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Como o Diario se tornou personagem de 'O Agente Secreto'

Jornal mais antigo em circulação na América Latina é um dos personagens que marcam 'O Agente Secreto', que já foi visto por mais de 700 mil pessoas desde sua estreia

Por Andre Guerra

Reprodução precisa do Diario de 1977 permeia narrativa do filme

Quem já viu O Agente Secreto, que entra agora na sua terceira semana e já acumula mais de 700 mil espectadores pelo Brasil, sabe que há um personagem tão importante para a trama e para a atmosfera quanto qualquer outro grande ator do elenco: o próprio Diario de Pernambuco. Ambientada em 1977, a obra utiliza matérias reais e outras inventadas para documentar a memória do Recife e do Brasil daquele período.

O jornal mais antigo ainda em circulação da América Latina, que comemorou seus 200 anos exatamente na semana da estreia nacional do longa pernambucano, tem sua manchete estampada em cenas-chave revelando o saldo de mortos do carnaval do Recife, resultado da época repressora da Ditadura Militar. E em um dos mais emblemáticos momentos do filme, é o veículo que narra o caso pitoresco da Perna Cabeluda — lenda urbana que, na vida real, passou a circular pela boca dos pernambucanos a partir de uma crônica de Raimundo Carrero.

Ao longo dessa narrativa carregada de suspense, drama e muito humor, existe um coração temático pulsante que aponta para a importância da memória e do arquivo na formação cultural e intelectual de um país. Tanto o protagonista Marcelo, vivido por Wagner Moura, quanto outros personagens que aparecem ao longo de O Agente Secreto estão à procura de registros de pessoas, das quais o regime e, tragicamente, o tempo às vezes dão conta de apagar da história.

Reconhecido como guardião de algumas das principais memórias de Pernambuco, do Brasil e do mundo dos últimos dois séculos, o Diario, naturalmente, foi basilar no processo de pesquisa para o filme, que teve sua gênese já no longa anterior do cineasta, o doc Retratos Fantasmas. O diretor de arte Thales Junqueira, junto à sua equipe, foi responsável pela reprodução precisa do estilo gráfico do jornal no período.

Já o jornalista Cleodon Coelho, pesquisador do filme, escreveu as matérias que aparecem na projeção, utilizando tanto as indicações do roteiro quanto as invenções típicas dos colegas que escreviam sobre a Perna Cabeluda. Há ainda nesses exemplares, a convite de Cleodon, textos de Tiago Barbosa, Robson Gomes e Luiz Joaquim, como se escritos na época.

Parte indivisível das inúmeras histórias, causos e lendas refletidas na intrincada e comovente trama de O Agente Secreto, o Diario é, neste momento, também estrela de cinema.