Como o Diario se tornou personagem de 'O Agente Secreto'
Jornal mais antigo em circulação na América Latina é um dos personagens que marcam 'O Agente Secreto', que já foi visto por mais de 700 mil pessoas desde sua estreia
Quem já viu O Agente Secreto, que entra agora na sua terceira semana e já acumula mais de 700 mil espectadores pelo Brasil, sabe que há um personagem tão importante para a trama e para a atmosfera quanto qualquer outro grande ator do elenco: o próprio Diario de Pernambuco. Ambientada em 1977, a obra utiliza matérias reais e outras inventadas para documentar a memória do Recife e do Brasil daquele período.
O jornal mais antigo ainda em circulação da América Latina, que comemorou seus 200 anos exatamente na semana da estreia nacional do longa pernambucano, tem sua manchete estampada em cenas-chave revelando o saldo de mortos do carnaval do Recife, resultado da época repressora da Ditadura Militar. E em um dos mais emblemáticos momentos do filme, é o veículo que narra o caso pitoresco da Perna Cabeluda — lenda urbana que, na vida real, passou a circular pela boca dos pernambucanos a partir de uma crônica de Raimundo Carrero.
Ao longo dessa narrativa carregada de suspense, drama e muito humor, existe um coração temático pulsante que aponta para a importância da memória e do arquivo na formação cultural e intelectual de um país. Tanto o protagonista Marcelo, vivido por Wagner Moura, quanto outros personagens que aparecem ao longo de O Agente Secreto estão à procura de registros de pessoas, das quais o regime e, tragicamente, o tempo às vezes dão conta de apagar da história.
Reconhecido como guardião de algumas das principais memórias de Pernambuco, do Brasil e do mundo dos últimos dois séculos, o Diario, naturalmente, foi basilar no processo de pesquisa para o filme, que teve sua gênese já no longa anterior do cineasta, o doc Retratos Fantasmas. O diretor de arte Thales Junqueira, junto à sua equipe, foi responsável pela reprodução precisa do estilo gráfico do jornal no período.
Já o jornalista Cleodon Coelho, pesquisador do filme, escreveu as matérias que aparecem na projeção, utilizando tanto as indicações do roteiro quanto as invenções típicas dos colegas que escreviam sobre a Perna Cabeluda. Há ainda nesses exemplares, a convite de Cleodon, textos de Tiago Barbosa, Robson Gomes e Luiz Joaquim, como se escritos na época.
Parte indivisível das inúmeras histórias, causos e lendas refletidas na intrincada e comovente trama de O Agente Secreto, o Diario é, neste momento, também estrela de cinema.