Gabriele Leite celebra a força feminina na composição em novo disco Gunûncho
'Gunûncho', disponível em vinil e plataformas digitais, marca a estreia da instrumentista como compositora
A violonista Gabriele Leite lança nesta terça-feira (18) seu segundo álbum, Gunûncho, pela Gravadora Rocinante. O trabalho chega em vinil e nas plataformas digitais, reunindo obras de Chiquinha Gonzaga, Lina Pires de Campos, Tania León e Thea Musgrave, além de composições próprias.
Mais do que um repertório inédito, o disco marca a estreia de Gabriele como compositora e propõe uma escuta sobre como mulheres de diferentes tempos e lugares escreveram para um instrumento historicamente ocupado por homens. “O impacto desse disco, para além do manifesto, é dar relevância a essas obras que sempre estiveram por aí. Não digo que é uma responsabilidade, porque não deveria se tratar de ‘mulheres que gravam mulheres’, mas de entender por que esses repertórios não têm a mesma ênfase”, reflete Gabriele. “Eu digo que esse disco é um questionamento.”
O título do álbum nasce de uma memória de infância. Gunûncho era o nome da mantinha de dormir que a mãe de Gabriele, Edelzuita Leite, lhe deu quando criança. A lembrança se tornou metáfora para o processo de criação, um gesto íntimo, tecido de afeto e atenção aos detalhes. “É como dar um zoom num pedaço de pano, entender toda a trama por trás de algo que parece simples, mas é cheio de nuances. O disco tem esse mesmo gesto de aproximação com as obras, de entrar na estrutura de cada peça”, explica.
A artista, reconhecida como uma das principais intérpretes do violão clássico de sua geração, conta que o impulso de compor surgiu em um inverno rigoroso em Nova Iorque. “Eu estava vendo um documentário do Gilberto Gil, e toda aquela produção musical me inspirou a tentar compor alguma coisa. Foi assim que nasceram os nanos estudos, que eu chamo de Gunûnchos”, diz. “São pequenas ideias que expandem aquilo que sempre me motivou como intérprete: pensar o violão também como instrumento de percussão, com o ritmo como pilar.”
Mulheres em diálogo
Ao reunir compositoras que não eram violonistas, Gabriele buscou expandir o olhar sobre o instrumento. “A ideia é fomentar diferentes tipos de escrita para o violão e trazer ao público uma escuta diversificada, talvez até despertar curiosidade para ouvir outras mulheres compositoras”, afirma.
No repertório, a cubana Tania León, radicada nos Estados Unidos, aparece com Paisanos Semos!, uma das obras mais radicais do disco; a escocesa Thea Musgrave contribui com peças que reforçam a vitalidade de compositoras ainda ativas; enquanto no eixo brasileiro estão Chiquinha Gonzaga, pioneira da música popular, e Lina Pires de Campos, figura essencial da música de concerto no século XX.
Em um trabalho que celebra a autoria feminina, nada mais justo que convidar uma mulher para assumir a produção musical. Pianista, com uma indicação do Grammy Latino, Erika Ribeiro trouxe ao projeto uma escuta apurada que ajudou na construção do disco. “A Erika adiciona uma camada de análise musical e performance que só alguém com o escopo dela poderia trazer. Foram insights valiosos durante a gravação, que expandiram meu olhar enquanto artista”, comenta Gabriele.
O disco tem direção artística da própria Gabriele e Sylvio Fraga, e participação de Vitória Cardoso, produtora e companheira da artista, além do poeta Pedro Mattos, que colaborou no processo criativo.
Para Gabriele, Gunûncho é uma celebração da escuta, daquilo que é íntimo e, ao mesmo tempo, coletivo. “A composição nasce da escuta. E escutar é também uma forma de lembrar”, diz.