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Sucesso de Menos é Mais aproxima pagode de outros estilos: "O público é plural, não escuta só um ritmo"

Grupo brasiliense é o maior fenômeno do pagode atualmente e chega a capital pernambucana no próximo domingo (28), quando se apresenta no Festival Samba Recife.

Por Camila Estephania

O Menos é Mais é formado por Paulinho Félix, Duzão, Gustavo Goes e Ramon Alvarenga.

Na década de 1980, Brasília ganhou o título de Capital do Rock por conta da grande concentração de grupos da cidade dedicados ao gênero, como Legião Urbana e Capital Inicial. Essa vocação, entretanto, vem se transformando desde que o grupo brasiliense Menos é Mais se tornou o maior fenômeno do pagode do país, servindo de inspiração para que novas bandas do segmento surjam fora da cena tradicional do Rio de Janeiro.

No próximo domingo (28), o quarteto aterrissa na capital pernambucana para se apresentar no festival Samba Recife. Conhecido por estabelecer um diálogo entre o samba e diferentes estilos musicais, o grupo já estuda futuras parcerias com artistas da cidade. “Nós temos alguns nomes em mente, mas isso poderia ser um spoiler que não podemos soltar agora”, diz o vocalista Duzão, em entrevista ao Diario.

A cada novo lançamento, o quarteto quebra as barreiras do pagode e faz história dentro do segmento, seja pelas parcerias inusitadas ou pelos números alcançados. Neste ano, por exemplo, o pout-pourri dos clássicos “Melhor eu ir/Ligando os fatos/Sonho de Amor/Deixa eu te querer”, lançado em 2019, atingiu a marca de 1 bilhão de visualizações no Youtube. Um feito que, até então, só havia sido alcançado por artistas de funk e de sertanejo, chancelando de vez a volta do pagode à preferência nacional.

O Spotify também escancara essa realidade contando com três músicas autorais do Menos é Mais no top 10 da plataforma há semanas, mais uma conquista inédita para o estilo. São elas: “P do Pecado”, parceria com a sertaneja Simone Mendes, em primeiro lugar; “Pela Última Vez”, com o astro do forró Nattan, em quinto lugar; e “Coração Partido”, versão de “Corazón Partío”, do espanhol Alejandro Sanz, em sétimo.

“O público é plural, não escuta só um ritmo, então é legal quando os artistas se unem e entregam músicas únicas”, observa o percussionista Gustavo Goes. A estratégia parece funcionar não só para contemplar os interesses variados de apreciadores veteranos do pagode, como também para atrair as plateias de outros universos musicais.

Como consequência do sucesso até entre gregos e troianos, os brasilienses anunciaram mais uma edição do projeto “Churrasquinho”, cujo primeiro show será no dia 1º de novembro, em São Paulo. Os ingressos para a reestreia do trabalho esgotaram em menos de duas horas. Na entrevista abaixo, o quarteto fala um pouco sobre o momento positivo da carreira.

Leia a entrevista na íntegra:

A cena do samba e pagode costumava ser dominada tradicionalmente por nomes do Rio de Janeiro e São Paulo, o que vocês acham que contribuiu para que um grupo de Brasília seja hoje um dos nomes de maior sucesso no cenário? Qual foi o diferencial?

Gustava Goes: Sem dúvidas foi a força da internet. Nosso trabalho começou a alcançar mais pessoas no YouTube durante a pandemia, e acredito que a força da internet, somada a todo o nosso esforço, dedicação e assertividade na escolha das músicas foram o combo perfeito.

Artistas de diversos segmentos do Rio de Janeiro e de São Paulo já usavam o samba como referência. Por exemplo, artistas de rap, como Marcelo D2, Criolo e Emicida, já vinham misturando o gênero com outros estilos. Vocês acreditam que o Menos é Mais abriu a possibilidade do samba dialogar com novos ritmos mais populares em outras regiões do país?

Gustavo Goes: Foi um trabalho não só nosso, mas uma boa galera vinha testando essas misturas também. Acredito que a gente fez parte desse movimento e é muito bom ver que isso se tornou referência. O público é plural, não escuta só um ritmo, então é legal quando os artistas se unem e entregam músicas únicas.

Atualmente, o Menos é Mais tem dois sucessos no top 10 do Spotify que contam com participações de artistas nordestinos ligados ao universo do forró e do sertanejo. São os casos de Nattan (em “Pela Última Vez”) e Simone Mendes (em “P do Pecado”). Como surgiu a ideia de convidá-los para participar dessas músicas?

Duzão: A gente é fã tanto da Nattan quanto da Simone. Quando ouvimos uma música - e a gente ouve muitas guias até montar o repertório de um projeto - é como se as coisas simplesmente se encaixassem e a gente já queria mostrar essa brasilidade no MOLHO, então esses nomes surgiram naturalmente e fizemos os convites. Eles aceitaram, abraçaram o projeto e, graças a Deus, hoje são dois grandes sucessos.

Vocês têm interesse em fazer parceria com algum artista da cena musical pernambucana? Se sim, poderia nos dizer quem e por quê?

Duzão: Com certeza nós temos. Esse é um grande polo cultural com uma identidade única e que tem se destacado muito. Nós temos alguns nomes em mente, mas isso poderia ser um spoiler que não podemos soltar agora.

Recentemente, vocês se tornaram o primeiro grupo de pagode a atingir a marca de 1 bilhão de visualizações em um vídeo do Youtube (Melhor eu ir/Ligando os Fatos/Sonho de Amor/Deixa eu te querer). O que isso representa para vocês?

Duzão: Essa é a realização de um sonho que a gente nem sabia que tinha. Todos nós nos sentimos muito honrados por representar o segmento dessa forma tão especial, mostrando a força do pagode no Brasil.

Qual é a importância de fazer versões de outros sucessos para vocês? Seria uma forma de reverenciar o passado ao mesmo tempo que propõe algo novo no pagode?

Paulinho Félix: Foi assim que nós começamos e é uma forma de honrar o início da nossa trajetória e, também como você disse, reverenciar o que veio antes. Todos esses clássicos foram e continuam sendo relevantes para a construção da identidade musical do Brasil, e nós também somos o fruto disso.

Dentro das músicas que vocês já escolheram regravar, existem também as versões de músicas internacionais, como “Coração Partido” e “Um por cento”, que não eram um pagode originalmente. Acredita que essa iniciativa aproxima a linguagem do pagode de outros universos?

Paulinho Félix: Sem dúvidas. Há diversos países que já consomem nossas músicas, e não necessariamente por brasileiros. Acredito que essas regravações despertam também a curiosidade da galera pra ver como ficou o resultado.

Acreditam que o sucesso do Menos é Mais serve de exemplo para outros grupos fora do eixo Rio-SP se dediquem ao pagode? Já têm observado uma cena efervescente em outros estados?

Ramon Alvarenga: Quando a gente começou, falavam que um grupo de pagode de Brasília nunca teria tanto sucesso, e graças ao empenho de muitas pessoas, temos provado que isso não é verdade. Então, sim, espero que isso sirva de exemplo para que outras pessoas vejam que é possível.
A gente gosta de ficar de olho no que está surgindo ao redor do Brasil para continuar incentivando, e notamos que mais pessoas estão de permitindo tentar. Isso é muito legal.

O Samba Recife é considerado um dos maiores festivais de samba do Brasil, qual é a importância de subir neste palco em 2025?

Ramon Alvarenga: A gente fica muito feliz por, mais uma vez, receber o convite pra cantar nesse palco e se sente honrado justamente por esse festival ter tanto destaque e importância para o nosso segmento. É uma alegria imensa podermos fazer parte dessa história.