, nos minutos seguintes, o marido começou a passar mal.
Ao chegar ao local, os militares se deparam com a mulher, na janela do apartamento, dizendo que Lucas Roberto de Souza Botelho teria sofrido um mal súbito e estava desmaiado no interior da casa.
Ao tentarem entrar na residência do casal, a esposa informou que não sabia onde estavam as chaves, e pediu que os militares arrombassem a porta e prestassem socorro ao marido. Ainda de acordo com a PM, os policiais entraram no imóvel e encontraram Lucas deitado no chão do quarto do casal, e não chegaram a prestar socorro ao rapaz, pois a própria esposa já estava realizando manobras de ressuscitação no marido. Uma ambulância do Serviço Móvel de Urgência (Samu) também foi chamada. Mas o jovem não resistiu e morreu no local.
A reportagem teve acesso ao atestado de óbito de Lucas, que aponta a causa da morte como indeterminada. A policia chegou a abrir um inquérito para apurar a morte do jovem. Mas o caso foi arquivado, em junho de 2022, pelo juiz Geraldo Andersen de Quadros Fernandes.
Divergência
Carlos contesta o arquivamento do inquérito, o Boletim de Ocorrência e a versão apresentada pela esposa do filho. Ele levanta a hipótese de que Lucas possa ter sido agredido ou ter sofrido algum tipo de violência antes de morrer, e desconfia da versão de que a causa da morte teria sido apenas um mal súbito. "Um jovem de 22 anos, com a saúde intacta", conta Carlos, que acredita que o filho tenha sido vítima de um homicídio. "Classificar como culposo ou doloso cabe à justiça, depois das investigações", afirma.
A reportagem teve acesso ao documento que comunica a decisão do juiz Geraldo Fernandes de arquivar o caso. O juiz aponta que: "Embora a família de Lucas questione a opinião do Ministério Público e da
Autoridade Policial, a respeito do arquivamento, nota-se que diversas diligências foram realizadas durante as investigações e todas elas apontam para uma possível overdose, como a mola propulsora da parada cardiorrespiratória que culminou com a morte do ofendido".
De acordo com o juiz Geraldo Fernandes, no apartamento do casal foram encontradas sete caixas do fármaco "Ritalina", dando indícios de que Lucas fez uso de forma desregrada e continua do medicamento.
O pai do jovem, que confirmou que o filho fazia uso dos medicamentos, discorda que apenas a quantidade do fármaco foi suficiente para levar Lucas à morte. Segundo ele, essa suposição se baseia na leitura de um perito particular, contratado pela família, que apontou a causa da morte como o uso do medicamento, combinado com uma compreensão no tórax, feita por um agente externo, causando uma asfixia. A reportagem pediu acesso ao laudo e a identificação do perito particular, mas Carlos se negou a compartilhar as informações, com a justificativa de que "serão usadas na hora certa".
A reportagem também questionou se a "compreensão no tórax", feita por terceiros, apontada pelo perito particular, poderia ser justificada com as informações do Boletim de Ocorrência, onde os policias relatam que a esposa realizou massagem cardíaca no jovem. Carlos discordou, dizendo que não houve tentativa de primeiro socorros por parte da esposa, mas também se negou a oferecer à reportagem as provas que justifiquem essa afirmação.
Ainda de acordo com o juiz Geraldo Fernandes, foram realizados exames periciais, que não constaram a possibilidade de intervenção de terceiros na morte de Lucas, sendo que a parada cardiorrespiratória se deu por causas naturais, e provavelmente foi provocada pelo uso excessivo de Ritalina, substância que inclusive foi encontrada no exame feito em suas vísceras.
Ainda em entrevista ao Estado de Minas, o pai de Lucas alega que a briga começou após o filho desconfiar de uma traição da mulher, com um outro morador do prédio. E que não houve agressão física nem ameaça com uso de faca. Novamente questionado a respeito de provas, Carlos aponta a existência de um vídeo, que ele optou por não compartilhar com a reportagem.
O pai afirma que vai permanecer em Belo Horizonte, realizando sua manifestação, até esta sexta-feira (23/5). "Montamos esta manifestação pois queremos que a justiça aponte os autores do crime que ocorreu naquela madrugada", encerra.
Confira as informações no Estado de Minas.