'Jovens Mães' expõe estagnação formal e dramática dos Irmãos Dardenne
Apesar de boas atuações, novo filme dos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne (de 'Rosetta' e 'Dois Dias, Uma Noite') soa uma repetição da fórmula realista dos cineastas
Um abrigo destinado a gestoras adolescentes — algumas praticamente crianças — é onde se encontram as cinco personagens principais do novo filme dos irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne, belgas que ganharam o mundo com filmes como Rosetta e A Criança (ambos vencedores da Palma de Ouro, respectivamente de 1999 e 2005) e, desde então, se firmaram entre os principais autores do cinema independente europeu.
Exibido em competição no 78º Festival de Cannes (onde levou o troféu de Melhor Roteiro) e trazido ao Brasil em primeira mão pela 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Jovens Mães revela as vantagens e as fragilidades dessa instituição retratada pela história. A produção dá uma atenção especial a duas das protagonistas: Perla (Lucie Laruelle), que mantém a expectativa de que seu namorado assuma o filho, e Ariane (Janaïna Halloy Fokan), que está prestes a entregar seu bebê a uma família adotiva, a contragosto da sua mãe, uma mulher alcoólatra e agressiva em constante promessa de mudança.
Algumas das linhas narrativas desembocam em situações realmente mais intensas do que outras. Mas o que os diretores fazem em todas elas é observar, com o máximo possível de naturalidade, o modo como a maturidade forçada e a infantilidade esperada são indivisíveis no olhar e nos gestos dessas meninas. Ainda que não navegue em terreno temático novo, Jovens Mães encontra emoções genuínas no seu percurso graças, sobretudo, à entrega de boa parte do elenco.
Desde Dois Dias, uma Noite, filme que indicou Marion Cotillard ao Oscar de Melhor Atriz, os Dardenne, porém, já haviam tornado seu projeto de cinema notavelmente mais inflexível. E, se o olhar sensível sobre questões da classe baixa já demonstrava algum sinal de esquematismo nos seus últimos projetos — incluindo O Jovem Ahmed (2019) —, aqui ele se dilui quase completamente.
A câmera trêmula em busca da verdade desse mosaico criado pelos irmãos acaba sendo mais responsável por momentos, trechos situacionais com algum apelo emocional, do que por um conjunto que fortaleça o tema. Não há em Jovens Mães a singularidade na encenação, que havia em Rosetta, por exemplo, justamente porque a principal sensação que ele passa é que a prioridade dos realizadores está em eleger um assunto para bordá-lo do exato mesmo tecido.
O resultado é um filme que, em uma leitura menos generosa, poderia até ser chamado de oportunista de pauta, mas como em diversos momentos os Dardenne conseguem transmitir autenticidade nas suas intenções, Jovens Mães dificilmente deixará qualquer mácula na obra dos irmãos. É uma pena, no entanto, que, no lugar de propor novas perspectivas e olhares desafiadores para questões tão delicadas, eles estejam cada vez mais em um limbo de apreciação de gosto médio. O desconforto transformado, enfim, no conforto.