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'Sirât' abre 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com clima de perplexidade

Carregado filme espanhol que venceu o Prêmio do Júri do Festival de Cannes 2025, 'Sirât' dividiu opiniões na sessão de abertura da Mostra

Por Andre Guerra

Na última quarta-feira (15), foi dada a largada da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com a exibição do polêmico filme espanhol Sirât, de Oliver Laxe, ainda sem data de estreia no Brasil. O evento que reunirá mais de 370 títulos em sessões distribuídos na capital paulista — em uma programação que contará com sessões aguardadas de filmes de realizadores pernambucanos, como O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, Gravidade, de Leo Tabosa, e Dolores, de Marcelo Gomes (dirigido em parceria com Maria Clara Escobar).

A sessão de abertura contou ainda com a presença do aclamado cineasta americano Charlie Kaufman, vencedor do Oscar pelo roteiro de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Foi exibido na ocasião o curta do diretor Como Fotografar um Fantasma.

Já o aguardado Sirât, que venceu o Prêmio do Júri no 78º Festival de Cannes, foi apresentado pelas atrizes Stefannia Gadda e Jade Oukid, que compõem o elenco. A produção é candidata da Espanha por uma vaga no Oscar 2026 de Melhor Filme Internacional e já chegou provocando reações de amor e ódio.

Na trama, Luis (Sergi López, de O Labirinto do Fauno) vai com seu filho pequeno Esteban (Bruno Núñes) ao deserto de Marrocos à procura de sua filha mais velha, que aparentemente fugiu de casa para uma das raves clandestinas que acontecem na região. Quando um grupo punk parece ter alguma pista para ajudá-los, os dois seguem pelo lugar hostil em sua precária van. A jornada que já parecia árdua, porém, se revela uma brutal jornada de sobrevivência.

Em Cannes, o filme já havia causado consternação pela sua principal guinada de roteiro e seus desdobramentos de ordem existencial. Na Mostra, novamente, a crítica se dividiu entre a admiração pela ousadia narrativa de Sirât, além dos elogios ao seu intenso trabalho sonoro (reforçado pela música eletrônica de Kangding Ray), e a absoluta rejeição ao seu niilismo.

A meia hora final do longa de Oliver Laxe (também responsável pelo elogiado O que Arde) é particurmente um momento decisivo, em que o espectador compra totalmente a proposta absurda e brutal do diretor ou condena por completo o seu apelo ao choque. Ficar indiferente é que, nesse caso, parece quase impossível. 

Em entrevista ao Viver, a diretora da Mostra, Renata de Almeida, defendeu a escolha de um filme tão impactante para abrir o festival. "É um trabalho que reflete bem as tensões desse mundo que a gente está vivendo hoje. A palavra 'Sirât' se refere a uma ponte fina sobre o inferno que você atravessa para chegar ao céu, e as pessoas muitas vezes sentem que a gente está vivendo sobre essa ponte nos últimos tempos", destaca. "Sei que é uma escolha ousada para abrir, mas acho que uma das coisas mais importantes da Mostra é provocar e gerar debates".