Roberta Sá apresenta 'Tudo que Cantei Sou' no Teatro do Parque
Cantora Roberta Sá apresenta neste sábado (27) show que representa celebração de sua carreira no Teatro do Parque
Entre a delicadeza do bandolim e a intensidade de uma intérprete que fez da canção sua casa, Roberta Sá desembarca no Recife neste sábado para apresentar Tudo Que Cantei Sou, no palco do Teatro do Parque. À primeira vista, poderia parecer apenas uma celebração de carreira no formato intimista. Mas o show, promete ela, revela-se mais do que isso: um gesto de síntese, de proximidade e de confissão artística de quem percorre há duas décadas os caminhos da música brasileira.
“É um show de emoções profundas, para dentro”, revela ao Diario. O formato enxuto, com apenas voz, bandolim (Alan Monteiro) e violão (Gabriel de Aquino), cria uma atmosfera de escuta atenta e cumplicidade, onde cada verso e cada silêncio ganham peso.
O repertório, que atravessa canções de álbuns como “Braseiro” a “Segunda Pele”, é também uma forma de ressignificação. “Pavilhão de Espelhos”, por exemplo, que sempre fez parte de seus shows, transformou-se em um símbolo de reencontro depois da pandemia — mas também de maturidade e maternidade. Para Roberta, cada música ganha novos sentidos com o passar do tempo, ecoando experiências pessoais e coletivas.
Essa revisitação vem acompanhada de uma reflexão sobre a própria música no mundo digital. Se, por um lado, o streaming ampliou o alcance, por outro reduziu a experiência da coleção, dos encartes, das fichas técnicas, diz ela. “Eu sinto falta de ter esse espaço para publicar quem tocou, quem produziu, quais instrumentos foram usados. A música se expandiu em alcance, mas perdeu profundidade de contexto”.
Um dos pontos altos do show está no bloco dedicado às compositoras mulheres. Roberta reúne obras de diferentes gerações: Lavoura, de Teresa Cristina, Me Erra, escrita por Adriana Calcanhotto especialmente para ela, além de homenagens a Rosa Passos, e músicas de nomes da nova cena como Marina Íris, Manu da Cuíca, Dora Morelenbaum e Zé Ibarra. O recorte, que surgiu quase por acaso, acabou se tornando um manifesto artístico. “Os compositores homens são muito mais valorizados que as compositoras mulheres, sim”, reconhece a natalense.
Ao longo da carreira, Roberta acumulou parcerias transformadoras. Foi incentivada por Ney Matogrosso quando ainda era desconhecida, realizou o sonho de cantar ao lado de Chico Buarque, recebeu de Gilberto Gil um disco inteiro de canções e aprendeu lições de vida com Alcione. Cada encontro, afirma, foi determinante para o crescimento de sua trajetória. Agora, ao revisitar o passado, a artista também projeta o futuro. “Tô com saudade de entrar no estúdio e gravar um discão”, conta, confirmando que um álbum de inéditas está a caminho.
“Celebrar 20 anos de carreira, portanto, não é apenas marcar o tempo: é reafirmar uma forma de estar na música que privilegia o afeto, a escuta e a permanência. Tudo Que Cantei Sou chega como um espetáculo de celebração, memória e renovação”, diz Roberta, prometendo para este sábado um encontro em que não apenas canta sua história, mas compartilha com o público a própria essência do que significa ser artista.