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Engenheiro gaúcho deixou carreira de 25 anos e se tornou artista plástico no Recife

Após décadas calculando estruturas como engenheiro civil, o gaúcho Marcos Porto trocou a prancheta pela tela e hoje sustenta uma carreira de artista plástico morando no Recife

Por Allan Lopes

Artista plástico Marcos Porto

Por muito tempo, Marcos Porto acreditou que sua história estava escrita em linhas retas e cálculos exatos. Formado em Engenharia Civil, construiu uma carreira sólida na área. Aos poucos, porém, a vontade de pintar, adormecida desde a infância, foi falando mais alto. Ressurgiu primeiro como passatempo, depois como refúgio e, finalmente, como missão de vida. Em comum entre os dois ofícios, o artista plástico gaúcho explora o rigor das formas. Por outro lado, a grande diferença é a liberdade e as cores vibrantes do Recife, cidade que escolheu para viver.

O impulso inicial veio do cansaço. A profissão que exerceu por 25 anos em grandes corporações, lhe trazia angústia e a sensação de ter uma vida engolida pelo trabalho. “Eu acabei esquecendo totalmente desse meu lado de artista”, lamenta Marcos, em conversa com o Viver. Na tentativa de reencontrar esse lado perdido, e na contramão da rotina exaustiva, ele decidiu entrar um dia em uma loja de materiais de arte, sem nunca ter feito um curso sequer. Comprou tela, tintas e pincéis e, a partir daí, passou a pintar todas as noites ao chegar em casa.

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A busca por uma vida diferente culminou em idas e vindas. No fim dos anos 1990, viveu um autoexílio criativo na Serra Gaúcha. Lá, longe dos canteiros de obra, ele se dedicou apenas à pintura e começou a colher os primeiros frutos. A renda incerta da arte não se equiparava à segurança da engenharia. Assim, após alguns anos, ele retornou à profissão de origem, deixando a pintura novamente em standby. até que, já morando no Rio de Janeiro, em 2010, tomou a decisão definitiva de sobreviver apenas das artes plásticas.

Seu último ato como engenheiro foi participar de um projeto que se tornaria ícone na teledramaturgia: o Edifício Ventura Corporate, erguido há 16 anos na Avenida República do Chile, no Centro do Rio. O prédio passou a ser cartão postal da cidade ao se tornar a sede da companhia aérea fictícia TCA no remake de Vale Tudo. “Vê-lo na televisão trouxe de volta aquele orgulho de ter participado”, celebra. “Como engenheiro e entusiasta de artes plásticas, me emocionou muito”, afirma Marcos.

Apesar de ter deixado a engenharia, a marca do ofício antigo simplesmente migrou para as telas. “Trabalho muito com círculos, retângulos, retas, curvas e todos os meus quadros acabam tendo, digamos, uma fórmula matemática”, brinca Marcos. Ao mesmo tempo, há uma profusão de cores que nenhum projeto de construção jamais previu. “Meu trabalho é exato, claro, mas às vezes puxo para algo mais orgânico”, explica ele, que já fez telas exclusivas para a atriz Hermila Guedes, a cantora Lia Sophia, a jornalista Fabiane Cavalcanti, entre outros.

Desde 2019 fixado no Recife, o artista atribui à cidade a explosão cromática de sua obra. Sua ligação com a capital pernambucana, porém, remonta a uma temporada de oito anos morando na capital, entre 1986 e 1994. “Mesmo começando a pintar profissionalmente no Rio, em 2010, acho que meu diálogo com a arte recifense já estava presente”, diz. Entre linhas e formas, o Recife está lá, não como cenário, mas como cor e sentimento.