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Laura Finocchiaro resgata Malabi, trilha da TV Colosso, no ritmo da ciranda

Figura fundamental nas trilhas sonoras da TV brasileira, Laura Finocchiaro imprime sonoridade pernambucana em nova versão de Malabi, clássico do programa infantil

Por Allan Lopes

Cantora, compositora e multi instrumentista Laura Finocchiaro

Referência na cena musical independente desde os anos 1980, a gaúcha Laura Finocchiaro soma mais de 20 álbuns lançados — entre LPs e EPs — e diversas músicas incluídas em coletâneas e trilhas sonoras para televisão, teatro e documentários. O universo infantil se tornou uma parte especial dos seus mais de 40 anos de carreira, com destaque para sua contribuição no programa TV Colosso, sucesso da TV Globo na década de 1990. Aproveitando o resgate do projeto, que agora está disponível no Globoplay, Laura lançou recentemente uma nova versão de Malabi, uma das 12 canções que compôs especialmente para a atração.

 


Quando decidiu regravar a faixa, Laura estava em Olinda e lembrou do DJ Buguinha Dub, conhecido pelos trabalhos com Nação Zumbi e BaianaSystem, para ajudá-la a transformar a pegada eletrônica da versão original, incorporando a identidade cultural de Pernambuco através da ciranda. “Eu estava na terra de músicos que considero de nível altíssimo, com um swing único, e decidi aproveitar para gravar alguma coisa”, resume a cantora, compositora e multi instrumentista em conversa exclusiva com o Viver. Ela está casada há 20 anos com a jornalista caruaruense Maria Cleidejane, motivo de suas constantes visitas ao estado.


A grande influência musical de Laura foi a irmã mais velha, Lorice Maria, ou Lory F., como ficou conhecida no rock. “Tudo o que eu escutava, de Mutantes a Pink Floyd, passando por Jimi Hendrix, Janis Joplin, Genesis, The Who e Rolling Stones, era Lory quem me mostrava”, ressalta. Juntas, criaram a primeira banda, Pau e Pedra Musical Clube, e montaram o primeiro estúdio em casa. Laura recorda, com carinho, da primeira aula de violão: “Fui de mãos dadas com a Lory, aos nove anos. Eu fiquei, ela fugiu. Não tinha saco pra MPB”, diverte-se.


Mesmo tendo seguido por um caminho mais pop, ela preservou o espírito da contracultura vivido dentro de casa. Esse impulso libertário a levou a experimentar fusões sonoras, colocando-a na vanguarda da música eletrônica no país, sobretudo nos espaços alternativos de São Paulo. Em uma dessas apresentações, na casa noturna Madame Satã, Cazuza estava lá, entre as cem pessoas da plateia. “Ele veio até o camarim, me abraçou e disse: ‘Te amei. Quero ser teu parceiro’. Fiquei em choque”, relata. Depois, o ícone carioca gravou Tudo É Amor, composta por Laura. Ela ainda colaborou com Ney Matogrosso, Edson Cordeiro e Vange Leonel.


Em 1991, ganhou projeção nacional após ser a primeira artista independente selecionada para o Rock In Rio. “Foi como se eu tivesse feito meu doutorado na música”, celebra. Na ocasião, abriu os shows de Prince, Carlos Santana e Alceu Valença, e ainda foi apontada como revelação nacional do evento. No palco, apresentou misturas então improváveis, com cavaquinho, guitarra e surdo dialogando se entrelaçando a samples, grooves eletrônicos e influências orientais, que seriam consolidadas no álbum Laura Finocchiaro (1992) e aprofundadas em Ecoglitter (1998), em um som à frente do seu tempo.


Após revolucionar a trilha sonora da televisão brasileira com seu trabalho na Casa dos Artistas, no SBT, e em A Fazenda, na Record, Laura dedica-se integralmente à carreira como cantora desde 2014, resistindo às lógicas da indústria como sempre fez desde os anos 1980. “A gente precisava mesmo era de um mercado cultural que não exclui quem não tem grana, mas tem história, talento e algo a dizer”. Três qualidades que, aliás, nunca faltaram na sua trajetória.