Colecionador de discos conta ao Viver sua trajetória transformadora
Fred Souza mudou completamente estilo de trabalho e se voltou para sua maior paixão, abrindo a loja de discos Pulga
Há alguns anos, a devoção pelos discos deixou de ser um hobby para Fred Souza e se transformou em um estilo de vida que o preenche e completa. Ao menos é assim que o colecionador descreve para o Viver a sua curiosa trajetória, impactada pela música, e que, hoje, também transforma o dia a dia de amantes do vinil de vários gostos e idades.
Após passar quatro anos morando em Toronto, no Canadá, e depois mais oito trabalhando no setor comercial de uma companhia aérea, Fred resolveu mudar totalmente de ramo e se dedicar integralmente ao universo dos vinis, idealizando em 2020, no começo da pandemia da Covid-19, a loja Pulga Mercado de Discos, nome inspirado no inglês flea market, que em tradução literal significa ‘mercado de pulgas’ e é uma designação comum para feiras e bazares de antiguidades e artigos usados. E foi aí que tudo mudou completamente em sua vida.
Formado em Turismo, mas com gosto musical eclético desde muito jovem, Fred aprendeu a tocar guitarra aos 10 anos e se tornou fã de rock internacional, tendo vivido sua adolescência entre o final dos anos 1980 e o começo dos anos 1990 e captado toda a efervescência sonora do estilo musical que contaminou o mundo durante o período. Bandas como The Smiths, Metallica, e, sobretudo, Guns N’ Roses estão entre as muitas influências que mobilizaram seu repertório, consolidando um apetite por fazer do universo dos discos uma construção constante de afetos.
Com o primeiro endereço na Rua Conselheiro Portela, no Espinheiro, e atualmente instalada na Squina 48, na Encruzilhada, a loja se tornou um ponto de encontro para amantes de mídia física, além de um espaço de compartilhamento de diversas histórias. “Eu sempre fui um cara muito curioso. Gosto de conhecer o que está por trás de cada peça, toda a narrativa que levou aquele objeto até aquele lugar, as mãos por quem passou. É esse acúmulo de narrativas, valores agregados e trocas de todos os dias que me satisfaz”, conta o colecionador e idealizador da Pulga, enquanto põe o álbum que Caetano Veloso gravou em 1971, em Londres.
Públicos de diferentes gerações, mas especialmente a partir dos 30 anos, aparecem na loja para adquirir itens, que incluem também CDs, compactos, camisetas customizadas e bolsas personalizadas. De acordo com Fred, o modelo de organização adotado para seu trabalho é majoritariamente importado. “Tanto o formato da loja quanto os objetos à venda vêm muito daquilo que eu aprendi na gringa”, afirma. “Aqui, esse ainda é um meio em expansão, inclusive porque só temos três fábricas de vinil no Brasil atualmente”.
Aprofundando-se nesse nicho a cada ano e sempre em busca de novas aquisições — através de viagens, grupos online, parcerias com outros vendedores e clientes —, Fred percebe o aumento gradual do interesse do público juvenil, atribuindo isso a um novo momento que o formato está ganhando. “Os holofotes estão se voltando para os vinis nesse período ainda pós-pandêmico, e isso se reflete na clientela da loja, uma galera entre 18 e 25 anos se aventurando por esse mundo. Isso em diversos gêneros musicais, incluindo os brasileiros”.
Nada mais satisfatório para ele, como colecionador, do que ver uma paixão tão pessoal se perpetuar, mesmo em uma era tão digitalizada. Seu trabalho, afinal, preserva as notas e registros que marcaram a memória sonora de tantas juventudes. “Eu costumo dizer que minha vida inteira foi um estudo para que eu pudesse ser, hoje, vendedor de disco. Meu lazer virou o meu ofício”, reafirma, colocando mais um vinil na vitrola.