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Livro 'Votos' reúne trajetória do artista pernambucano Renato Valle

'Votos', livro que decifra a relação entre fé e poder na obra de Renato Valle, será lançado neste domingo (23) no MEPE com distribuição gratuita

Por Allan Lopes

Bruno Albertim, Renato Valle e Diogo Dobbin,

Há um Brasil que pulsa nas entranhas da obra do artista plástico recifense Renato Valle para além das galerias de arte. É o mesmo Brasil que habita os noticiários, as câmeras legislativas e os altares das igrejas, revelando uma nação esfacelada entre o sagrado, o político e o social. O jornalista, antropólogo e escritor Bruno Albertim desbrava esse território no livro Votos, que lança novos olhares sobre a trajetória de Renato. A publicação será apresentada neste domingo, das 14h às 17h, no auditório do Museu do Estado de Pernambuco, com distribuição gratuita.


Com 200 páginas coloridas e capa dura, Votos usa o duplo sentido do título, entre votos religiosos e políticos, para guiar o leitor pela obra de Renato. Albertim demonstra como Renato transformou o desenho – tradicionalmente visto como linguagem menor – em um campo de batalha conceitual. O volume traz uma seleção de obras e séries que marcaram sua pesquisa visual, entre elas Diários de Votos e Ex-votos, Diálogos, Cristos e Anticristos e MMA Baby.


A gênese do projeto remonta a uma sugestão de Diogo Dobbin, responsável pela iconografia e montagem da exposição Religiosidade e Política na Obra de Renato Valle, na Galeria Janete Costa, que identificou a necessidade de um trabalho editorial à altura da produção de Renato. A escolha natural de um autor recaiu sobre Bruno Albertim, que não apenas havia realizado uma extensa reportagem sobre o trabalho do artista, como também já havia se debruçado sobre sua trajetória na biografia não convencional Renato Valle, lançada pela Cepe no ano passado.


Para dar conta do novo desafio, Albertim precisou mapear uma jornada que, desde os primeiros salões de arte dos anos 1980 até as grandes instalações em instituições como o Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, se constrói sobre a relação simbiótica entre fé e poder no Ocidente. “Renato tira o desenho de sua dimensão tradicional para demonstrar seu domínio e capacidade de subverter diversas linguagens”, aponta, em conversa com o Viver. Ele destaca ainda o aspecto técnico da obra, com trabalhos que chegam a três metros. “São centenas de lápis consumidos pela subjetividade exata que ele deseja imprimir a cada personagem”, diz.


Crítico do debate político contemporâneo, que classifica como “rasteiro” e “superficial”, o artista encontra refúgio e expressão para as angústias em suas múltiplas frentes de criação, como o próprio desenho, pintura, gravura, fotografia e escultura. “Não busco comunicar algo específico, nem atingir alguém com minha arte. Ela funciona, para mim, como uma espécie de expurgo”, explica ele ao Viver. “É a minha forma de me conectar com o mundo e expressar o que penso e sinto”, completa.