Filme pernambucano 'Gravidade' mostra que o apocalipse individual é o mais intenso
Primeiro longa de Leo Tabosa, Gravidade estreia mundialmente no Cine Ceará, em Fortalea, com elenco feminino de quatro gerações
Aclamado com aplausos intensos, o thriller apocalíptico Gravidade, do cineasta caruaruense Leo Tabosa, abriu o 35º Cine Ceará, no histórico Cineteatro São Luiz, no centro de Fortaleza. A produção foi selecionada para a competitiva Mostra Ibero-Americana de Longas-Metragens e agora disputa o cobiçado Troféu Mucuripe com outros cinco filmes, cujo vencedor será anunciado na próxima sexta-feira. Com uma narrativa eletrizante que prende o fôlego, o filme é conduzido por um potente elenco feminino de diversas origens e trajetórias.
Adaptada de um texto teatral que nunca foi encenado, a trama acompanha Sydia (Clarisse Abujamra) e Nina (Hermila Guedes), mãe e filha que passam uma noite isoladas na antiga mansão da família. Enquanto enfrentam uma relação difícil, são surpreendidas com a chegada de uma desconhecida, Lara (Danny Barbosa), e com o retorno de Joana (Marcélia Cartaxo), uma funcionária da casa que havia sumido sem explicações e agora carrega notícias do mundo exterior que está à beira do colapso.
As quatro protagonistas se deparam não apenas com uma catástrofe global, mas também com antigas e novas ameaças ligadas a figuras masculinas que ainda as assombram. “É uma história sobre mulheres que confrontam seus medos, frustrações, ressentimentos e todo o histórico de abusos sofridos sistematicamente pelos homens”, explica Leo Tabosa sobre o seu primeiro longa, após uma carreira como realizador de curtas premiadíssimos.
A confiança do diretor em seu elenco é personificada em Hermila Guedes, com quem já havia trabalhado em Nova Iorque (2018) e Dinho (2023). Leo garantiu à conterrânea um lugar de destaque em sua estreia na direção de longas desde os primeiros esboços da personagem Nina. “Essa parceria é interessante porque nossa amizade me deixou muito mais à vontade para fazer o filme”, destaca a atriz.
Clarisse Abujamra, por sua vez, navegava em águas menos conhecidas. Em um elenco majoritariamente nordestino e com filmagens realizadas em Fortaleza, a atriz paulistana brinca ter se sentido uma “estrangeira”, admitindo que precisou de um tempo maior para encontrar seu espaço dentro do grupo. “Eu não conhecia o Leo e não sabia muito sobre as pessoas daqui (do Ceará)”, relembra. “Mas tive uma surpresa atrás da outra, e todas muito boas. Maravilhosas, eu diria”, celebra ela, que também brilhou em Como Nossos Pais (2017), de Laís Bodanzky.
Durante 90 minutos, somos levados pela jornada dessas mulheres que, em meio a desavenças e acordos, descobrem que a união é a única resposta possível a um mundo em ruínas, dentro e fora de casa. Para além dessa aliança ficcional, porém, o verdadeiro triunfo do filme é reunir quatro gerações de atrizes brasileiras com uma química visceral. E tem ainda a participação mais que especial de Helena Ignez, estrela de O Bandido da Luz Vermelha, A Mulher de Todos e Copacabana Mon Amour, clássicos absolutos do cinema brasileiro. Tudo isso sob a orquestragem madura de um estreante em longas que parece ter uma carreira inteira pela frente, resultando em um filme capaz de ressoar muito depois de a tela escurecer.